Capítulo 4

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"Eu amo o cheiro de gasolina

Acendo o fósforo para sentir o calor

Sempre gostei de brincar com fogo"

Play With Fire - Sam Tinnesz

Rory Reis 

O cheiro de gasolina se mistura aos barulhos dos pneus derrapando, as gotas d'água que caem contra a areia a impedem de subir e nada tira o sabor de como é bom sair na frente de Will.

— Chupa idiota. — cantarolo, tomando a primeira curva da pista insinuosa, permitindo que o carro passe bem perto do limite entre a estrada delimitada e a multidão que assiste.

Checo Will pelo retrovisor, captando suas feições carregadas de braveza.

Ele sabe que vai ficar em segundo hoje.

Abro um sorriso, memorizando suas sobrancelhas franzidas e seus lábios volumosos em linha reta, deliciando-me de sua irritação.

Não há nada melhor do que desbancar William Blake.

A terceira curva é sempre a pior, chamamos ela de "arco Fray". Ela é estreita, exige atenção devido suas ondulações, pode fazer um carro capotar em questão de segundos se o motorista não estiver atento. Remexo a bunda no assento, reduzindo a velocidade o suficiente para que eu não saia voando em cada pequena colina desregulada, permitindo que meus olhos caiam para o chaveiro que bate contra o painel.

A cruz da correntinha de Will.

Quebrei ela no dia do julgamento de Mason, mas nunca tive coragem de jogar fora. Contra minha própria vontade, carrego o crucifixo no meu chaveiro porque esse objeto, apesar de tudo, significa algo para mim.

Uma promessa não cumprida.

Aperto os dedos ao redor do volante ao ponto deles ficarem brancos. Nunca superei a maneira como tudo terminou entre nós, mas, para o bem da minha própria família, preciso fazer isso agora, caso contrário vou cair nas garras de Will novamente.

A Speedtail Hyper-GT preta cola na minha traseira quando estamos a menos de 6 km da linha de chegada, forçando-me a dar uma brecha. Will liga seu óxido nitroso, aumentando a potência do seu carro, disparando na frente.

— O melhor sempre fica para o final, Will.— cada linha de meu rosto se ilumina.

Respire e sinta o seu momento.

O conselho do meu pai martela em meus pensamentos, obrigando-me a respirar fundo para calcular meu tempo.

— Você já fez isso várias vezes, Rory. Você consegue. — incentivo a mim mesma baixinho, pousando o indicador em cima do botão vermelho adaptado, deixando Will perder seu rendimento, apertando-o em seguida.

Minhas costas colidem contra o banco no segundo que pressiono a coisinha no painel, fazendo-me suspirar profundamente. A eficácia proporcionada pelo óxido nitroso me permite voltar para o lado de Will, o que faz seu meio sorriso desaparecer em mísero minuto.

Ele sabe que ainda sou boa.

Só me permito respirar corretamente quando meu carro cruza a linha de chegada, é nesse momento que acumulo todo o ar que posso em meus pulmões.

Meu Deus.

Os cantos de meus lábios sobem em reconhecimento a animação que toma meu peito com as diversas pessoas que se espremem para perto do meu carro.

Trilogia "No Limite": RUN OR DIEOnde histórias criam vida. Descubra agora