cap. 04

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Algumas luas depois

A neve caía densamente, cobrindo a floresta em um manto branco e suave, enquanto o vento cortante varria o terreno congelado, tornando a caçada ainda mais desafiadora. Yoongi caminhava à frente, seus passos silenciosos na neve quase não deixando marcas, enquanto seus olhos atentos seguiam os rastros sutis da presa. A respiração pesada do cervo ferido ainda pairava no ar, misturando-se ao cheiro familiar da floresta.

Jeongguk vinha logo atrás, observando Yoongi em silêncio. Havia algo fascinante na forma como o ômega se movia entre as árvores, com uma precisão quase sobrenatural, como se a neve e o frio não o afetassem. Ele podia sentir a proximidade da presa, o som do coração acelerado a uma distância, mas, mesmo sendo um alfa experiente, sabia que Yoongi tinha um dom especial para rastrear.

— Ele está por perto — murmurou Yoongi, abaixando-se para inspecionar um galho quebrado e os rastros parcialmente cobertos pela neve. A determinação em seu olhar era inegável, mas havia também uma centelha de algo mais profundo, algo que Jeongguk não conseguia identificar.

O ar era gélido, e a cada respiração, pequenas nuvens de vapor saíam de suas bocas, se dissipando rapidamente. A tensão entre eles era palpável, não apenas pela caçada, mas pelo que estava não dito entre ambos. A neve branca e imaculada parecia uma tela para os pensamentos confusos que ambos carregavam.

De repente, Yoongi se endireitou, seu corpo tenso.

— Ali. — Ele apontou para uma clareira mais à frente, onde o cervo estava visível, com o flanco ensanguentado, tentando se mover pela neve densa, mas o ferimento o tornava lento. O olhar de Yoongi brilhou com uma intensidade quase animalesca.

— Transforme-se! — disse Yoongi, sua voz rouca, quase como um comando, mas com um toque de vulnerabilidade que não passou despercebido por Jeongguk.

Jeongguk hesitou por um momento, surpreso. Era raro ver Yoongi assumir uma postura tão direta. Acenou com a cabeça, concordando. Seus olhos negros reluziram antes de seu corpo começar a mudar.

O som de ossos se deslocando e músculos se alongando ecoou na floresta silenciosa, enquanto os dois se transformavam em suas formas lupinas. O manto branco de neve parecia brilhar contra o pelo escuro de Jeongguk, enquanto Yoongi, em sua forma lupina, mantinha uma aparência angelical, perfeitamente camuflado no ambiente gélido.

Assim que a transformação foi concluída, Jeongguk soltou um rosnado baixo, sentindo o poder e a liberdade de sua forma pulsando em suas veias. Ele lançou um olhar para Yoongi, que já estava correndo pela neve, os olhos azuis fixos na presa. Mesmo sendo menor e menos imponente, seu corpo esguio e ágil era perfeito para aquela caçada.

Jeongguk disparou logo atrás dele, seus passos rápidos fazendo a neve voar em todas as direções. O vento batia contra seus corpos lupinos, mas eles se moviam como sombras, silenciosos e letais. O cervo ferido finalmente os notou e tentou correr, mas estava em desvantagem. A neve tornava o terreno traiçoeiro, mas Yoongi se movia com uma precisão quase inumana, fechando a distância rapidamente.

Jeongguk, maior e mais forte, saltou à frente, cortando o caminho da presa. Com um movimento ágil, ele abocanhou a perna do cervo, derrubando-o na neve com um rosnado baixo e triunfante. O cervo se debateu por alguns segundos, mas já estava derrotado.

Yoongi chegou logo depois, e, com um golpe certeiro, finalizou a caçada, deixando o cervo em um estado de paz final. Eles permaneceram ali por um instante, ofegantes, observando o resultado da caçada. O coração de Jeongguk batia acelerado, não apenas pela adrenalina, mas pela proximidade de Yoongi. Em suas formas lupinas, tudo era mais intenso: os cheiros, os sons, e especialmente as emoções. Ele podia sentir a frustração de Yoongi, sua raiva contida, e algo mais profundo, algo que ele não conseguia nomear.

