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• RICHARD RÍOS •

Lara tinha chegado no quarto com o rosto avermelhado e aparentemente com muita raiva, imagino que ela tenha brigado com a Yasmin, me lembro de quando éramos crianças que ela reclamava dessa prima pra mim.

Sempre dizia que a garota sempre provocava ela, fazia de tudo pra deixá-la com raiva, diminuí-la, ou tentar estragar algo da vida dela. Lara nunca me contou muito sobre o motivo, ela dizia que também não entendia esse ódio da prima dela, com o tempo ela parou de tentar entender e diversas vezes quando ela ia visitar a família por parte de mãe elas brigavam muito.

— Tá tudo bem? — questiono, e ela se joga na cama ao meu lado. Lara suspira e passa a mão no rosto aparentando estar bem estressada.

— Essa garota me irrita pra caralho... — seu tom de voz é firme, e ela morde o lábio inferior nervosa. — Não sei porque ela continua com esse jeito insuportável dela — fico atento só escutando.

Puxo Lara para meus braços em um abraço e ela se aconchega enquanto estamos deitados na cama, fico fazendo carinho por seus longos cabelos pretos e ela parecia estar se acalmando.

Quando o assunto envolve a Yasmin, ela fica com muita raiva e não consegue se controlar, me lembro de quando éramos adolescentes e estávamos fazendo uma chamada de vídeo quando ela estava visitando a família aqui no Brasil. Ela contava que tinha brigado com a prima pela milésima vez e acabaram se agredindo.

— Ela como sempre estava fazendo provocações idiotas — murmurou. — Aí ela disse que iria se mudar pra São Paulo daqui umas duas semanas e queria saber de um lugar pra morar, de resto nós discutimos e ficamos provocando uma a outra

— Relaxa, tá? Não liga pro que ela fala, só quer te irritar — sugiro.

— Sim... Mas é tão complicado — suspira. — Caramba, por que ela tem que sempre ser assim?!

— Não faço ideia... — dou de ombros. — Que tal a gente relembrar os velhos tempos? — Lara me olha parecendo estar curiosa e interessada na minha ideia.

— Como assim? — questiona, com um sorriso no rosto.

— Lembra de quando éramos crianças e ficávamos na borda da piscina da sua casa desenhando e conversando sobre qualquer coisa? — me lembro perfeitamente desses dias, era sempre tão divertido. Nós falávamos sobre tudo e também fazíamos competição de quem desenhava melhor, infelizmente ela sempre me vencia!

Os olhos de Lara brilham após ela ouvir a minha ideia e logo se levanta da cama, abrindo uma gaveta do quarto pegando cadernos, lápis e estojos.

— Vamos — ela puxa meu braço para eu sair da cama.

Fomos até a piscina que fica no quintal da casa de Verônica, nos sentamos na borda da piscina apenas molhando os pés e ela me entrega um caderno e abre um dos estojos com lápis deixando entre nós.

Lara sempre amou desenhar, ela estava concentrada enquanto criava algo no papel e eu só fazia rabiscos aleatórios, desenho nunca foi o meu forte. Antes dela se apaixonar por jornalismo ela queria ser pintora, desenhista, algo nessa área.

Fico admirando a morena fazendo alguma coisa no papel, diversas vezes apagando e desenhando de novo, o caderno está apoiado nas suas coxas e eu me aproximo tentando ver o que ela está fazendo.

— Por que desistiu de ser desenhista? — questiono. — Seus desenhos são muito bons! Você sempre me humilhava nas competições — começamos a rir.

— Verdade! Eu sempre era a melhor. O que achou? — mostra o desenho pra mim.

Lara sempre desenhava flores, plantas, algo envolvendo a natureza, ela dizia que sempre achou muito lindo. Admiro a linda flor que ela desenhou, é perfeita, os traços são incríveis.

— Que flor é essa? — pergunto, apontando pro desenho.

— São lírios. Não achei que ficou tão bom, faz um tempo que não desenho! — ela continua fazendo traços no papel.

— Eu achei que ficou perfeito. Por que não respondeu minha pergunta?

— Sobre ser desenhista? — confirmo com a cabeça, e ela suspira. — Sei lá... — desvia o olhar. — Achei que não iria render uma "carreira", ficou mais como um hobby, apenas!

— Por que você sempre desenhou... Coisas envolvendo a natureza? — nós nos conhecemos há muitos anos e eu nunca havia perguntado isso.

— Sempre achei lindo e interessante. Também lembram a minha vó, ela tinha um jardim lindo no quintal da casa dela, eu amava ir lá quando visitava ela

— Bom, minhas habilidades em desenho são péssimas — começo a rir.

— Talvez seja por isso que você teve que fazer recuperação de artes — ela ri também.

— Nossa, quando eu descobri eu mal acreditei! — continuamos rindo e relembrando desses momentos.

— Lembra do dia que nós estávamos fazendo a mesma coisa que estamos fazendo agora, e eu te empurrei na piscina?! — ela ri descontroladamente e deita no chão.

— Lembro sim, tá? — dei um leve empurrão nela. — Achei desnecessário!

— Você tava me irritando! Os pensamentos intrusivos falaram mais alto — dá de ombros.

— Eu tinha ficado com gripe por sua causa!

— Mas foi divertido ver você todo molhado de madrugada!

Depois de um tempo conversando e rindo atoa, voltamos pro quarto porque começou a ventar frio, lá ela guardou os materiais na gaveta e pegou uma pasta e veio até mim.

— Pedi pra minha mãe guardar isso — ela se sentou ao meu lado e começou a folhear a pasta. Ficamos olhando diversos desenhos enquanto ela contava a história de alguns deles.

— Esse aqui eu fiz depois de uma briga com a Yasmin. É um céu todo vermelho e preto, e com árvores queimando pra representar meu ódio... — ri levemente.

— Mas ficou muito bonito! — concorda com a cabeça.

O que nós somos? | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora