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Enquanto folheava os arquivos em seu escritório improvisado - um cômodo apertado e desordenado nos fundos da delegacia, onde pilhas de papéis amarelados se amontoavam em prateleiras enferrujadas e o som constante de goteiras marcava o ritmo - William foi subitamente transportado de volta à noite do assassinato de Amanda Lewis. A voz de Oliver ecoava em sua mente:

"Luke não foi o único... Mike deu a ideia."

O ar no escritório parecia ficar mais pesado, sufocante. O peso da revelação apertava o peito de William. Ele esfregou o queixo, fitando as paredes sujas e descascadas. A decisão veio rápida, quase automática: era hora de confrontar Mike Harrison.

Ao deixar o escritório, a luz fluorescente do corredor piscou violentamente, cegando-o por um instante. O cheiro de café velho misturado ao odor metálico de papel e ferrugem pairava no ar, impregnando tudo. O corredor estreito estava vazio, exceto pelo som de teclados ao longe. Ele avistou o policial Clarkson, encostado na parede, bebendo água de uma garrafa amassada.

- Clarkson, como estão as investigações? - A voz de William ecoou, rompendo o silêncio sufocante do lugar.

Clarkson levantou os olhos cansados, as olheiras escuras ressaltando a fadiga no rosto.

- O xerife colocou Oliver no comando - disse Clarkson, jogando a garrafa vazia de água mineral no cesto, sem levantar muito a cabeça. - Não te avisaram?

William franziu a testa, sentindo um nó apertar em seu estômago. O zumbido distante de um ventilador velho tornava o silêncio entre eles quase insuportável.

- A senhorita Walter não me disse nada, e ela sempre é a primeira a ser informada das decisões do xerife.

Clarkson parecia tão surpreso quanto ele.

- Vou falar com ela - disse William, começando a montar o quebra-cabeça na mente. Com um sorriso sarcástico e disfarçado, despediu-se de Clarkson e deixou a delegacia, a porta pesada rangendo como se resistisse a cada movimento.

Lá fora, o mundo parecia tão sombrio quanto seus pensamentos. O céu estava coberto por nuvens grossas e cinzentas, as ruas desertas e as fachadas das lojas vandalizadas refletiam a decadência da cidade. O ar estava impregnado de um cheiro úmido e azedo, e o som distante de uma sirene ecoava entre os prédios abandonados.

Dirigindo pelo bairro, William observava as casas maltratadas pelo tempo. Muitas com janelas quebradas e tábuas soltas. Lixo se acumulava nas esquinas, enquanto figuras sombrias se encolhiam nas calçadas, lutando contra o frio.

Estacionou em frente à casa número 18, uma residência azul descorada, cujas paredes pareciam absorver o abandono ao redor. Ele caminhou lentamente até a porta e apertou a campainha.

- Mike, sou eu, William. Eu sei que você está aí. Só quero conversar.

O silêncio parecia se prolongar enquanto ele olhava para a varanda malcuidada, onde bonecas de pano jogadas no chão lhe davam uma sensação perturbadora. Finalmente, uma voz áspera veio de dentro.

- Você tem um mandado?

- Não vim para te prender. Só preciso falar com você.

O som da porta destrancando trouxe um sorriso fraco ao rosto de William, mas ao ver Mike, sua expressão se desfez. Mike estava desleixado, com uma barba malcuidada, roupas rasgadas e olhos castanhos carregados de frustração.

- Entre. - Mike abriu a porta com relutância. - Aceita um café ou chá?

William balançou a cabeça negativamente e foi convidado a se sentar no sofá surrado. Mike acomodou-se na poltrona à sua frente, o ambiente pesado e tenso.

SURVIVORS ᵖᵃⁿⁱᶜᵒOnde histórias criam vida. Descubra agora