Capítulo 2 - Encontros, conversas e... certezas?

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"Sempre arrumo uma desculpa pra te ver
E se eu não acho, essa vai ter que ser com você
Fico até meio sem graça pra falar
Como eu me sinto bem quando você está"
(Desculpa pra te ver - BIAB)

Rebeca

Para surpresa de ninguém, as meninas do vôlei haviam vencido o jogo contra a República Dominicana. O jogo foi animado, com grande público brasileiro, e foi bom estar na torcida, para variar. Mesmo assim, fiquei tensa até o último minuto, desejando essa vitória tanto quanto elas.

Na área privada, encontrei e parabenizei Thaisa e Rosamaria, com quem eu tinha um pouco mais de intimidade, tiramos fotos e conversamos sobre o solo de ontem e o jogo de hoje.

– A Gabi tá dando entrevista, mas daqui a pouco ela já vem – Disse Rosa, com uma expressão meio engraçada no rosto, como se soubesse de algo que eu não sei.

– Ah, tudo bem, eu vim pra ver todas mesmo. Vou sentir saudades de dividir a academia e fisioterapia com vocês todos os dias – brinquei.

Alguns minutos depois, Gabi terminou as entrevistas e tirava fotos com os fãs, enquanto eu a observava de longe. Era difícil não percebê-la em qualquer ambiente, não só pela sua altura, mas também pela sua postura, seu sorriso e a energia que parecia irradiar em volta dela. Ela era vibrante.

Quando ela se desocupou, me aproximei e a cumprimentei.

– Gabi! Parabéns pelo jogo, você foi maravilhosa! – falei animada.

– Obrigada, Re! Obrigada por ter vindo, sei que você deve estar cansada – Gabi falou e logo se abaixou um pouco para me abraçar.

Mais uma vez, me peguei a observando, ou melhor, dessa vez catalogando como seu corpo era forte e a sensação de tê-la tão perto de mim. Tudo era novo, afinal, foram poucas as vezes que estivemos tão próximas assim. Toda vez que estávamos próximas eu notava algo diferente, agora, por exemplo, gravei na memória o cheiro do seu perfume que, mesmo após a partida, invadia o meu espaço sutilmente.

– Jamais perderia a oportunidade de ver você jogar – pensei rápido e acrescentei, tentando consertar – Quer dizer, de ver vocês jogarem, eu adoro acompanhar a seleção.

Ela sorriu, parecendo achar graça de mim – E você vai estar no próximo jogo, então?

– Vou estar até na final! Acho que meu voo tá marcado para uns dois dias depois. Quem sabe a gente consegue se encontrar depois, né? Sei que você tá bem focada agora.

Desde o início das Olimpíadas, não tivemos chance de realmente conversarmos, nos víamos às vezes durante os treinos e a fisioterapia, até mesmo jantamos junto com Lorrane, Flavinha e Thaisa, mas não passamos muito tempo juntas, o que me impediu de questionar como ela realmente estava, após tudo o que aconteceu nos últimos meses. Nós duas estávamos ocupadas, porém, com certeza, Gabriela estava sentindo um peso maior e se dedicava inteiramente ao time.

– Claro que sim, Re. Eu vou ficar mais uns dias por aqui depois da final, a gente pode combinar algo – falou sorrindo – Queria poder fazer algo antes, mas sinto que preciso muito focar pra conseguir me dedicar cem por cento ao time. Sinto que preciso me provar também, depois de todos os rumores – dessa vez, deu um sorriso sem graça, sem brilho.

– Você não tem que provar nada pra ninguém, Gabi, você já provou a atleta gigante que é, todos sabem – segurei a sua mão e dei um leve aperto – Aquelas coisas não são verdades, você sabe da sua dedicação e do seu profissionalismo.

– Talvez, mas ainda assim... – ela olhou pra trás quando alguém chamou o seu nome, sinalizando que era o momento de sair – Te vejo daqui alguns dias, então?

– Mal posso esperar para ver vocês amassarem os Estados Unidos – falei rindo e, só agora, percebi que não havia soltado a sua mão, o que fiz, então, de imediato, sentindo meu rosto corar e minha mão formigar com uma sensação estranha.

– Então eu acho que vamos ser obrigadas a ganhar, né? – falou sorrindo – Não posso te decepcionar.

– Você tem que ganhar para eu te levar pra comemorar aqui em Paris! – mais uma vez, falei quase sem pensar, e antes que pudesse formular algo para que eu não soasse obcecada por ela, novamente chamaram pelo seu nome e tivemos que nos despedir, com esse convite pairando no ar.

Demos um abraço de partida, e eu fui embora, com o sentimento de que ele deveria ter durado mais.

Naquela noite, em um restaurante no centro de Paris, contava para as meninas sobre o jogo e sobre minha conversa com a Gabriela.

– Eu não sei por que falei isso – resmunguei, tomando um gole do vinho – Fico me sentindo uma idiota perto dela, falo qualquer coisa que vem na cabeça. Parece que nunca fiz uma amizade nova na vida.

– Amiga, você fica assim porque tá a fim dela, é óbvio – Flavinha disse rindo.

– Foi o que eu falei também! – Lorrane falou animada, batendo a mão na mesa, chamando atenção das pessoas na mesa ao lado.

– Mas nós somos só amigas!

– Rebe, assim que ela terminou o namoro você tava na DM dela, você nem esperou o corpo esfriar.

– Não foi assim, Flávinha – me defendi – Você sabe que foi porque eu queria ver se ela tava bem, nós vimos tudo que aconteceu e que estavam falando dela... Você viu primeiro no twitter!

– Vimos sim! – deu de ombros – Mas só uma de nós foi tentar consolar ela.

– Você faz parecer como se eu tivesse segundas intenções – fiz uma careta – Eu só queria dar uma força.

– Eu sei, Rebe, eu to brincando – falou com suavidade e indagou – Só que, desde então, quantos dias vocês ficaram sem se falar?

Pensei e pensei, dei dois goles no meu vinho antes de responder e, finalmente, falei meio sem jeito – Acho que nenhum...

Não era como se tivéssemos longas conversas diariamente, mas todo dia trocávamos algumas mensagens breves, nem que fosse só um comentário em um story. Eu realmente gostava de conversar com ela.

– Pois é! E você foi até naquele jogo com a Flávinha, depois de tanto tempo com ela incomodando e você negando – Lorrane apontou, lembrando-se da partida da VNL que fomos um pouco antes das Olimpíadas.

– Vocês têm um ponto, mas isso tudo também é normal quando a amizade é nova, a gente se entende e é só isso – disse, encerrando o assunto – Sabe do que devemos falar? Sobre as nossas férias!

A partir daí, a conversa trocou de rumo e falamos animadamente sobre nossos planos para as férias, até ficar tarde demais e irmos embora.

Mais tarde, deitada na minha cama, Lorrane já dormia há tempos, enquanto eu refletia na madrugada adentro sobre a nossa conversa. Eu dei o assunto por encerrado, mas me peguei pensando por horas sobre aquilo, sobre a Gabriela.

Oii, gente! Espero que estejam gostando, comentem aí pra eu voltar em breve hehe

Inevitável |  Rebi (Rebeca Andrade/Gabriela Guimarães)Onde histórias criam vida. Descubra agora