Amigas Imperfeitas - juntas no amor, na dor e no rock'n'roll - DEGUSTAÇÃO

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Eu sempre tive curiosidade de saber o que acontece depois que a gente morre. Lembro que já travei altos papos com Manu a respeito, e nossas opiniões nunca bateram. Chegamos até a apostar quem de nós duas morreria primeiro e pactuar que, quem quer que fosse, voltaria, de preferência de dia e sem puxar o pé da outra, para contar o que há do outro lado.

E agora, eis-me aqui nessa situação.

Então, morrer é assim? Revemos um monte de coisas que fizemos ao longo da vida e pronto? Quem escolheu essas cenas para eu assistir em minha mente? Muitas das que ficaram de fora eu gostaria de ver de novo. Não acho que essas façam jus a minha vida.

Até que algumas passagens foram legais, como o último dia do colégio quando estávamos com nossas camisetas dos Lokes, chorando abraçados no portão... Ter visto meu pai também foi legal... Vê-lo é sempre bom. Seu rosto me acalma. Sempre me acalmou.

Tirando essas lembranças, acho que morrer não é nada demais. Confesso que, nos meus devaneios mais loucos, morrer seria algo mais glorioso, com direito a uma passagem cinematográfica para o lado de lá. Algo como eu estar cavalgando um cavalo alado ou coisa semelhante. Doce ilusão. 

Já que morrer é mesmo isso, fico feliz em saber, mas obrigada, por ora vou declinar. Apesar de o filme da minha vida ter sido bom, eu prefiro voltar.

Muito bem, decisão tomada! Com quem eu tenho que falar para dizer que ainda não estou a fim de passar dessa para uma melhor?

— Alô? Alguém aí?

Aí...aí...aí...aí... (Eco sem respostas.)

— Tenho que voltar para esclarecer um mal-entendido. Alguém pode me responder?

Er... er... er...er...

— Posso ir? Estou liberada?

Ada...ada...ada...ada...

Sem respostas, apenas ecos, nessa infinita passarela branca ofuscante.

Começo a ficar aflita.

Talvez não possa mais voltar.

Pai, me ajuda, o que devo fazer? Se não posso mais voltar, por que ninguém vem aqui me buscar para a próxima fase?

Estou no umbral? No purgatório? Ou no vazio total?

Ouço vozes. Talvez meu pai voltando para mais uma dica. Talvez mais cenas de minha vida. Talvez os cavaleiros com seus cavalos alados estejam vindo em bando para me levar para o desconhecido.

Ouço vozes novamente.

Eu não entendo o que falam. Não conheço essas vozes. Será outro idioma que se fala do lado de cá?

Ai, que agonia!

Espere... Escuto novamente as vozes, desta vez mais alto e mais claro:

— Ela está viva. Rápido, chamem o resgate!


[DEGUSTAÇÃO] Amigas Imperfeitas - juntas no amor, na dor e no rock'n'rollOnde histórias criam vida. Descubra agora