Por Uma Década

Prólogo

_Vou passar o final de semana estudando… Sim, essa prova é importante… Mas com certeza vou querer me divertir quando tudo acabar… Ah, ele vai junto sim…_Escuto Jéssica do outro lado da linha, quando Alex se senta ao meu lado, teria ele adivinhado que falava dele? Abaixo o telefone_ Estamos planejando uma saída quando as provas terminarem, nós vamos certo? 

_Vou aonde você for, meu amor. 

Eu sei, não era isso o que você esperava. No fim, eu casada com Alex, morando em um apartamento em Miami, fazendo mestrado de música na Frost School of Music.

Sendo bem sincera? Nem eu esperava. 

Mas, infelizmente, minha vida não é uma série da Disney chamada Violetta. 

Eu gostava da minha vida assim. Um casamento estável e sem filhos. Um financeiro ok. Um bom trabalho como cantora em grandes teatros e professora de música. Notas ótimas em uma boa faculdade. E claro, amizades legais. 

Tudo que meu pai queria pra mim. Nada a reclamar. 

Porém, quando sozinha pensava em minha vida. Como seria se… eu não tivesse ido embora? 

Já havia se passado uma década desde que eu fui embora de Buenos Aires. E as vezes eu sentia falta dos concertos, das turnês, das encrencas em que eu me metia, das festas no karaokê… 

Minha vida era ok, mas ok demais. Eu jamais sentirá com as pessoas daqui o que eu sentia com Francesca, Camila, Ludmila… 

Eu amava Alex mas sabia que meu coração tinha dono, e ninguém o fazia bater igual. 

León. 

Por onde andara? Será que havia casado também? Será que ainda morava em Buenos Aires? Talvez tenha voltado para o México…

Nunca mais nos falamos. Eu nem me despedi.

Às vezes, eu queria desbloqueá-lo das minhas redes sociais. Apenas. Sem chamar ou stalkear. Só para que talvez, por alguma coincidência do universo, ele me visse lá. Mas retomando a consciência, agora depois de uma década, depois de tudo, que sentido faria? E lá ficava ele, bloqueado, até minha próxima crise existencial silenciosa. 

Eu não era mais uma jovem de 20 e tantos anos para ficar vivendo essas aventuras amorosas. Eu já tinha 31 anos. Uma adulta tentando ser madura. 

Percebo que ainda estou ao telefone. Céus, o que Jess dissera? Eu não ouvi nenhuma palavra. Nem Alex estava ali mais. 

Eu gostava da minha vida. Era uma boa vida. Mas monótona demais. 

💜

No meu canto favorito da casa, o banco da janela, preparava minha próxima aula. Estava tão concentrada que me assustei quando meu celular vibrou, anunciando uma nova mensagem. Ignorei, pensando ser alguma das garotas querendo conversar. Mas desconcertada pelo susto, já não conseguia focar, e uma nova mensagem entrava, e mais uma, e mais uma. 

_Não quer descansar um pouco? Você está estudando direto. 

3 mensagens não lidas

Papai: Oi Violetta 

Desculpe mandar mensagem assim

Preciso falar com você, urgente. 

_Amor?

Papai: Não vou te ligar, sei que você não gosta, mas o assunto é sério. 

_Violetta? 

_Oi?_ Levo um estalo quando Alex me sacode levemente.

_Está tudo bem?

Engulo a seco e bloqueio a tela, embora o aparelho continue vibrando. 

_Sim. Vamos ver um filme. 

💜

Sinto uma onda de preocupação ao pensar na mensagem súbita de meu pai. Poucas vezes havíamos nos falado depois que fui embora. Em suas viagens, vinha me visitar com Angie. Eu nunca voltei a Buenos Aires. Nas últimas vezes que nos falamos, ele não estava muito bem. A idade estava chegando e com ela o cansaço. O que ele tinha para me falar de tão urgente? Eu imaginava.. 

Por uma década… 

Eu encarava a última mensagem enquanto sacudia a panela de pipoca, cuidando para não queimar o pano. “Me avise quando puder falar”. 

Alex estava distraído preparando o filme. 

Eu não podia deixá-lo ver as mensagens, precisava esperar o tempo certo. Ou talvez eu só não estava com coragem de ler o que eu sabia que ia ler. 

Por uma década…

Quando percebi que Alex estava focado no filme_e conhecendo, a casa podia cair que ele nem perceberia_ pego meu celular.

_Oi, papai.

Minha mão começa a suar assim que envio a mensagem. 

Por uma década, eu prometi que não voltaria.

_Filha, as coisas por aqui não estão fáceis. 

Por uma década, tudo havia mudado. 

_Estou doente, nada grave, mas preciso me aposentar. 

Por uma década, as feridas não haviam se curado. 

_Eu não queria ter que te pedir isso, e não posso te obrigar, mas eu preciso de você aqui. 

Por uma década, suas palavras ainda machucavam. 

_Sei que tem sua vida aí. Mas sua casa sente a sua falta. 

Por uma década, as lembranças ainda doíam. 

_Preciso que siga tocando a empresa no meu lugar…

Por uma década…

_Violetta, volta pra Buenos Aires…

…Eu já não era mais a mesma.