Dia 39 - Segunda-feira 07:30 AM
Pedro relatando. O complexo está em colapso. As tensões entre os cientistas e os militares atingiram um ponto crítico. Hoje, ao chegar ao laboratório, encontrei um dos pesquisadores discutindo ferozmente com um oficial de alta patente. As vozes ecoavam pelos corredores, misturando raiva e desespero. A questão era clara: por que estávamos sendo mantidos no escuro? Mas a resposta que veio me deixou gelado.
"Todos os agentes virais criados até agora foram utilizados em combate", o oficial disse com uma frieza perturbadora. O impacto de suas palavras foi como um golpe. Ninguém no laboratório sabia, ou talvez ninguém quisesse acreditar que o que estávamos desenvolvendo já havia saído das paredes do complexo. As modificações virais que criamos, as mutações, as variantes experimentais – tudo estava sendo testado no campo de batalha. E nós, como peças insignificantes, ignorávamos as consequências.
11:15 AM
Após a discussão, o laboratório mergulhou em um silêncio opressivo. Decidi investigar por conta própria. Sabia que algo estava sendo escondido nos níveis inferiores, nas alas de contenção que haviam sido isoladas. O "auxiliar" parecia se mover de forma suspeita, como se soubesse mais do que deixava transparecer, mas ele não estava à vista hoje. O silêncio inquietante o substituiu.
Encontrei uma passagem para o setor C, que havia sido interditado há dias. A porta estava destrancada, mas parecia que ninguém ousava entrar. Ao atravessar o corredor, o cheiro de decomposição misturava-se com o ar estagnado. O que vi dentro daquela ala mudou tudo.
Dia 40 - Terça-feira 08:00 AM
Descobri os desaparecidos. Ou o que restou deles. Homens e mulheres que trabalharam lado a lado comigo, agora transformados em algo grotesco. Corpos que antes foram humanos, agora reanimados por um vírus que os tornava imortais, mas longe de qualquer humanidade. Suas peles necrosadas estavam cobertas de cicatrizes, os músculos tensionados em espasmos incontroláveis. Eles estavam sendo usados como experimentos. Estavam testando a eficiência do vírus nesses corpos, em busca de criar o soldado perfeito. Um exército de mortos que não sentem dor, que não precisam de descanso.
Os olhos vidrados, vazios, daqueles que um dia foram meus colegas me perseguiam enquanto eu observava os experimentos cruéis. Não restava nada neles além de funções motoras básicas, respostas químicas a estímulos. Os militares os observavam como se fossem meros objetos.
01:30 PM
Voltei ao meu laboratório, a mente girando com a visão horrível que testemunhei. O que estamos fazendo? O que criamos? A decadência do laboratório já começou, e agora os militares estão lutando para manter o controle. O caos se instala rapidamente. Não há mais pretexto de manter a ordem. As alas estão sendo fechadas, uma a uma, como se tentassem conter o inevitável. Mas é tarde demais.
Dia 41 - Quarta-feira 07:50 AM
Os zumbificados – como os chamamos agora – estão se tornando mais fortes, mais rápidos. As modificações virais estão acelerando o processo de regeneração celular e aumentando as capacidades físicas a níveis sobre-humanos. E isso não é apenas teórico. Eles testam essas habilidades repetidamente.
Ouvi os guardas murmurando algo sobre "a arma definitiva". Será que eles acham que conseguiram transformar a desgraça que criaram em uma vantagem? O pesadelo se aprofunda.
03:10 PM
Uma briga explodiu no corredor principal. Um dos cientistas, Dr. Lemaitre, perdeu o controle e atacou um oficial militar. Ele gritou que não aguentava mais ver os horrores sendo realizados dentro das alas secretas. Os militares o subjugaram, mas antes de ser arrastado para fora, ele gritou: "Isso não é ciência! Isso é a destruição da humanidade!"
Sinto que Lemaitre está certo. O que estamos fazendo aqui não tem mais sentido. A pesquisa, a ciência, foi pervertida. O objetivo nunca foi o fortalecimento dos soldados. O vírus foi sempre a verdadeira arma. E nós, os cientistas, somos meros instrumentos disso.
Dia 42 - Quinta-feira 09:45 AM
O complexo está desmoronando rapidamente. Zumbis, se é assim que devemos chamá-los, estão começando a escapar do controle. Os protocolos de segurança falharam em várias alas, e os militares estão lutando para contê-los. Agora, os soldados desaparecidos também estão sendo descobertos nas câmaras de teste, transformados em experimentos grotescos.
A sala de contenção foi lacrada, mas eu sei que é questão de tempo antes que tudo se rompa. A desesperança está tomando conta de todos. Ninguém confia mais em ninguém. Aqueles que ainda estão sãos estão tentando escapar, mas os militares não permitem. Ninguém sai. Ninguém entra.
04:00 PM
Vi o "auxiliar" novamente. Desta vez, ele me abordou diretamente, sua expressão fria, como se já soubesse de tudo o que eu havia descoberto. "Você viu, não é?", ele disse, com um leve sorriso que não atingia seus olhos. "Agora entende a verdadeira extensão do que está acontecendo aqui."
Ele não explicou mais nada. Apenas se afastou, desaparecendo nas sombras dos corredores. Quem é ele, afinal? E por que parece estar sempre um passo à frente de todos nós?
Dia 43 - Sexta-feira 06:30 AM
Agora sabemos. Não há como voltar atrás. As alas restantes foram bloqueadas, mas os gritos dos infectados podem ser ouvidos através das paredes. A situação na superfície deve ser igualmente sombria, mas estamos completamente isolados de qualquer informação. Tudo o que sabemos é que o mundo como conhecíamos está se desintegrando.
O colapso é iminente. E eu sinto que, de alguma forma, o "auxiliar" está no centro de tudo isso.
Dia 44 - Sábado 05:20 PM
Tentei falar com alguns colegas sobre uma saída, mas ninguém sabe o que fazer. Estamos todos presos aqui, esperando o inevitável. A linha entre a ciência e o horror foi completamente obliterada. O vírus, nossas pesquisas, tudo se converteu em uma ferramenta de destruição. Eu vejo isso agora.
O fim está chegando.
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Dia 0
Science FictionO diário de Pedro, um cientista envolvido em um misterioso projeto governamental, revela o desespero e o caos em um mundo à beira do colapso. Designado para trabalhar no "Projeto Conquista", Pedro e sua equipe acreditam que estão desenvolvendo uma a...