Capítulo 2

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Assim que senti o sol atravessar a janela, me levantei a base do ódio, me assegurando que o meu irmão continuava adormecido.

- Droga, esqueci de tirar o encadernador... - reclamei comigo mesma quando senti a familiar falta de ar no meu peito.

Fiz o básico, fui no banheiro, joguei água no rosto, penteei o cabelo (o que não fazia a mínima diferença já que ele é do mesmo tamanho do cabelo de um garoto do Pinterest), vesti o uniforme e calcei a bota, pegando meu material e me dirigindo a cozinha.

Nesse dia, eu tinha pelo menos um motivo para ficar feliz, era sexta-feira.

Toda sexta-feira, no bairro ao lado, tinha um grande jogo de basquete, onde a maioria do bairro estava lá para assistir. Era normalmente nesses jogos que meu talento se destacava, um dos meus únicos momentos de glória.

- Hoje eu vou foder com eles - falei enquanto montava meu pão com mortadela.

Não demorou nem 15 minutos antes que João aparecesse, mochila nas costas e cabelo arrumado.

- Bora, Alex, a gente vai perder o ônibus.

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Chegando na escola, acompanhei João enquanto ele falava alguma coisa relacionado à Blue Lock. Meus olhos na multidão enquanto eu procurava por Bia.

Nossas conversas se resumiam a meros sorrisos e cumprimentos de "bom dia", mas não me impedia de ainda gostar da gentileza dela.

Mesmo nunca tendo conversado, a gentileza era algo que brilhava na personalidade da Beatriz, os cachos que caiam sobre seus ombros sempre muito bem arrumados.

Depois de alguns momentos, eventualmente, a encontrei no meio da multidão do 9°C, conversando com um dos meninos, sua camisa pra dentro da calça daquele jeito estiloso.

- Ela passou maquiagem hoje - falei absolutamente do nada, arrancando uma reação confusa de João.

- Como é, Alex?
- Ela tá usando maquiagem, não é todo dia que isso acontece.

Provavelmente percebendo que estava sendo encarada, logo Bia olhou em minha direção, dando aquele sorriso meigo e acenando.

Acenei de volta, minha estrutura titânica sendo traída pela minha felicidade pela pequena atenção de uma garota.

- Cara, ela tá tão na sua - eu não posso dizer que meu amigo era tão inteligente quanto eu pensava.

Nos dirigimos a nossa sala, deixando minha mochila sobre a minha carteira enquanto João imaginava um milhão de cenários de mim e da Bia em sua cabeça.

- Você vai no jogo hoje? - interrompi seus pensamentos, mudando o assunto para algo que eu realmente me garantia.

- Claro que vou, quero ver você massacrar eles.
- Então se prepara, minha mãe falou pra levar o Henrique também - me sentei na carteira, bebendo um pouco de água.
- Sem problemas, eu cuido dele.

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Depois de três horários de aulas irritantes seguidas, finalmente veio o recreio, eu saí da sala que nem um trovão quando o sinal tocou.

- Pera aí! - gritou o pobre garoto atrás de mim.

De longe, avistei Bia (retornando novamente a ela, sou a última romântica no mundo) sentada no escadão, me aproximei dela, dessa vez toda a vergonha na cara fugiu do meu corpo.

- Bia! - me aproximei dela e das amigas, me ajoelhando para não parecer tão ameaçadora - Quer vir no meu jogo hoje?

A mesma olhava para mim com um olhar surpreso, mas eu podia jurar que vi uma leve vermelhidão lá.

- Eh...claro. - meu Deus, eu tô interagindo com um ser feminino.

Dei o básico sorriso de anime, normalmente aquele sorriso do personagem solzinho, tipo o Luffy, o Asta, o Naruto, o Hinata...

- Beleza então! - praticamente saí correndo, a mesma energia de três seres humanos juntos. Agora que eu tinha a confirmação dela, os 50 reais nem pareciam tanta coisa comparado a presença dela.

Agora que minha vitória tava garantida mesmo.

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Se passou o resto das aulas, estudei (o mínimo), comi escondido no meio da aula, fofoquei com o João, fiz estratégias para impressionar a Bia no jogo e tals.

No momento que o sinal tocou, eu disparei pela porta, deixando para trás um muleque baixo e irritado atrás de mim.

Clássico, chega em casa, abraça o Henrique e o Abraão, toma banho, veste roupa e dispara para o quarto do João.

Ele não ficou nem um pouco surpreso quando apareci lá com os nervos à flor da pele.

- Tá bom, tá bom. Eu já entendi. Você vai foder com eles para impressionar a Beatriz--
- Como você acha? De costas? Eu adoro pular também. Mas a cesta de três pontos de costas impressiona mais...

Ele suspirou e pegou o celular.

- De costas? Tem certeza? É bem grande a chance de você passar vergonha...
- Não importa de onde eu jogue, Jão, eu vou acertar. É quase uma maldição - passei uma mão no cabelo, concertando minha postura.

- Ih, desde quando você tá tão arrogante? - ele revirou os olhos, obviamente acostumado com meu lado mais "girafa calma" e não com o lado "titã raivoso".

- Eu não tô arrogante! É que tem muita coisa em jogo aqui...
- É só um jogo! E me diz qual foi a última vez que você perdeu?

Olhando por esse lado, ele tinha razão, eu nunca perdi um jogo na vida.

- Mas de qualquer jeito, eu vou impressionar ela - disse com determinação, pulando da cama e me dirigindo à minha própria casa.

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Chegando na quadra pública, eu pude sentir tudo, o cheiro de madeira molhada, os olhares dos jogadores e do público, a pressão da bola quicando no chão.

- E aí? - ouvi a voz de Luciano quando entrei na quadra, seu cabelo platinado quase refletindo a luz do poste - Como vai nossa jogadora favorita? Aliás, tu tá no meu time, campeã.

- Como assim? - logo nossa atenção por tomada por Ronaldo, seus gigantes braços cruzados em frente de seu peito - A Alex fica no meu time dessa vez.

Ri em relação à disputa, literalmente dois adultos brigando pela participação de uma garota de 14 anos.

- Ah, é? Vamos decidir do jeito clássico então - disse Luciano.

Apenas assisti enquanto os dois disputavam no pedra, papel e tesoura, rindo durante todo o processo. No fim, Luciano ganhou, abraçando um de seus braços envolta do meu ombro.

Pude ver ao longe João na arquibancada, meu irmão sobre seus ombros enquanto ele gritava com toda seu fôlego em felicidade.

Ainda não conseguia avistar Bia, mas tinha fé que ela apareceria eventualmente.

- Vamos começar? - perguntei para os dois, reunindo o resto do time.




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