A princesa Asha caminhava pelos vastos corredores do majestoso castelo, com o tecido de seu vestido esvoaçando suavemente a cada passo, contrastando com o piso de mármore branco. Seus passos, apesar de delicados, eram ouvidos pelos criados que cruzavam seu caminho, e, como de costume, eles se curvavam em silêncio, expressando sua reverência. Asha não conseguia evitar, mas sentia o peso constante de sua posição, um lembrete inescapável de sua nobreza. Seus olhos, entretanto, estavam focados em seu destino: a cozinha, mais especificamente, a padaria, o refúgio onde ela podia ser apenas Asha, longe das formalidades do trono.
Chegando diante da porta de madeira escura, já familiar, ela bateu algumas vezes, cada batida acompanhada de uma onda crescente de ansiedade que ela se esforçava para conter. Asha aguardava, torcendo para que seus pais não estivessem por ali. Felizmente, sabia que o rei e a rainha raramente se aventuravam nas áreas dos funcionários, a não ser que fosse absolutamente necessário. Era um lugar seguro, onde ela podia relaxar, ao menos por algum tempo.
A porta rangeu levemente ao abrir, revelando uma jovem vestida com um avental vermelho, em nítido contraste com os uniformes brancos dos outros criados. Seus óculos finos realçavam a suavidade de seu olhar caloroso, e o cabelo curto, preso de forma prática para o trabalho na cozinha, completava sua imagem de alguém que não só amava seu ofício, mas também o dominava com confiança.
— Boa tarde, Asha — saudou Dahlia com um sorriso acolhedor. — Entre! — disse, fazendo um gesto convidativo que imediatamente trouxe um alívio discreto à princesa.
— Olá, Dahlia — respondeu Asha, a voz baixa, mas com um leve sorriso de satisfação. Estar ali, longe do olhar constante da corte, sempre a fazia sentir-se mais à vontade.
Dahlia a conduziu para dentro da padaria, um espaço aconchegante preenchido pelo aroma reconfortante de pães recém-assados e doces que perfumavam o ar. O calor do forno contrastava agradavelmente com a brisa fria que entrava pelas janelas abertas. As duas se conheciam há anos, desde quando Dahlia ainda era uma aprendiz do padeiro real. Asha a havia encontrado por acaso, em uma tarde qualquer, fascinada pelo cheiro irresistível que vinha da cozinha. Era um cheiro de aconchego, de simplicidade, algo que Asha ansiava em meio à complexidade de sua vida de princesa.
Dahlia sempre teve uma paixão natural por confeitaria, e sua habilidade rapidamente a elevou na hierarquia da cozinha, fazendo com que ela superasse seu mentor e se tornasse a padeira oficial do castelo. A conexão entre as duas jovens era, no entanto, improvável. Enquanto Asha era reservada, preferindo o silêncio e a introspecção, Dahlia era falante, uma energia vibrante que iluminava qualquer ambiente. Juntas, formavam uma dupla única, como o sol e a lua, complementando-se de maneiras que ambas jamais poderiam prever.
— Você gostaria de um biscoito? — perguntou Dahlia, já abrindo o forno com movimentos hábeis. O calor escapou, trazendo consigo o aroma doce de biscoitos recém-assados, cobertos com uma fina camada de amêndoas caramelizadas.
Os olhos de Asha brilharam de antecipação enquanto ela assentia, quase incapaz de esconder seu entusiasmo.
— Delicioso, como sempre, — murmurou a princesa, saboreando o biscoito com uma expressão de prazer enquanto seus lábios se curvavam em um sorriso tímido.
Dahlia inclinou a cabeça, satisfeita, enquanto se apoiava levemente em sua muleta, que mantinha perto do forno para facilitar seus movimentos.
— Fico feliz que tenha gostado! Preciso fazer mais algumas centenas para amanhã. — ela comentou com um sorriso travesso, enquanto olhava para Asha. — Você se importaria de me dar uma mãozinha?
Asha, sem hesitar, posicionou-se ao lado de Dahlia, pronta para ajudar. As duas caíram em um ritmo confortável, a princesa enrolando delicadamente a massa enquanto Dahlia tirava fornadas de biscoitos dourados e cantava baixinho uma melodia antiga, uma canção familiar que Asha já ouvira muitas vezes. Certa vez, a princesa perguntara sobre a origem da música, e Dahlia lhe contara que era uma composição de Sabino, seu avô, escrita muito antes de ele se mudar com a família para o reino de Rosas.