Depois que meu pai foi embora, o silêncio tomou conta entre mim e Jules. Nenhuma palavra foi trocada, e o ar parecia pesado, como se cada uma de nós estivesse mergulhada em pensamentos que não ousávamos compartilhar.Assim que chego em casa, suspiro aliviada ao ver que minha mãe não está. A última coisa que quero é contar a ela que meu pai está em Atlanta. Só de pensar em como ela reagiria, meu estômago revira. Se eu tenho medo dele, nem consigo imaginar o pânico que ela sentiria.
Subo as escadas apressada, desejando apenas me trancar no quarto e fingir que o mundo lá fora não existe. A lembrança do olhar frio de Pedro na palestra ainda me assombra. Ele sempre teve esse poder de me fazer sentir pequena, fraca. Sentada na cama, olho para o celular, considerando por um segundo mandar uma mensagem para minha vó ou até mesmo minha tia. Mas desisto. Elas não entenderiam.
Meu quarto, que antes era o único lugar onde me sentia segura, agora parece uma prisão.
Jules foi para a minha casa, embora relutante. Eu praticamente a obriguei a ir. Ela queria ficar comigo, mas a última coisa que eu precisava agora era de companhia. Precisava estar sozinha, em silêncio, tentando digerir o que tinha acabado de acontecer.
Enquanto me jogo na cama, as lembranças invadem minha mente, rápidas e dolorosas, como facas perfurando uma velha cicatriz.
**Flashback:**
— Pedro! Não encosta nela! — minha mãe grita desesperada, sua voz trêmula ecoando pela sala. Eu estava encolhida no canto, incapaz de me mover, enquanto meu pai se aproximava, a raiva fervendo nos olhos.
— O que foi, vadia? Vai fazer o quê? Ela precisa aprender a não me fazer passar vergonha! — ele grita, suas palavras cheias de veneno enquanto me agarra, levantando-me do chão com uma mão firme no meu pescoço. A parede fria contra minhas costas só intensificava o terror que sentia.
As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu não ousava gritar. Eu sabia que se o fizesse, só pioraria as coisas. O medo paralisava meu corpo, e eu rezava para aquilo acabar logo.
— Ela não fez nada! Foi você que deu a informação errada pra ela! — minha mãe tentava desesperadamente me defender, mas suas palavras apenas aumentavam a fúria dele.
Num instante, ele a larga e avança sobre ela. E eu? Eu só conseguia me encolher ainda mais, presa no meu próprio medo, incapaz de fazer qualquer coisa enquanto ela era empurrada. Queria correr, protegê-la, mas minhas pernas não respondiam. O medo tinha raízes profundas demais.
**Fim do flashback.**
De volta ao presente, sinto um peso esmagador no peito. O ar parece mais denso, e cada batida do meu coração ecoa no silêncio. Odeio o quanto essas memórias ainda me perseguem, como fantasmas de uma vida que eu nunca pedi para viver. Mais do que nunca, me sinto impotente, como aquela garota encolhida no canto da sala.
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𝐎 𝐂𝐀𝐎𝐒 𝐐𝐔𝐄 𝐒𝐎𝐌𝐎𝐒' Javon Walton
RomanceJavon Walton, um jovem talentoso e famoso, carrega consigo um peso invisível que poucos conseguem enxergar. Ele é reservado, confuso, e carrega no peito cicatrizes emocionais que o tornaram desconfiado e fechado para o mundo. Mesmo rodeado por luxo...