Capítulo 10: chalé

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Capítulo 10: chalé

Logo após a intensa conversa com Chloe, Red finalmente conseguiu se deitar. No entanto, a sensação de peso em seu peito não a abandonava. O cansaço dominava seu corpo, mas, mesmo enquanto seus olhos se fechavam, ela sabia que a paz seria um luxo inalcançável naquela noite. Mal adormeceu, e os pesadelos começaram.

Red se via em meio ao caos. Seus poderes, os que ela jurou dominar e controlar, escapavam de suas mãos como um rio furioso. Ela gritava, tentando agarrar o controle, mas a magia parecia possuir vida própria, como se estivesse destinada a destruir tudo à sua volta. A sensação de perder o controle, de não ser capaz de conter sua própria força, a deixou em pânico.

Ela acordou com um sobressalto, o corpo encharcado de suor e o coração disparado. "Droga!" praguejou para si mesma, passando a mão pelos cabelos encharcados. "Nem nos meus próprios sonhos eu tenho paz..." Sua respiração estava pesada, cada inspiração parecia insuficiente, e a sensação de opressão a consumia. Virou-se na cama, observando Chloe dormindo tranquilamente ao seu lado. Parte dela queria ficar ali, aninhada na calmaria que Chloe proporcionava, mas outra parte, mais inquieta e sombria, a impulsionava a sair daquele quarto.

Sem pensar muito, Red se levantou e caminhou até o jardim da mansão, em busca de ar fresco e de qualquer coisa que acalmasse o tumulto dentro dela. Mas, assim que colocou os pés no lado de fora, algo incomum chamou sua atenção. Seus olhos, sempre atentos, foram atraídos para um ponto específico na escuridão. Havia algo ali, algo... errado. Sentia-se puxada, como se uma força invisível a estivesse chamando, implorando por sua atenção.

"O que é isso...?" murmurou, os olhos fixos na escuridão. A sensação era tão forte que seu corpo parecia agir sozinho, caminhando em direção àquilo que chamava seu nome sem emitir som algum.

Então, de repente, um movimento à sua frente a fez parar bruscamente. Um pássaro caiu morto no chão, do nada. Red deu um passo para trás, o instinto de alfa imediatamente se manifestando, colocando-a em estado de alerta. Seus olhos lupinos analisaram cada detalhe ao seu redor, buscando qualquer sinal de perigo. "Isso não é um bom presságio..." pensou, o corpo tenso.

Mas, por mais que quisesse, não conseguia ignorar a sensação que a puxava para adiante. Red avançou com cautela, os passos medidos, até que avistou algo que a deixou ainda mais perplexa: um chalé. Pequeno, velho, sujo e visivelmente abandonado. "Como é possível?" questionou-se, franzindo o cenho. Ela conhecia cada canto da propriedade, e nunca havia visto aquele chalé antes. "Eu raramente venho para esse lado, mas isso..."

Cada fibra do seu ser gritava para que ela recuasse, que fosse embora e voltasse para a segurança de Chloe e da mansão. Mas havia algo mais forte que sua razão a empurrando para frente. Ela respirou fundo, ignorando o frio que percorria sua espinha, e tocou a maçaneta. Assim que fez isso, um arrepio gelado subiu por seu braço, mas ela não recuou. Empurrou a porta e, ao atravessá-la, sentiu o ar ao seu redor mudar drasticamente.

O interior do chalé não fazia sentido. O espaço dentro era vasto, como se tivesse entrado em uma mansão. O quintal, que ela não podia ver do lado de fora, agora se estendia à sua frente, coberto por uma névoa densa e espessa. O ambiente era sufocante, sombrio, quase irreal. "Isso não pode ser possível", pensou, dando alguns passos adiante, os olhos sempre atentos.

Enquanto avançava, algo na névoa se mexeu. Red sentiu sua respiração parar por um momento, e então a viu. Uma figura feminina, envolta pela escuridão, imponente e ameaçadora. Não precisou de muito para reconhecê-la.

Agnes. Sua bisavó.

Red congelou, o sangue correndo rápido pelas veias. "Isso... não pode ser real", sussurrou, seus olhos fixos na figura, enquanto uma mistura de medo e raiva crescia dentro dela. "Eu não posso estar sonhando."

Agnes, no entanto, parecia tão real quanto Red jamais a tinha visto antes. Não era uma visão passageira, nem uma ilusão da mente. Ela estava ali. Presente. Real.

"Finalmente, você veio," a voz de Agnes soou forte e imponente, cortando o silêncio. "Eu estava esperando."

Red apertou os punhos, tentando manter o controle de sua postura. "O que você quer de mim?" Sua voz carregava um tom de desafio, mas por dentro ela sentia o peso da presença da bisavó.

"Você já sabe," respondeu Agnes, um sorriso gélido se formando em seus lábios. "O poder em você está despertando. Não há mais como fugir."

"Eu não sou como você", Red rebateu, dando um passo à frente. "Eu não sou uma bruxa sombria. Sou uma alfa. Minha força vem da minha matilha, do que construí."

"Ah, Red," Agnes riu, a frieza em sua voz penetrante. "Você é muito mais que uma alfa. A magia corre em suas veias, se alimentando de suas emoções. Quanto mais você tenta ignorá-la, mais ela se fortalece."

"Eu vou controlar isso," Red afirmou, sua voz cheia de determinação. "Eu vou proteger Chloe. Vou proteger a matilha."

"Proteger?" A risada de Agnes ecoou como um trovão. "Você mal consegue proteger a si mesma. A magia que corre em você é sombria, antiga... e, se continuar lutando contra ela, irá consumi-la. E, no processo, você pode destruir tudo e todos que ama."

Uma dor aguda atravessou o corpo de Red, arrancando um grito de seus lábios. Era como se algo estivesse queimando-a de dentro para fora. Ela caiu de joelhos, seu corpo tremendo enquanto a magia tentava emergir com uma força brutal. Agnes a observava, impassível, seus olhos brilhando com satisfação.

"Está vendo?" sussurrou Agnes, se inclinando sobre Red. "Essa é a verdadeira força que você tenta suprimir. Você não pode fugir dela. A única saída... é se entregar."

A dor aumentou, e Red sentiu seus ossos estremecerem, a transformação lupina se misturando com a magia em um turbilhão caótico. Flashes de Chloe, de sua matilha, de tudo o que ela se importava, passavam por sua mente... até que, de repente, tudo ficou negro.

Quando seus olhos se abriram novamente, Red estava em pé, cercada por destroços. Tudo ao seu redor estava destruído: paredes rachadas, móveis em pedaços, o chão queimado. O poder que ela tentou conter havia sido liberado, e com ele, o caos.

Ela olhou para suas mãos e, com horror, viu que estavam cobertas de sangue. Não dela, mas de outra pessoa. Chloe. Deitada no chão, inerte.

"Não!" Red correu até ela, o desespero apertando seu peito. "Chloe! Não! O que eu fiz?!"

Agnes observava, um sorriso frio em seus lábios. "Foi você, querida. Olhe suas mãos."

Antes que Red pudesse atacar, sentiu uma força puxando-a, sugando-a de volta. Ela fechou os olhos, e, quando os abriu novamente, estava de volta à sua cama, Chloe ainda dormindo ao seu lado.

Ela se inclinou sobre Chloe, verificando-a freneticamente. Sem ferimentos. Chloe estava bem. Red sentiu o alívio, mas as lágrimas caíam de seus olhos.

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Continua...

2temp. Coração de Alfa, Poderes de uma "Ômega" (choed glassheartOnde histórias criam vida. Descubra agora