Entre Sombras e estrelas [Draco Malfoy and Astoria Greengrass)

Manto da noite

O castelo de Hogwarts parecia ainda mais imponente sob o manto da noite. O silêncio no Salão Comunal da Sonserina contrastava com a agitação do lado de fora, onde o vento fazia as árvores do Lago Negro balançarem de forma ameaçadora. Draco Malfoy estava sozinho, encarando o vazio, os pensamentos consumindo-o como chamas silenciosas.

Desde o fim da guerra, sua vida se tornara uma teia de sombras, cada passo seguido por murmúrios que nunca cessavam. Aquele antigo brilho de arrogância em seus olhos agora era ofuscado por incertezas. Ele não se reconhecia mais, e cada dia dentro de Hogwarts apenas reforçava essa sensação. As cicatrizes da guerra não eram apenas físicas; elas estavam gravadas em sua alma.

Mas naquela noite, algo mudou. Um ruído suave quebrou o silêncio da sala, fazendo Draco se virar. Astoria Greengrass estava ali, de pé, com um leve sorriso nos lábios, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade que ele não esperava.

"Posso me sentar?" ela perguntou, com uma voz baixa e delicada, mas carregada de confiança.

Draco assentiu, surpreso. Astoria sempre fora uma presença sutil, mas algo nela chamava sua atenção. Ela era diferente das outras garotas da Sonserina; sua personalidade era tão serena quanto as estrelas que brilhavam sobre Hogwarts, mas havia uma força subjacente que ele mal começava a entender.

Astoria sentou-se ao lado de Draco, ambos em silêncio por alguns momentos, apenas ouvindo o som do vento que entrava pelas frestas das janelas.

"Você pensa no futuro, Draco?" ela perguntou de repente, os olhos fixos no céu noturno através da janela.

Ele franziu o cenho, confuso. "O futuro?"

"Sim. Há tanta coisa... incerta agora. Tantas sombras ao nosso redor. Mas, às vezes, eu olho para o céu e lembro que as estrelas estão sempre lá, mesmo quando não podemos vê-las." Ela o olhou profundamente, como se estivesse vendo além das paredes que ele erguera ao seu redor. "Você também pode escolher olhar para elas em vez das sombras."

Draco suspirou, desviando o olhar. "As sombras... elas me perseguem. O que fiz... o que aconteceu durante a guerra. É difícil esquecer."

Astoria inclinou a cabeça, sua expressão suave, mas determinada. "Nós não somos apenas nossas escolhas passadas, Draco. Nós somos o que decidimos ser agora."

Por um momento, ele se permitiu perder-se na profundidade dos olhos dela, sentindo uma estranha sensação de paz. Ninguém falava com ele daquele jeito. Ninguém o via além das sombras que ele próprio cultivara. Mas Astoria parecia enxergar algo mais, algo que ele mal ousava acreditar que ainda existia dentro dele: esperança.

"E você?" ele perguntou, tentando mudar o foco. "Como pode ser tão... tranquila? Depois de tudo?"

Astoria sorriu, um sorriso gentil, mas firme. "Porque eu sei que o mundo é feito de luz e escuridão. E sei que, em algum lugar entre as sombras e as estrelas, encontramos nosso caminho."

Draco a observou em silêncio, absorvendo suas palavras. Pela primeira vez em muito tempo, ele sentiu que havia uma possibilidade, ainda que distante, de redenção. Uma chance de encontrar algo além do vazio.

Astoria se levantou lentamente, os olhos ainda fixos nos dele. "Boa noite, Draco. Pense nisso."

Ela começou a caminhar em direção à saída, mas antes que desaparecesse no corredor, Draco a chamou.

"Astoria."

Ela se virou, uma leve curiosidade nos olhos.

"Obrigado."

Ela sorriu de novo, aquele sorriso que parecia iluminar a sala inteira, e então desapareceu nas sombras do corredor.

Draco ficou ali, olhando para o céu através da janela. Talvez, apenas talvez, houvesse uma maneira de caminhar para longe da escuridão. Talvez, entre as sombras e as estrelas, ele pudesse encontrar a luz que tanto desejava.

E de alguma forma, ele sabia que Astoria estaria lá, ao seu lado, para guiá-lo.