Ajuda Desconhecida

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Eu ainda estava sem reação, com o coração — ou o que restava dele — batendo descompassado. O garoto parecia tão espantado quanto eu, com os olhos arregalados e a respiração hesitante. Ele deu um passo para trás, e, por um momento, achei que ele fosse gritar por ajuda.

— Eu... eu não vou te machucar — murmurei, tentando manter a voz firme, mas era difícil. Estar perto de alguém depois de tanto tempo... parecia até estranho.

O menino, ainda em choque, não tirava os olhos de mim. Ele hesitou, e vi sua mão tremendo. — Você... é um oni, não é? — sussurrou, mal mexendo os lábios. A voz dele tinha medo, mas havia algo mais ali, uma curiosidade quase teimosa.

Assenti, sentindo o peso dessa verdade que tanto evito. Não havia como negar, nem mesmo para mim. Eu o encarei, cauteloso, esperando qualquer reação. Meu instinto dizia para fugir, mas meus pés pareciam presos ao chão.

— Sim... mas... eu não quero problemas — murmurei, baixando o olhar para o chão. — Estou só tentando fugir dos caçadores. Eles não... — hesitei, tentando encontrar as palavras.

— Eles não entendem.

Ele piscou, um pouco surpreso, e relaxou os ombros, só um pouco. — Então... por que você veio para cá? Esta é a casa da minha família, sabia? — a voz dele tinha um tom desafiador, mas eu pude notar o quanto ele estava curioso.

Suspirei, tentando não soar derrotado, mas a verdade é que me sentia exatamente assim. — Não fazia ideia. Só... achei que seria um bom esconderijo. Não sabia que teria alguém aqui — disse, quase em um sussurro. Eu me sentia vulnerável e perdido, mas ele continuava sem me atacar, sem gritar. Isso me confundia.

Então, o garoto deu outro passo, ainda observando cada detalhe meu como se eu fosse algum tipo de quebra-cabeça. Finalmente, ele falou, mas o tom de sua voz carregava algo inesperado:

— Você... não parece um oni ruim.

Aquelas palavras me pegaram de surpresa, e, por um instante, senti uma estranha sensação de alívio, como se alguém finalmente tivesse notado algo além da minha maldição. Mas eu sabia que confiar nele poderia ser um erro fatal.

— E você não parece alguém que tenha medo de onis — retruquei, tentando esconder o desconforto.

Ele deu um leve sorriso, e era um sorriso estranho, quase como uma chama que iluminava aquele quarto escuro.

O garoto continuava me observando, mas algo em sua expressão havia mudado. Ele parecia menos ameaçador, mais... reflexivo. Um silêncio pesado pairava entre nós, até que ele se aproximou um pouco mais.

— Escuta... se você realmente não é perigoso, como diz — ele hesitou, mas depois respirou fundo — eu posso não contar para ninguém que você esteve aqui.

Olhei para ele, tentando entender por que alguém arriscaria tanto por um oni. Ele continuou:

— Mas só se você prometer... que não vai machucar ninguém da minha família, ou qualquer outra pessoa, enquanto estiver por aqui.

Aquela exigência me pegou de surpresa. Ele realmente estava pedindo que eu ficasse? Senti uma mistura de alívio e dúvida, mas percebi que essa era minha única chance de garantir minha segurança, ao menos por um tempo.

— Prometer? — murmurei, analisando as intenções dele. — Isso é sério? Você sabe que se eu pudesse eu já teria atacado todo mundo daqui, mas não fiz isso porque realmente não quero, né?

Ele balançou a cabeça, decidido. — Sei sim. E vou confiar em você.

Aquela confiança inesperada mexeu comigo de um jeito estranho. Depois de tantos anos fugindo e me escondendo, alguém estava me pedindo para ficar... mas com uma condição.

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⏰ Última atualização: Nov 14 ⏰

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Back From The Dead - Yuichirou Tokito Onde histórias criam vida. Descubra agora