Mais um show finalizado com sucesso, e ali, em cima daquele palco iluminado pelas enormes luzes e diversos aparelhos celulares do público, eu os agradeço pela vigésima vez pela presença. Com um enorme sorriso forçado no rosto, escondia a tristeza que já começava a se instalar, a euforia do palco se dissipando aos poucos, sabia que em menos de cinco minutos daria lugar a um enorme vazio em meu peito e uma longa noite sendo consumida por uma crise existencial. Saio do palco em passos lentos e arrastados com a banda ainda tocando seus últimos acordes.
Mais uma performance, mais uma multidão, mais uma vez me perguntando se isso é tudo o que a vida tem a oferecer.
Lembrava-me dos tempos em que a música era minha paixão, uma das minhas diversas fugas da realidade. Agora, era apenas mais um trabalho, uma obrigação. A melodia que antes inspirava, agora ecoava em meus ouvidos como um ruído branco, um constante lembrete da vida que havia deixado para trás.
Passo por todos os funcionários, sorrindo e os agradecendo por toda a ajuda de forma automática, como uma memória muscular. Entrego meu microfone para Joshua, e com a sua ajuda desprendo o retorno de minha roupa e dos meus ouvidos, que agora latejam após passar um pouco mais de duas horas com aquilo os pressionando. Sigo para o meu camarim após o agradecer, ainda em passos lentos e exaustivos, afinal aquelas botas louboutin conseguiam sempre acabar com as minhas pernas devido aos intensos passos de dança.
Exaustão era pouco para o que eu sentia, uma dor intensa em meu corpo todo. A falta de ar que espremia os meus pulmões, a necessidade do isolamento e aquela agonia incessante em meu estômago que não passava nunca. Era um dos poucos sintomas que me acompanhavam durante o dia.
Abro a porta do camarim, que antes era um refúgio, com suas paredes coloridas e abarrotadas de fotos com a minha família, mas agora parecia mais uma cela. Eleonora, minha maquiadora, já estava de prontidão junto de Alexander, meu agente e também relações públicas. O silêncio reina assim que adentro o ambiente e sento-me na cadeira de veludo vermelho destinada a mim, deixando que Eleonora cuide de toda a preparação da minha pele para remover toda aquela maquiagem.
Um nó se formava em minha garganta, impedindo-me de falar qualquer palavra que fosse. Mais uma vez, aquela pergunta martelava os meus pensamentos: até quando?
— Foi um excelente show, Ann. — Ouço a voz de Eleonora interromper os meus devaneios. — Connor ficará orgulhoso! — Suspiro, decidindo por permanecer calada e de olhos fechados.
Eu não poderia me importar menos com Connor e o quanto ele ficaria orgulhoso com os milhares de dólares que entrariam em sua conta mais tarde. Eu o amava, isso eu não poderia negar, mas já estava farta das pessoas tentarem me obrigar a agradá-lo o tempo todo. O meu gerente já sabia o quão grata eu era por ele ter me ajudado a chegar até aqui e me tornado quem eu sou.
Pouco tempo depois, eu já me encontrava sozinha naquele cubículo pouco iluminado, ainda sentada naquela cadeira, mas agora, encarando intensamente o meu reflexo naquele espelho adornado de lâmpadas para uma melhor luminosidade.
Era assustador.
Os olhos antes brilhantes estão opacos, as olheiras profundas denunciam noites mal dormidas. A pele, antes luminosa, agora parece pálida e sem vida. A fama, que um dia fez-me sentir invencível, agora me consome por dentro, corrosivamente. A cada show, a cada entrevista, a sensação de estar interpretando um personagem se intensifica. A Ana Maria real, a garota que amava música e sonhava em fazer a diferença, parecia ter se perdido no meio caminho.
Eu tinha a perdido e a culpa é toda minha.
A fama, que um dia havia me levado ao topo do mundo, agora me aprisiona em uma jaula dourada e cobra o seu alto preço.
E ali eu me encolho na cadeira confortável e deixo com que as lágrimas molhem o meu rosto. E pela primeira vez em muito tempo, deixo-me chorar como uma criança perdida no mundo.
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Softcore - Charles Leclerc
FanfictionCom apenas 24 anos de idade, Ana Maria Leonardo, ou melhor, Ann Marie, era a definição de sucesso: linda, instigante, milionária e extremamente talentosa, um dos nomes de maior peso dentro da indústria musical. Com oito simplórias primaveras de carr...