5-) O Preço da Verdade

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Após derrotar a Sombra Abissal, o peso da exaustão se instalou em meus músculos, mas a adrenalina ainda me mantinha de pé. O vilarejo à distância parecia mais próximo a cada passo. Meus pensamentos oscilavam entre a batalha recente e o que me esperava adiante. Eu não tinha ideia de como aquele povo reagiria a mim. Afinal, eu não era apenas um forasteiro... Eu era um demônio.

Caminhando lentamente pela estrada de terra, as árvores se tornavam menos densas, e o ambiente sombrio da floresta dava lugar a um campo aberto. Ao longe, as luzes das chamas das tochas do vilarejo brilhavam suavemente, uma visão reconfortante, mas também carregada de incertezas. "Como eu explico quem sou? Devo esconder minha verdadeira natureza?" pensava, enquanto minhas asas demoníacas ainda estavam recolhidas, mas a sombra de minha linhagem continuava pesando sobre mim.

O silêncio da noite era interrompido por sons distantes de vozes. Finalmente, eu estava perto o suficiente para ouvir as pessoas conversando. A entrada do vilarejo era simples: uma cerca de madeira baixa, com dois guardas parados ao lado de uma fogueira. Eles vestiam armaduras de couro gastas e carregavam lanças de madeira que, em qualquer outro cenário, pareceriam pouco ameaçadoras. Mas, depois de enfrentar um monstro sombrio, até a arma mais simples poderia parecer mortal.

Respirei fundo e continuei me aproximando. Um dos guardas me avistou primeiro e estreitou os olhos, visivelmente desconfiado. Eu podia sentir seu olhar me estudando, enquanto ele se preparava para reagir a qualquer sinal de perigo.

"Pare aí!", o guarda gritou, erguendo a lança na minha direção. Sua voz não era particularmente ameaçadora, mas deixava claro que ele estava nervoso. "Quem é você? E de onde vem?"

Parei imediatamente, levantando as mãos em um gesto de rendição. "Sou apenas um viajante", respondi, mantendo minha voz firme, mas não ameaçadora. "Acabei de sobreviver a um ataque de um monstro na floresta. Preciso de abrigo e... talvez de um curandeiro."

Os guardas trocaram olhares. O outro homem, mais velho, deu um passo à frente, ainda com a lança em mãos. "Você foi atacado por um monstro e sobreviveu? E está aqui sozinho? Quem exatamente é você?"

Eu poderia ver a desconfiança em seus olhos. Eles não acreditariam facilmente em qualquer coisa que eu dissesse. Então, decidi manter a verdade escondida, pelo menos por enquanto. Mostrar minhas asas e revelar minha verdadeira natureza poderia causar pânico desnecessário. "Meu nome é Daisuke", menti, omiti o fato de ser o Rei Demônio. "Sou apenas um viajante. Tive sorte de sobreviver."

O guarda mais velho coçou a barba, ainda me observando com olhos atentos. "Muito bem, Daisuke. Vamos levar você até o curandeiro, mas saiba que estaremos de olho em você. Qualquer comportamento suspeito e... Bem, você entenderá."

Balancei a cabeça em sinal de concordância. Não estava em posição de discutir.

Eles me conduziram até o centro do vilarejo. Era um lugar pequeno, talvez com vinte ou trinta casas de madeira, dispostas em um semicírculo ao redor de uma praça central. No centro da praça havia um poço, e algumas poucas pessoas ainda circulavam, apressadas em terminar seus afazeres antes que a noite caísse por completo. As chamas das tochas oscilavam com o vento noturno, lançando sombras dançantes nas paredes das casas.

Enquanto andávamos, notei que os moradores me olhavam com curiosidade. Murmúrios se espalhavam conforme eu passava, e os olhares de desconfiança eram evidentes. Eu podia sentir seus olhares pesando sobre mim. "Eles podem não saber o que eu sou, mas certamente sabem que sou diferente", pensei, tentando manter a calma.

Finalmente, paramos em frente a uma pequena casa com uma placa de madeira simples, com o símbolo de uma erva medicinal esculpido nela. Um dos guardas bateu à porta. "Mestre Akio, temos um forasteiro ferido. Ele precisa de seus cuidados."

A porta rangeu ao se abrir, revelando um homem baixo e idoso, com uma longa barba branca. Ele olhou para mim por um momento, seus olhos curiosos, mas não fez perguntas. Apenas acenou para que eu entrasse.

A casa de Akio era pequena e simples, cheia de ervas secando em cordas penduradas no teto. O cheiro forte de plantas medicinais encheu meus pulmões enquanto eu me sentava em uma cadeira de madeira. O curandeiro começou a examinar meus ferimentos com cuidado, passando unguentos e bandagens sobre os cortes.

"Você tem sorte de estar vivo", disse ele calmamente, enquanto trabalhava. "A floresta não é gentil com os despreparados."

Balancei a cabeça. "Sim, foi... uma batalha difícil."

O silêncio caiu entre nós enquanto ele terminava o tratamento. Quando finalmente acabou, Akio me deu um olhar profundo. "Você carrega algo pesado em si, jovem. Posso sentir. Não apenas nas suas feridas, mas na sua aura."

Senti meu coração acelerar. "Será que ele percebeu...?"

"Não vou perguntar o que é, nem como você chegou a este estado. Mas cuidado. O mundo reage ao que somos, não ao que fingimos ser. Mantenha isso em mente." Suas palavras pesavam tanto quanto qualquer arma.

Agradeci com um aceno e me levantei, pronto para sair. Quando abri a porta para deixar a casa, o vilarejo estava mais silencioso, a escuridão da noite total finalmente envolvendo o lugar. Com um último olhar para o curandeiro, saí, ainda refletindo sobre suas palavras.

Eu estava começando a entender que esconder minha verdadeira natureza não seria tão simples. E, no fundo, sabia que, cedo ou tarde, teria que enfrentar a realidade de ser o Rei Demônio... e tudo o que isso implicava.

FIM DO CAPÍTULO

Evolução do Rei Demônio <Vol.1 Fim>Onde histórias criam vida. Descubra agora