𝑫𝒆𝒗𝒊𝒍 𝑬𝒚𝒆𝒔

P̷r̷o̷l̷o̷g̷o̷

 2 anos atrás...

Octavia D'Amico

O chuveiro deixou a água quente escorregar pelo meu corpo, misturando-se com a tensão que pairava no ar. Enquanto a água caía, meus pensamentos estavam focados na missão. Sabia que essa noite poderia mudar tudo, mas estava determinada a manter a calma. 

"Bambina!" A voz da minha mãe, Bianca, cortou o silêncio do banheiro. "Está na hora de se arrumar!"

Desliguei a água e me enxuguei, vestindo um robe. Minha mãe sempre esteve presente, mesmo nas horas mais difíceis. Ao sair do banheiro, encontrei ela parada na porta do meu quarto, observando com um sorriso suave que escondia a preocupação. Fui até o closet, pegando o vestido preto que minha mãe tinha escolhido para mim. Ao vesti-lo, o tecido suave me abraçou, e eu me senti um pouco mais poderosa, não era o que eu tinha escolhido inicialmente. Mamãe sempre dizia que certos momentos exigiam certa elegância. Eu discordava, mas também sabia quando ceder. Era mais fácil do que discutir com ela. Cada detalhe, desde a maquiagem até o modo como eu prendia o cabelo, era uma preparação para o que estava por vir. Quando terminei, Bianca olhou para mim com orgulho.

"Você está pronta?" ela perguntou, com certo receio.

"Pronta para enfrentar o mundo, ou pelo menos para a missão de hoje à noite," brinquei, tentando desviar a atenção de nós duas.

Ela soltou uma risada baixa. "Seja qual for o resultado, lembre-se de que você é forte, e sempre estarei aqui."

"Você está deslumbrante," disse ela, ajustando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. "Agora, precisamos ir. Seu pai já deve estar esperando."

Descemos as escadas juntas, e o silêncio parecia mais pesado conforme nos aproximávamos do escritório. Dante Bellani estava lá, imerso em papéis, o olhar sério e determinado. Ele era a rocha da nossa família, e a pressão daquela noite pesava em seus ombros. Assim que minha mãe se aproxima dele, suas mãos repousam suavemente sobre seus ombros, enquanto ele estuda alguns papéis sobre a venda das armas para o cartel Hernandez, ela o acompanha. Eles sempre fizeram isso, uma espécie de coreografia silenciosa entre eles. Eles têm uma relação de cumplicidade que eu sempre admirei, algo raro no nosso mundo.

"Bambina, está pronta?" Meu pai perguntou, sem olhar para cima. Com um cigarro entre os dedos, ele o leva entre os lábios dando uma tragada.

"Eu nasci pronta," digo, com um sorriso de canto, escondendo o turbilhão dentro de mim. Ele sabe que estou nervosa, mas nunca me deixaria transparecer isso.

Ele finalmente levantou o olhar, e um leve sorriso surgiu em seu rosto. 

"Tem certeza de que está tudo bem?" pergunta, os olhos firmes, mas com uma preocupação velada.

"Estou bem, pai. E você?"

Ele dá de ombros e apaga o cigarro no cinzeiro na mesa de canto. "Estou mais preocupado com essa negociação. Essa venda precisa ser perfeita."

A missão era clara, mas carregada de tensão. Nós faríamos uma grande venda de armas para o cartel Hernandez, nossos aliados. Uma negociação delicada.

Saímos juntos da mansão, acompanhados por Marco e alguns dos capos de confiança de papà. O carro nos esperava na frente, e a viagem até o local da reunião seria curta, mas o suficiente para que as engrenagens da minha mente continuassem girando. Não era a primeira vez que acompanhava meus pais em uma negociação desse porte, mas havia algo diferente no ar. Era difícil explicar, uma tensão não dita, um peso que eu sentia no peito.