Quando pensava em andar nas nuvens, não imaginava que seriam tão geladas.
Mas ainda assim, aquela sensação era boa.
O dia cinza.
Não, não era o céu cinza. Era tudo cinza. Tudo como se estivesse realmente dentro de uma nebulosa e o seu “lindo balão azul” era um trottinette électrique 🛴 que já dava a mesma emoção, talvez, daqueles motoqueiros de cara fechada, aquele mesmo vento no rosto, outra vez, gelado, oferecia o total de dopamina necessário para mais um dia. “Mas e o lanche da menina?” Esqueceu. “Mas a menina é grande. Ela pode fazer”. “Mas nem disse tchau”. “Vai voltar lá?” “Não. Não dá tempo.” “E o marido preocupado, o que será que houve?” “Contas Nágila! A preocupação de todo brasileiro, dentro ou fora do Brasil que não esteja roubando ninguém.”
“Ah! O Brasil! Será que tá tudo cinza lá tbm?” “Sim, deve estar, mas é a fumaça. Bem parecida com a nebulosa que te leva à estação.” “Mas aqui ainda dá pra respirar!”
-Alívio-
Era um diálogo sério com sua mente inquieta enquanto o mundo todo acordava naquele dia sem sol, amanhecendo dentro das nuvens.
Mas olha só se não é aquele ônibus amarelo que vem aí, é ele, é ele só … Aquele que muitas vezes não fazia questão de aparecer e que fazia com que se atrasasse. Hj estava ali, todo animadinho, sem passageiros, pq ninguém mais confiava nele. Pensou em passar dele! Os poucos carros na rua davam vantagens. E a possibilidade de andar pelas largas calçadas, tbm. Apertou o botão como se ele pudesse fazê-la passar de 22km/h e deu se de tudo.
Conseguiu passar do ônibus amarelo que, muitas vezes, a deixara pra trás (“a deixara? Aí dento! Para com isso.”) Tinha deixado.
Ah! A música! Como podia ter esquecido de falar da música que fazia toda a trilha sonora daquele momento?
“Hey Hey… But you better not kill the groove” 🎶
Aproveitava cada vento gelado, cada tremor da calçada em seus pés, cada nota do pop em seu fone, cada um dos milhares de pensamentos que disputavam a atenção.
Chegou! Chegou na hora certa! Não precisava correr. (Dessa vez)
Ligava então pra marido pra dizer que dessa vez venceu o relógio e só passaram 9min desse turbilhão de emoções.
O trem chegou no momento em que desceu a escada rolante. E dessa vez, não partiu sozinho.
Ela venceu! Abria mais um sorriso largo com aquela sensação de medalha de ouro nas paralimpiadas.
Venceu! Mesmo amanhecendo dentro das nuvens.