Real: Keng Chul

Capítulo 1

Havia algo de especial em caminhar sozinha pelas ruas de Seul após mais um dia de trabalho. O crepúsculo tingia os prédios e carros com um brilho dourado, criando uma atmosfera que, por alguns instantes, me fazia esquecer a rotina cansativa de uma detetive particular. Eu estava prestes a pegar meu celular na bolsa quando uma voz conhecida me fez parar no meio do caminho.

- Seo Hye-rin! - A voz veio profunda, clara, reverberando direto para o meu coração.

Meus dedos paralisaram sobre a bolsa, o mundo ao meu redor se apagou em um borrão. Não havia como não reconhecer aquela voz, mesmo depois de tantos anos.

Eu me virei devagar, como se estivesse sonhando. Ele estava lá, encostado casualmente em um carro de luxo. Kang Chul. O mesmo Kang Chul que eu  não via há anos, mas cuja presença ainda fazia meu coração disparar como na adolescência. Ele estava tão charmoso quanto eu me lembrava – se não mais. O terno impecável que usava realçava a silhueta elegante, e o sorriso... Ah, aquele sorriso inconfundível, capaz de derreter até mesmo o coração mais frio.

Meu estômago revirou. Por mais que eu tivesse tentado apagar qualquer sentimento por ele, simplesmente não conseguia. Kang Chul era uma tempestade que havia marcado minha vida desde a infância, uma mistura de fascínio, admiração e uma paixão que sempre fiz questão de esconder. Mas agora, aqui estava ele, parado na minha frente como se nada tivesse mudado.

- Quer uma carona? - Ele perguntou, os olhos cintilando como sempre, aquele sorriso sacana estendendo-se por seus lábios. Ele acenou casualmente, como se esse reencontro fosse um hábito, um costume.

Eu levei um segundo para assimilar. “O que...?” Consegui murmurar enquanto caminhava até ele. Cada passo fazia meu coração martelar mais forte no peito.
Ele inclinou a cabeça, o olhar travesso fixo em mim.

- O que foi? Já esqueceu de mim? - Ele provocou, com aquele tom despreocupado que me fazia perder o equilíbrio.

Antes que eu pudesse responder, ele abriu os braços como se esperasse algo, e meu corpo se moveu sozinho, como se algo maior do que eu me empurrasse para frente. Eu o abracei, e ele me envolveu com força, como se os anos que passaram separados não tivessem sido nada. Tudo ao meu redor desapareceu por um momento – havia apenas o calor do abraço dele e o cheiro sutil do perfume que eu lembrava tão bem.

- Eu nunca poderia esquecer de você. - murmurei, enterrando a cabeça em seu ombro por um instante, tentando acalmar a tempestade de sentimentos que ameaçava me engolir.

-Ah, que bom.- Ele respondeu com um sorriso quando finalmente nos separamos. - Porque eu tenho uma surpresa para você. Do-Yoon está esperando por nós no café.

Meu irmão. É claro. Uma mistura de alegria e nervosismo tomou conta de mim. Eu não via Do-Yoon fazia um bom tempo também, e a ideia de revê-lo me trouxe um alívio doce.

Kang Chul abriu a porta do carro para mim, e eu entrei, ainda processando a rapidez com que tudo estava acontecendo. O trajeto até o café foi preenchido por uma conversa casual, como se quiséssemos ignorar a verdade mais profunda e complexa entre nós. Mas havia algo nos olhos de Kang Chul que me dizia que ele tinha mais para revelar.

No café, ao entrarmos, avistei meu irmão e, ao lado dele, Yoon So-hee. Minha melhor amiga, secretária de Kang Chul e, apesar de ela nunca admitir, apaixonada por ele. Eu sentia um nó se formar no estômago. Inveja? Talvez, mas eu precisava engolir isso por enquanto. Quando nos aproximamos, eles se levantaram e, sorrindo, fui ao encontro de Do-Yoon, abraçando-o apertado.

- Como você está, Hye-rin? - Ele perguntou, com aquela voz tranquila e familiar.

- Melhor agora que estou vendo você. - brinquei, virando-me para abraçar So-hee.