Yoongi recuou um pouco, voltando à sua forma humana. Seu corpo tremia levemente, não apenas pelo frio, mas pela intensidade do momento. Ele limpou o sangue da presa das mãos com a neve, sem olhar para Jeongguk, que logo se transformou de volta.

— Boa caçada _ murmurou Yoongi, sua voz fria e distante, enquanto começava a amarrar as patas do cervo para carregá-lo de volta.

Jeongguk o observou em silêncio, incerto de como quebrar a barreira invisível que havia entre eles. A verdade era que seus pais acharam melhor os dois praticar tarefas juntos para se darem, mas por mais que tentasse se afastar, sempre acabava sendo puxado de volta para o ômega. Havia algo ali, uma conexão que ele não podia ignorar, não importava o quanto quisesse.

— Yoongi — chamou Jeongguk, a voz rouca cortando o ar gélido.

Yoongi parou, mas não se virou.

— O quê? —  respondeu ele, sua voz fria, quase indiferente, mas Jeongguk percebeu a fraqueza que se escondia por trás daquela fachada.

Jeongguk hesitou, buscando as palavras certas, mas nada parecia adequado. Ele queria falar sobre o casamento, sobre o passado que compartilhavam, sobre a forma como tudo havia mudado entre eles. Mas, em vez disso, apenas balançou a cabeça, deixando o momento passar.

— Nada. Vamos voltar antes que escureça ainda mais — disse ele, finalmente, tentando ignorar o peso da frustração que o consumia.

Os dois começaram o caminho de volta pela floresta coberta de neve, levando a presa entre eles, mas o silêncio que os acompanhava era mais pesado do que qualquer outra coisa naquela noite. As palavras não ditas e os sentimentos contidos pairavam no ar frio, como uma tempestade iminente que ambos sabiam que acabaria por desabar, cedo ou tarde.

Enquanto caminhavam pela floresta coberta de neve, a escuridão começou a se aproximar, lançando sombras longas. O silêncio era profundo, quebrado apenas pelo som da neve se acumulando sob seus pés e pela respiração pesada de ambos. A cada passo, a tensão entre eles aumentava, como um fio prestes a se romper.

Ao se aproximarem da borda da floresta, o contorno da vila começou a se formar, iluminado por algumas lanternas que tremeluziam ao longe, contrastando com a escuridão crescente. A visão do pequeno vilarejo trouxe uma sensação de familiaridade, mas também de claustrofobia. Ali, todos sabiam quem eram, suas histórias entrelaçadas em um tecido complexo de passado e presente.

Jeongguk sentia a pressão crescente no peito. Ele queria dizer algo, quebrar o silêncio que parecia estar se acumulando entre eles como a neve ao redor. Mas as palavras pareciam tão distantes, tão difíceis de alcançar.

— Yoongi — ele começou, sua voz soando mais baixa do que pretendia, quase abafada pelo ar frio. — Você está… bem?

Yoongi parou de repente, o olhar fixo na vila. A tensão em seu corpo se tornou palpável. Ele virou lentamente a cabeça para encarar Jeongguk, seus olhos azuis iluminados pela luz das lanternas. Havia um misto de confusão e dor em seu olhar, algo que Jeongguk não conseguia ignorar.

— O que você quer dizer com “bem”? — a voz de Yoongi era fria, mas Jeongguk podia ouvir a vulnerabilidade por trás das palavras.

— Eu só… — Jeongguk hesitou, lutando para encontrar as palavras certas. — Você parece diferente desde que voltamos.

— Eu estou ótimo! — havia ironia em sua voz, Jeon conseguia sentir.

O final do inverno só se aproximava, e a primavera só dava seus sinais de vida. E o casamento estava se aproximando, tornando a ideia que em algumas semanas ambos estariam casados, tudo para agradar os clãs, dever que nunca quiseram...

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⏰ Última atualização: Oct 20 ⏰

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