Com apenas 24 anos de idade, Ana Maria Leonardo, ou melhor, Ann Marie, era a definição de sucesso: linda, instigante, milionária e extremamente talentosa, um dos nomes de maior peso dentro da indústria musical. Com oito simplórias primaveras de carr...
Think I forgot how to be happy Something I'm not, but something I can be Something I wait for Something I'm made for
What Was I Made For? - Billie Eilish.
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Mônaco - Monte Carlo
Domingo - 05 de Maio
Os passos rápidos dos bailarinos ecoavam no corredor, um ritmo frenético que contrastava com a lentidão com que eu me dirigia ao camarim. Eleonora, minha fiel escudeira, já me aguardava com a paleta de maquiagem em mãos. Mais uma vez, o ritual se repetia: base, blush, batom... A cada pincelada, sentia a mesma sensação de déjà vu. A camisa de cetim, fria contra a pele, o shortinho, quase imperceptível sob o tecido e uma bota brilhante ocupando boa parte de minhas coxas e me deixando uns bons 10 centímetros mais alta completavam o meu figurino da noite.
Joshua, com um suspiro resignado, se aproxima de mim assim que subo na plataforma para começar a preparação de ajustes na roupa. E após o aceno de autorização, ele começa a encaixar o fone do retorno no meu ouvido e o ajudo a passar todos os fios debaixo de toda a minha roupa. A tensão pré-show era palpável, mas eu já a conhecia tão bem que parecia quase familiar, como um velho amigo indesejado.
— Use a merda do seu cérebro, Joshua! — Esbraveja Suzie, minha estilista assim que o mais velho se abaixa para encaixar o pequeno aparelho em meu traje. — Se rasgar esse Givenchy com a sua burrice eu vou quebrar a sua cara. — Solto uma risada anasalada, tentando não atrapalhar Eleonora que se concentra em finalizar o delineado no meu olho direito.
Mais um drama. Como se um furo em uma camisa pudesse mudar alguma coisa.
— É só uma camisa preta, Suzie. — Murmura rabugento, tentando mais uma vez prender o aparelho na camisa.
— É um Givenchy, seu babaca. — Sinto um puxão na blusa e arregalo os meus olhos ao me desequilibrar para trás, vendo o exato momento em que a boca de Eleonora se abre em um ó perfeito vendo todo o seu trabalho ser borrado. E antes que eu pudesse de fato cair, ela me segura pelo braço ao mesmo tempo em que a mão de Joshua me apoia pelas costas.
— Eu vou matar vocês dois! — Eleonora pragueja ao me soltar. — Todo show é a mesma palhaçada entre vocês! — Ralha, indo até a penteadeira abarrotada de maquiagens e pegando um lenço demaquilante.
— Eu aposto um bom dinheiro que isso é amor encubado. — Comento me ajeitando em cima da pequena plataforma e encarando-os pelo espelho, já que ambos se encontravam atrás de mim. E disfarço uma careta ao sentir uma forte pontada na cabeça, desvio meu olhar para a ponta de minhas botas.
— Prefiro a morte. — Joshua se pronuncia, dando um sopapo na mão de Suzie, tomando o aparelho das mãos da mais nova que faz uma careta ofendida.
— Digo o mesmo.— Dá de ombros e vai até o cabideiro pegando um corpete preto ornamentado com pedrarias da mesma cor. — Vamos substituir essa gravata sem graça por isso aqui. — A coreana de ombros estreitos e corpo esguio se volta para a minha frente, desfazendo o nó rapidamente da gravata, jogando-a para trás e ajustando o corpete em meu busto. — Segure firme que vou amarrar lá atrás. — Faço o que pede, vendo-a ir para trás de mim, dando lugar para Eleonora que começa a passar o lenço no canto de minha pálpebra.
