A mágoa no seio familiar

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Como se não bastasse a guerra entre as nações e a guerra urbana com a violência galopante nas ruas, há os que experimentam uma verdadeira guerra dentro do próprio lar. A violência doméstica está sendo considerada um flagelo sem precedentes, independentemente do país, da cultura ou da condição social. Nos casos de espancamentos e abusos sexuais, o agressor quase sempre mora na mesma casa que a vítima, colocando em risco a vida de quem deveria ser protegido por ele.

Estudos apontam que 1/4 dos adolescentes e jovens em todo o mundo, com idades entre 15 e 24 anos, já foram vítimas de algum tipo de violência por parte de pessoas próximas e até mesmo dentro da própria casa. Os números indicam ainda que cerca de 736 milhões de mulheres no mundo inteiro já sofreram violência física ou sexual por parte do parceiro ou de outro membro da família. Se essas informações já chocam, a Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgadora da pesquisa, afirma que esses dados não correspondem à realidade. Acredita-se que os números sejam muito maiores, pois, na maioria dos casos, a vítima ou teme denunciar o agressor ou não quer se expor e acabar sendo conhecida por ter sofrendo violência.

Diante de índices tão elevados, a pergunta é: como essas pessoas reagem a essa dor? É possível seguir a vida normalmente depois de ter passado por golpes tão duros?

Como se não bastasse o sofrimento físico a que são submetidas, muitas padecem emocionalmente por carregarem dentro de si as lembranças e as mágoas de seus agressores.

Enquanto o amor dá capacidade para suportar as ofensas e o perdão dá capacidade para superá-las, o ódio promove brigas e separações (Provérbios 10.12). Desse modo, o mal que age no agressor passa a agir no agredido, por causa do ódio, que se torna um vínculo com as trevas. Portanto, guardar ressentimento é como entrar no pântano com perigosos lamaçais que arrastam a alma para abismos cada vez piores.

Os traumas e as mágoas também têm sido a causa de longos processos de divórcio e embates nos tribunais, nos quais toda a família perde e só os advogados lucram. Não são poucos os casais que um dia se uniram com o sonho de felicidade, mas que hoje se veem numa realidade completamente diferente. Os que não desistiram do casamento se digladiam numa convivência conturbada, marcada pelo desrespeito, pelas traições e pelas ofensas - atitudes antes inimagináveis.

Eu sei que ninguém espera se sentir mal no próprio lar, já que é lá que recarregamos as energias e nos fortalecemos emocionalmente para enfrentar os desafios da vida. É em casa que recobramos o ânimo para enfrentar as batalhas do dia a dia. É no seio familiar que nos abrimos mais para amar e sermos amados, para acolher e sermos acolhidos.

Logo, qualquer conflito ou ruptura nesses relacionamentos resultará em muita angústia.

Durante o meu ministério, as mágoas mais profundas que vi se originaram no seio familiar: filhos que se sentiram rejeitados pelos pais; cônjuges que dedicaram suas vidas ao casamento e foram abandonados ou trocados por alguém mais jovem; irmãos que se sentiram injustiçados em partilhas de herança e, durante décadas, ficaram sem se falar; mulheres que carregavam na alma as marcas do abuso sexual que sofreram na infância, cometido por alguém que deveria tê-las protegido...

Já vi, inclusive, dores marcadas por conquistas financeiras, pelo consumismo, pelo álcool, pelas drogas e por uma vida promíscua, por exemplo.

Quando os vínculos que não deveriam ser rompidos são quebrados e, no lugar do amor, passam a existir a raiva e a mágoa, as pessoas tentam formas de sedar a dor da decepção. Porém, o máximo que consegue é um alívio temporário.

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