CAPÍTULO UM

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As trevas do passado são as mais difíceis de dissipar.

Os gritos de dor podiam ser ouvidos por todo o calabouço, ao mesmo tempo que as chamas incendiavam o corpo da elfa das sombras a enfraquecendo mais a cada instante. As mãos trêmulas de cansaço e dor, mal conseguiam encontrar forças para se libertar das correntes que a prendiam os pés e mãos.

O ambiente frio e úmido da cela era quase aconchegante se comparado ao inferno latente que dilacerava e derretia sua pele preta, não demoraria para que sua sanidade fosse varrida para longe, sua consciência lentamente a abandonava e isso parecia ser um pesadelo pior do que as chamas que a queimavam a ponto de reduzir seus longos cabelos pretos, com graciosas mechas brancas, a algo chamuscado e morto.

A elfa podia sentir seu coração batendo frenético na garganta, lutando para distribuir mais adrenalina em seu corpo na tentativa de lhe manter consciente por mais alguns instantes. Apesar de fraca e quase sem vida, pode escutar o som estrondoso da porta de ferro da cela se abrindo e fechando, dando lugar a sons bravios de solado batendo contra as pedras da prisão. Levantando a cabeça com muito esforço, na intenção de ver o recém chegado, a prisioneira sente mais um choque doloroso contra seu rosto, fazendo a pele preta já bastante judiada, descolar mais ainda de sua carne.

— Você me enganou por tanto tempo... — Sussurrou Callendra, o peso da dor e da traição evidente em cada sílaba. — Mas agora, todos sabem quem você realmente é.

— Você não sabe do que está falando, Calle. — A voz da prisioneira saia rouca e fraca devido aos gritos de dor.

— Vossa Alteza! — Corrigiu a princesa de Libério — Não se dirija a mim com informalidades. Você não tem mais esse direito.

Seus olhos se voltaram para a princesa, essa que permaneceu impassível diante de toda aquela situação, encarando a prisioneira de modo tão visceral, que a elfa das sombras se questionou se realmente havia tido amor naqueles olhos um dia. O silêncio entre elas gritava mais alto do que qualquer palavra não dita.

— Vamos ao que interessa, Por que?

— Tente ser mais específica, princesa — E mais uma vez, o punho de Callendra acertou o rosto da prisioneira fazendo um som grotesco de ossos se partindo e pele morta sendo esmagada. — ...Dever.

— Oi?

— Eu matei, porque era meu... — A elfa das sombras teve que engolir o sangue que se acumulava em sua boca, sentindo o gosto metalico descendo por sua garganta arranhando como espinhos — Era o meu dever.

Antes que pudesse dizer mais algo, um golpe vindo dos guarda a suas costas, fez sua cabeça abaixar e um apito estridente preencher seus tímpanos, o gosto metálico de seu sangue obsidiano preencheu sua boca ao mesmo tempo que sua cabeça era erguida pelo que havia sobrado de seu cabelo, forçando a detenta a encarar o rei.

Uma ira incontrolável fervilhava nas veias da elfa das sombras, gritando em sua cabeça por liberdade, apenas para poder avançar contra a criatura na sua frente, e por breves, quase inexistentes, segundos, seu descontrole assumiu a dianteira em sua mente, a prisioneira soube que não tinha mais controle da sua consciência e corpo quando passou a ver tudo vermelho.

Algo havia mudado, por aqueles curtos segundos em que a detenta estava distante em algum canto isolado de sua cabeça, algo no rei Alaric Beltaine havia mudado, talvez fosse por seu olhar mais presunçoso e frio, ou quem sabe por sua sutil risada de escárnio, mas a aura de sua presença havia se alterado para alguma coisa mais pesada e obsessiva.

— Acho que já chega de brincadeira por hoje. — A voz de Alaric era firme e distante, mas para a prisioneira, parecia um sussurro ecoado em sua mente que de modo vagaroso, lhe pressionava os pensamentos como longas garras. — Por que não nos conta o motivo de ter feito o que fez?

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⏰ Última atualização: Sep 21 ⏰

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