Minhas Cartas Para Y.J

cortesia de mãe: terapia grátis.

As manhãs sempre tiveram o mesmo tom monótono e melancólico de sempre. Todos os dias, a mesma rotina, acordar cedo, tomar banho e café, e me forçar na escola.

Todo dia era um dia de abismo, onde eu estava prestes a cair e não conseguir voltar para a superfície mais, como se o coelho da Alice estivesse me chamando pro buraco, e eu fosse tapada o suficiente para descer, mesmo que não fosse minha culpa. Minha mãe sempre me cobrou bastante, assim como todos os meus irmãos, mas parecia que, comigo era diferente. Sempre escutei dela coisas do tipo: "Nayeon, vai estudar!", "Nayeon, não estou vendo você se esforçar." ou até mesmo, "Suas notas estão péssimas." mesmo que eu estivesse com no mínimo nove em todas as competências.

Um nove nunca era suficiente para ela, tal qual a sua reação quando eu tirava um dez não era pra mim. Ela nunca me parabenizava, nunca parou um instante se quer para pensar em como a própria filha estaria com essa pressão inteira. Afinal, ela queria uma filha ou uma máquina? Era até cômico e contraditório ela me inscrever em uma roda de terapia na escola, uma vez que eu sempre pedi para ela me por na psicóloga. Mas ela sempre falava que a terapia nunca iria resolver meus problemas, que eu tinha que estudar e isso nunca ia me levar a qualquer lugar. Achei sem noção, mami, menos cem pontos pra sua conta.

Já havia passado três dias desde que eu fui inscrita naquela porcaria, passei o final de semana inteiro ouvindo minha mãe reclamar na minha cabeça, falando que aquilo seria bom pra mim. Não, mãe, não seria. Agora, na segunda, daqui a dois dias seria quarta feira, a primeira sessão. E sinceramente, eu nem sabia o que isso poderia significar, as atrocidades que sairiam de lá... Quero nem ver.

Enquanto eu estava no intervalo, me encontrei com Momo e Sana, minhas melhores amigas, que estavam na arquibancada da quadra interna, olhando as meninas do time de futsal jogando. Era sempre assim, uma babação pior do que a outra, meia hora vendo marmanjas correrem de um lado para outro por uma bola.

— Vocês vão realmente ficar aqui mais trinta minutos olhando elas? Sério? — Perguntei, apoiando meus cotovelos nos meus joelhos, semicerrando os olhos, tentando enxergar o que elas tanto olhavam.

— Ah, Nay... Vê se você não baba também? Olha pra ela... — Sana me respondeu, fixando os olhos em Jihyo, que corria de um lado para o outro. Meio metro de gente, mas enorme, tenho que concordar, a mulher era uma delícia com aqueles músculos. — Eu passaria horas olhando a Jihyo, uma pena que ela só tem olhos pra vagabunda da Sejeong. — Ela parou de olhar por uns instantes, virando a atenção para nós. — Vocês ficariam com alguém que te trai todos os dias? O que a Jihyo tem de linda, tem de burra.

Eu e Momo rimos, e por falar em Hirai, foi a vez dela de falar de mulher... Ai... Que preguiça.

— Ah, Sana, eu não acho ela grande coisa sabe? Ok, ela é bonita... Mas acho que tem melhores. — Ela suspirou. — Por exemplo, a Jeongyeon, olha pra uma mulher dessa? Ao contrário da Jihyo, ela é alta, e tem um voz, que nossa...

Jeongyeon... Esse nome me era familiar, tentei buscar no fundo da minha mente, e finalmente lembrei.

— Essa Jeongyeon não é aquela que falta pra um cacete e se atrasa sempre? — Perguntei, focando meus olhos na garota que berrava na quadra, olha, até que ela era bonitinha... Após minha pergunta, as japonesas assentiram, confirmando que era ela mesma. — Até que ela não é de todo ruim. Por que você não tenta ir até ela Momo? Acredito que ela não deve ter ninguém, até onde eu saiba.

— Tá brincando? Ela é rodeada de mulher. Tem uma japonesa que sempre anda com ela... Como era o nome dela mesmo, Sana? — Hirai perguntou pra japonesa mais nova.

— Acho que é alguma coisa tipo... Misa? É Misa?

— Não, bocó, é Mida! — Momo rebateu, e as duas começaram a discutir. Era o dia todo assim