Dia 0

Onda Silenciosa

Dia 27, segunda-feira 08:30 AM
Pedro relatando. Algo no ar mudou. O laboratório, antes agitado, agora parece envolto em uma tensão silenciosa. Os corredores estão menos movimentados, e percebo que faltam algumas figuras familiares. Colegas que costumavam trabalhar ao meu lado simplesmente não apareceram hoje. Nenhuma palavra sobre onde estão. Tento perguntar aos militares, mas as respostas são evasivas. Há uma cortina de silêncio que parece cobrir tudo.

02:45 PM
Um aviso foi dado no intercomunicador: mais uma vez, somos convocados a aumentar nossa carga de trabalho. Eles mencionam algo sobre uma "operação crítica" que está em andamento. Os militares estão mais presentes do que nunca, monitorando cada movimento nosso. Falam de uma guerra na superfície, algo envolvendo armas químicas, mas os detalhes são vagos, quase como se tivessem medo de revelar demais. Aparentemente, estamos em uma fase decisiva do Projeto Conquista, mas eu tenho minhas dúvidas sobre o que realmente está acontecendo lá fora.

Dia 28, terça-feira 07:50 AM
A atmosfera está mais densa do que nunca. Outro cientista não apareceu hoje. Isso faz três em dois dias. Tento entrar em contato com o Dr. Moreira, um dos chefes do laboratório, mas ele também está ausente. O sumiço de tantas pessoas é inquietante, e ninguém parece interessado em discutir o assunto. Quando menciono isso a um dos soldados, ele apenas me olha de forma calculada e muda de assunto rapidamente.

11:30 AM
No laboratório, tentamos continuar os testes, mas a concentração de todos está prejudicada. O “auxiliar” surge de repente, lançando olhares de desaprovação para a equipe. Há algo perturbador sobre ele, sua presença parece sempre estar acompanhada de um silêncio opressivo. Ele caminha lentamente entre as estações de trabalho, como se estivesse procurando por algo. Ou alguém.

03:15 PM
Durante uma pausa, saí do laboratório para espairecer. No corredor, vi novamente aquele grupo de militares ao redor de uma porta. Diferente das outras vezes, um deles segurava algo que parecia uma amostra de sangue. A conversa era rápida e em um tom baixo, mas pude ouvir palavras como "desaparecimento" e "controle de danos". Algo estranho está acontecendo, e as respostas parecem estar sendo escondidas de nós.

Dia 29, quarta-feira 06:20 AM
Hoje fomos informados de que alguns de nossos equipamentos precisariam ser "redirecionados" para uma nova ala que não tínhamos permissão de acessar. O que exatamente está acontecendo? O caos se intensifica e há rumores sobre uma operação em andamento na superfície que envolve o uso de agentes biológicos. A conexão entre o que estamos fazendo aqui embaixo e o que se passa lá fora parece óbvia, mas ninguém está disposto a admiti-la.

01:50 PM
Mais um desaparecimento. Um dos técnicos de laboratório não apareceu para o turno. É claro que nenhum comunicado oficial foi feito sobre isso, e os militares agem como se nada estivesse fora do normal. Mas entre nós, cientistas, os rumores começam a se espalhar. As pessoas estão sendo removidas? Elas são "deslocadas" para alguma operação sem nosso conhecimento? Ou há algo pior acontecendo? O "auxiliar" tem se mostrado cada vez mais evasivo quando pressionado sobre o assunto.

Dia 30, quinta-feira 09:15 AM
Hoje, durante uma reunião improvisada, um cientista mencionou em tom baixo que alguns dos desaparecidos foram vistos sendo escoltados para uma ala restrita do laboratório, que ele chamou de “Ala Zero”. Ninguém sabia o que ele queria dizer com isso, e os militares presentes rapidamente encerraram o assunto. Eu não consigo afastar a sensação de que essa "Ala Zero" pode ter ligação com os acontecimentos recentes.

06:50 PM
Ao retornar para o meu dormitório, vi algo que me congelou por dentro: a figura encapuzada, à distância, parada na escuridão de um corredor mal iluminado. Dessa vez, estava mais próxima, mas seus traços continuavam indistinguíveis. Quem é essa pessoa? O que ela quer? Tento me aproximar, mas um soldado aparece, e a figura desaparece nas sombras. Minha mente está a mil. Não sei mais em quem confiar.

Dia 31, sexta-feira 08:40 AM
O ambiente de trabalho está insustentável. As ordens dos militares e as exigências do governo nos forçam a acelerar os experimentos, mas estamos lidando com forças que não entendemos completamente. As reações químicas nas cobaias continuam imprevisíveis. As amostras de tecido infectado se comportam de forma errática, e a cada novo teste, novas variáveis desconhecidas surgem. Alguns colegas falam sobre mutações no vírus que vão além do que foi planejado.

03:30 PM
Mais rumores. Um grupo de cientistas foi visto discutindo em um canto isolado do refeitório. Falam sobre a guerra química, sobre como estamos sendo usados para criar algo muito mais perigoso do que qualquer um de nós jamais imaginou. Há um clima de rebelião no ar, mas quem ousaria enfrentar os militares armados que cercam o complexo? O conflito é palpável, e sinto que estamos à beira de algo terrível.

Dia 32, sábado 10:00 AM
Hoje foi encontrada uma anotação em um dos laboratórios, provavelmente deixada por um dos desaparecidos. Não havia assinatura, apenas uma frase escrita apressadamente: “Não confie no que está na superfície.” O que isso significa? Mais um enigma sem resposta. Tudo ao nosso redor parece estar desmoronando, e os desaparecimentos continuam sem explicação. Cada vez mais, sinto que estamos caminhando às cegas em direção a algo inominável.

07:00 PM
Antes de encerrar o dia, passei pelo corredor principal e novamente encontrei a figura encapuzada. Desta vez, nossos olhos se cruzaram, e por um momento, senti que algo terrível estava sendo revelado sem palavras. Ela simplesmente apontou para uma porta no final do corredor – a mesma porta pela qual os militares tanto vigiam. O que está escondido lá dentro? Não sei se tenho coragem para descobrir.