Real: Keng Chul

Capítulo 2

Levantei da cama com o som do despertador ecoando na cabeça. Não tinha pregado o olho a noite toda, mas curiosamente, o cansaço não me atingia. Havia algo de diferente naquela manhã — talvez a energia que o caso misterioso trouxe, ou o simples fato de que Kang Chul estava de volta à minha vida. Passei a mão pelo rosto, espantando os pensamentos dispersos, e me direcionei ao banheiro para minha rotina matinal. Água fria no rosto, escova de dentes na mão, minha mente já calculava o dia que teria pela frente.Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo firme. Sempre fazia isso quando sabia que o dia seria corrido. Havia algo simbólico naquele gesto, como se cada fio preso fosse um lembrete de que eu precisava de foco total. Encarei meu reflexo no espelho por alguns segundos, respirando fundo. A sensação estranha de que algo grande estava prestes a acontecer pesava no ar.

Após um café simples e rápido, corri para o meu escritório, que ficava a poucos passos de distância dentro do meu próprio apartamento. O lugar era pequeno, mas funcional. Me sentei à mesa, abri o notebook e imediatamente vi o e-mail de Kang Chul. Ele havia me enviado as fotos das cartas. Ameaças tremulas, com caligrafia irregular. Algo naquela escrita me causava arrepios.Enviei as fotos ao meu colega grafólogo. Confiança é algo essencial nessa profissão, e eu sabia que ele poderia me dar respostas rápidas. "Vou analisar agora mesmo", ele respondeu de imediato. Não podia deixar de sentir um alívio com sua agilidade, mas mal tive tempo de processar quando o som do interfone me puxou de volta à realidade.Corri para atender. So-hee, indicava o visor. Pressionei o botão para liberar sua entrada e, alguns minutos depois, ouvi o som suave de batidas na porta.

- Oi, Hye-rin. - Disse ela, entrando com um sorriso. 

Eu a cumprimentei rapidamente, mas não houve troca de gentilezas longas. So-hee foi direta, sem rodeios, como sempre. 

- O que o Kang Chul queria com você ontem?

Fiz meu melhor para parecer casual, me inclinando levemente na cadeira, os braços cruzados.

- Ah, nada demais. Só queria relembrar os velhos tempos.

So-hee me encarou, incrédula. 

- Você me acha burra? Está na cara que ele me dispensou na noite passada por algum motivo, e sabe o que mais? Ele mal dormiu. Passou a noite inteira agarrado na arma. O que está acontecendo, Hye-rin?

Meus olhos se estreitaram ao ouvir aquilo. 

- Ele... estava com a arma? - Perguntei, sem esconder minha surpresa.

- Claro que estava! Você sabe como ele fica quando algo o incomoda. E, ontem, depois que ele te viu, ele começou a agir estranho.

Meu coração acelerou, mas me esforcei para manter a postura. 

- So-hee, eu realmente não sei o que você quer dizer. Talvez ele só estivesse cansado... ou pensativo.

Ela me encarou por um segundo mais longo do que o normal, claramente frustrada com a minha falta de colaboração. 

- Eu sei que tem algo acontecendo, e isso está me deixando preocupada. Só quero garantir que Kang Chul esteja bem.

Eu forcei um sorriso reconfortante. 

- Está tudo bem, So-hee. Eu prometo. Você sabe que ele se abre quando é necessário.

- Ele pediu pra eu buscar um documento importante hoje. Algo relacionado ao negócio da empresa dele. - Ela suspirou, esfregando a têmpora. - Mas eu vou ficar de olho. Só me avise se algo... estranho acontecer, tá bem?