Era uma tarde quente de primavera na Outer Banks. O sol brilhava implacável no céu, enquanto as crianças corriam pela quadra de futebol da escola. JJ Maybank, com apenas 10 anos na época, estava determinado a ganhar o jogo. Com a bola nos pés, ele corria mais rápido que todos os outros, esquivando-se dos defensores com uma agilidade que seus amigos Pogues adoravam.Para JJ, aquele jogo era mais do que apenas uma brincadeira de recreio. Era uma chance de provar algo, de mostrar que ele era tão bom quanto qualquer outro garoto, mesmo que não fosse um dos ricos e mimados Kooks que dominavam a ilha. E, mais importante, era uma maneira de esquecer por alguns minutos o caos que sua vida em casa podia ser.
Com uma última arrancada, JJ driblou o goleiro e chutou a bola com força. Ela voou diretamente para o fundo da rede improvisada, garantindo a vitória do seu time. Os Pogues correram para ele, batendo em suas costas e gritando em celebração.
Foi aí que ele a ouviu. A voz que ele associaria a humilhação e desprezo pelos próximos anos.
— Uau, olha só, um Pogue achando que pode ser algo mais — disse Stephany Parker, a Kook mais rica e arrogante da escola, sua voz soando doce, mas com uma pontada de veneno.
JJ congelou, o sorriso desaparecendo lentamente de seu rosto. Ele se virou, os olhos estreitados em direção a Stephany, que estava encostada em uma das grades da quadra, cercada por outras crianças da elite da ilha. Seus longos cabelos loiros brilhavam ao sol, e ela exibia um sorriso presunçoso que o irritava profundamente.
— O que foi que você disse? — JJ perguntou, sua voz carregada de raiva, mas ainda controlada. Ele estava acostumado com os olhares condescendentes dos Kooks, mas algo na maneira como Stephany o olhava o fez querer gritar.
Stephany riu, um som leve e quase musical, como se ele fosse o ser mais patético que ela já tivesse visto.
— Só estou dizendo, Maybank, você pode correr atrás de uma bola o quanto quiser, mas no fim do dia, você ainda é só um Pogue. — Ela levantou as sobrancelhas, o desafio estampado em seus olhos.
O sangue de JJ ferveu instantaneamente. Seus punhos se cerraram ao lado do corpo. Para ele, não havia nada pior do que ser lembrado constantemente de que ele não pertencia ao mundo dos Kooks, que ele nunca teria o que eles tinham. E ouvir isso de Stephany Parker, a garota mais privilegiada de toda a ilha, doía ainda mais.
— E você ainda é uma garota mimada que não faz nada sozinha. Tudo que você tem foi dado. — A resposta saiu antes que ele pudesse se segurar.
Stephany parou de sorrir por um momento, seus olhos azuis se estreitaram levemente. Mas, ao invés de responder com raiva, ela deu um passo à frente, desafiando JJ de uma maneira que ele não esperava.
— Talvez. Mas pelo menos eu não finjo ser alguém que não sou. — Sua voz soou fria, calculada, e ela se virou, afastando-se com suas amigas, deixando JJ parado ali, fervendo em raiva e humilhação.
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Os anos passaram, mas JJ nunca esqueceu aquele momento. Para ele, Stephany Parker representava tudo que havia de errado nos Kooks: a arrogância, o privilégio e a crença de que estavam acima de todos. Mesmo quando ambos cresceram e tomaram caminhos diferentes, aquela memória ficava enraizada em sua mente, alimentando o desprezo que sentia por ela e pelos que ela representava.
Agora, no presente, enquanto JJ a observava de longe em uma das festas luxuosas dos Kooks, o ódio ainda estava lá, tão intenso quanto naquele dia na quadra de futebol. Ela era a mesma Kook rica, intocável e intocada, com um sorriso perfeito e um olhar de superioridade que nunca deixava seu rosto.