Entre Clãs | YK

cap. 03

Jeongguk corria pela floresta com a matilha, o som de seus passos sincronizados ecoava ao redor. A caçada deveria ser sua única preocupação naquele momento, mas seus pensamentos estavam longe, distraídos por algo que ele não conseguia ignorar, por mais que tentasse. Ele afastava os galhos e saltava sobre troncos caídos com a facilidade de um alfa treinado, mas sua mente estava presa em Yoongi, e sua breve conversa.

Era frustrante. Desde que soube do casamento arranjado, Jeon só conseguia pensar em como isso arruinaria sua vida. A ideia de estar preso a alguém que o odiava, alguém que ele não escolheu — Ou só pensava que não. — o fazia sentir que perderia toda a liberdade que tanto valorizava. Era isso que o mantinha distante de Yoongi. Ele acreditava que, se o afastasse o suficiente, o casamento desmoronaria por si só, fazendo Min o odiar.

Mas, mesmo que negasse para si, havia algo mais profundo. Não era só sobre querer escapar de um compromisso. A verdade era que, apesar de todo o desprezo que Min demonstrava, Jeongguk ainda se preocupava com ele. Eles tinham crescido juntos, compartilhado segredos e sonhos. Ele não conseguia ignorar o fato de que, em algum lugar de seu coração, ele ainda se importava. E acreditava que em Yoongi também houvesse algo assim.

O cheiro da presa chegou até ele, trazendo-o de volta ao momento presente. Ele forçou seus pensamentos para longe de Yoongi, concentrando-se na caçada. Quando finalmente abateram o cervo, Jeongguk sentiu o peso da responsabilidade voltar.

Ele se afastou do grupo enquanto os outros celebravam, transformando-se de volta em sua forma humana. O vento frio da noite bateu contra sua pele suada, mas ele não se importou. Seus pensamentos estavam novamente com Yoongi. Como ele estaria agora? Sozinho em algum lugar na montanha, perdido em seus próprios pensamentos, ou talvez tão frustrado quanto Jeongguk? Ele nunca saberia, porque nunca mais Yoongi quis se aproximar de Jeon, e por bom motivo.

Enquanto caminhava de volta para casa, uma sensação de impotência o consumia. Ele precisava falar com seus pais. Precisava, de alguma forma, convencê-los a cancelar aquele casamento. Ele sabia que seria uma conversa difícil, mas tinha que tentar.

Ao entrar na casa, o cheiro de comida fresca encheu o ar, mas Jeongguk não tinha apetite. Seu pai estava à mesa, como sempre, com os olhos focados em papéis importantes, enquanto seu pai ômega, como uma sombra serena, preparava o chá.

— Está atrasado — disse seu pai, sem nem olhar para ele.

— Estávamos caçando — Jeongguk respondeu, sentando-se à mesa. — Consegui um bom cervo.

— Bom — murmurou seu pai, sem emoção.

Jeongguk permaneceu em silêncio por alguns minutos, tentando reunir coragem para falar sobre o que realmente o incomodava. Ele sabia que aquela conversa poderia acabar de uma forma que ele não queria, mas precisava tentar. Precisava encontrar uma forma de escapar do casamento antes que fosse tarde demais.

— Pai... eu queria falar sobre o casamento — começou ele, sentindo o peso das palavras antes mesmo de dizê-las.

Seu pai finalmente levantou os olhos, a expressão inalterada, mas Jeongguk pôde sentir o ar ficando mais denso.

— O que tem o casamento? — perguntou ele, cruzando os braços, pronto para ouvir qualquer desculpa.

— Eu... — Jeongguk hesitou, sentindo um nó se formar em sua garganta. — Eu queria saber se há alguma possibilidade de cancelar o casamento com Yoongi.

O ômega parou de mexer o chá por um segundo, mas não disse nada. Seu pai, por outro lado, o encarou com uma expressão inexpressiva por longos segundos, antes de soltar um suspiro pesado.

— Cancelar o casamento? — repetiu ele, como se estivesse testando as palavras em sua boca.

Jeongguk assentiu, tentando parecer confiante, embora seu estômago estivesse revirando.

— Sim. Yoongi não quer isso... e eu também não sei se é a melhor decisão. Nós dois estamos infelizes com essa situação.

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Jaehyun permaneceu em silêncio, mas havia algo em seu olhar que dizia que ele já sabia o que Seungho responderia.

— Jeongguk, isso não é sobre o que você quer ou o que Yoongi quer — disse seu pai finalmente, sua voz firme e inabalável. — Esse casamento é uma aliança entre nossas famílias. Não é algo que pode ser cancelado por capricho.

Jeongguk apertou os punhos debaixo da mesa. Ele sabia que seria difícil, mas ouvir isso fazia parecer que suas esperanças estavam sendo esmagadas.

— E se Yoongi se recusar? — ele perguntou, ainda buscando uma saída.

— Ele não vai se recusar — Jaehyun respondeu dessa vez, com uma voz suave. — Ele sabe o que está em jogo. No final, ele vai cumprir o papel dele, assim como você deve cumprir o seu.

Jeongguk sentiu um nó se formar em sua garganta. Eles estavam certos, claro. Ele sabia que Yoongi jamais colocaria a alcatéia em risco, por mais que o odiasse. E ele, como o primogênito da família Jeon, também não tinha escolha. O casamento aconteceria, quer ele quisesse ou não.

— Eu só não quero passar o resto da minha vida com alguém que me odeia... — murmurou Jeongguk, quase para si mesmo.

Seu pai levantou-se da mesa lentamente, caminhando até ele. Colocou a mão pesada no ombro de Jeongguk, e quando falou, sua voz era mais suave, mas ainda assim dura.

— A vida não é sobre o que você quer, Jeongguk. É sobre responsabilidade. Você vai se casar com Yoongi, e vocês dois vão aprender a viver com isso. O amor vem depois.

Jeongguk mordeu o lábio, sentindo a frustração crescer dentro de si. Ele queria gritar, queria dizer que não era assim que as coisas funcionavam. Mas não disse nada. Apenas assentiu, sabendo que, naquele momento, não havia mais o que pudesse fazer.

Ele saiu da sala sem olhar para trás, o som dos passos ecoando pelos corredores vazios. Caminhou até o lado de fora, onde o vento frio da noite o atingiu em cheio mas não se importou, sua pele exposta não se afetava pelo frio, um alfa lúpus tem seu corpo sempre aquecido, fazendo-o nunca sentir frio.

Ele olhou para o céu estrelado, tentando encontrar respostas nas constelações, mas tudo o que sentia era o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Não havia escapatória. O casamento aconteceria.

E, no fundo, enquanto tentava afastar o cheiro de Yoongi de sua mente, sabia que tinha uma parte de seu lobo que ansiava e odiava por isso. Suas memórias breves de quando eram crianças o fazia pensar se deveria mudar seu comportamento com ele, ou continuar o fazendo o odiar pro resto da vida.