A noite estava longe de acabar para JJ Maybank. O som dos gritos abafados e das festas na praia agora era substituído por algo muito mais sombrio: as luzes vermelhas e azuis da viatura refletiam nas janelas das lojas enquanto o policial Kook, que ele conhecia bem demais, o empurrava com brutalidade para dentro da delegacia.
— Anda logo, Pogue, não temos a noite toda — o policial cuspiu as palavras, empurrando JJ com mais força do que o necessário.
JJ tentou manter a cabeça erguida, mas o peso das algemas em seus pulsos e o aperto em sua garganta faziam isso difícil. Ele sabia que essa prisão era mais uma desculpa para o policial mostrar o pouco de poder que tinha sobre os Pogues. Não era a primeira vez que JJ era parado por "direção perigosa" ou "perturbação da ordem pública", e certamente não seria a última.
— Sabe que não fiz nada de errado, Calhoun. — JJ retrucou, tentando manter sua voz controlada, apesar da raiva fervendo por dentro. — Você só quer ferrar minha vida porque sou um Pogue.
O policial Calhoun, um dos piores Kooks da ilha, apenas riu.
— E você vai ter uma boa lição dessa vez, Maybank. Ah, e sobre sua moto? Considera ela confiscada. E, claro, a fiança vai ser bem salgada. — Calhoun sorriu, claramente se divertindo com o tormento de JJ. — Vamos ver se seu pai vai gostar disso.
Essas palavras fizeram o coração de JJ disparar. Seu pai. O pânico começou a crescer em seu peito. Ele sabia muito bem o que o esperava quando seu pai descobrisse que ele tinha sido preso — mais uma surra daquelas. Cada detalhe daquele pesadelo era familiar demais: os gritos, os socos, as noites mal dormidas. JJ estava desesperado para não deixar isso acontecer.
Eles chegaram à delegacia, e Calhoun o puxou para fora da viatura. Enquanto o policial o levava algemado para dentro, algo chamou a atenção de JJ — um carro luxuoso parando na calçada.
Era Stephany Parker.
Ela estava ao volante de seu carro importado, os olhos castanhos fixos nele, e JJ sentiu seu estômago revirar. Claro que ela tinha que estar ali naquele momento, para testemunhar sua humilhação. Ela saiu do carro com a mesma elegância arrogante de sempre, os cabelos castanhos esvoaçando levemente com o vento da noite, e se aproximou da delegacia com um passo decidido.
— JJ Maybank sendo preso? — Stephany comentou, levantando as sobrancelhas com uma falsa surpresa. — Não é nada incomum.
JJ apenas estreitou os olhos para ela. Ele não tinha paciência para seus comentários sarcásticos agora. Tudo o que ele queria era sair dali o mais rápido possível e, de preferência, evitar mais problemas com o pai.
— O que você quer, Parker? — JJ cuspiu as palavras.
Antes que ela respondesse, Stephany passou direto por ele e entrou na delegacia. Ele a observou, sem entender, enquanto ela se dirigia diretamente ao delegado, que parecia conhecê-la bem demais.
— Delegado Wilkins — Stephany sorriu com a voz suave e controlada. — Acho que houve um pequeno mal-entendido.
JJ franziu o cenho, confuso. O que ela estava fazendo?
— Mal-entendido? — O delegado perguntou, lançando um olhar para o policial Calhoun, que parecia igualmente surpreso.
Stephany respirou fundo, compondo uma expressão de urgência.
— Sim, na verdade, eu pedi ao JJ que fosse até minha casa com urgência esta noite. O disjuntor explodiu e eu fiquei sem energia. Ele estava dirigindo rápido porque eu implorei para que ele fosse o mais rápido possível.
O delegado olhou de Stephany para JJ, claramente ponderando. JJ, ainda processando a situação, ficou em silêncio. Ele não sabia o que dizer, mas algo em Stephany parecia totalmente controlado.
— Stephany, eu entendo sua preocupação, mas ele foi pego dirigindo perigosamente... — o delegado começou a argumentar, mas Stephany o interrompeu com a calma característica dos Kooks.
— Assumo total responsabilidade por qualquer coisa que tenha acontecido. Eu confiei nele para me ajudar, e ele só estava tentando ser rápido. Se isso é um problema, estou disposta a pagar a fiança e garantir que ele se comporte — disse ela, sorrindo suavemente.
O delegado suspirou, derrotado. Ele sabia que não podia dizer não a Stephany Parker, a filha da família mais rica da ilha. E JJ também sabia disso.
— Tudo bem, vou liberar o garoto. Mas da próxima vez... — o delegado deixou a ameaça pairar no ar antes de se virar para Calhoun e dar a ordem para soltar JJ.
JJ estava atordoado. Quando o soltaram das algemas e devolveram sua jaqueta, ele seguiu Stephany em silêncio até o lado de fora da delegacia. Lá, ela o guiou até o carro dela, uma Range Rover novinha que JJ sabia muito bem quanto custava.
— Entra — Stephany disse, abrindo a porta do passageiro.
JJ hesitou por um momento, mas, sem muitas opções, entrou no carro. A tensão entre eles era palpável, mas Stephany não parecia disposta a dizer nada enquanto dirigia pelas ruas da ilha em direção à casa dela.
Eles chegaram rapidamente à enorme mansão dos Parker, e Stephany estacionou na frente. Ela saiu do carro e JJ a seguiu, sem saber o que esperar. Enquanto entravam na propriedade luxuosa, JJ olhou ao redor, ainda se perguntando por que diabos ela tinha mentido por ele.
— Por que você fez isso? — JJ finalmente quebrou o silêncio, sua voz carregada de desconfiança. — Não faz o menor sentido.
Stephany parou na entrada da casa, se virando para encará-lo. Seus olhos castanhos encontraram os de JJ, e por um breve momento, algo nos olhos dela mudou. A arrogância habitual se dissipou.
— Eu fiz porque achei que era o certo a se fazer — ela disse simplesmente, seus lábios se curvando em um meio sorriso enigmático. — E porque... eu sei como seu pai é.
JJ piscou, surpreso. Não esperava aquilo. Ele não sabia como reagir, e por um segundo, viu algo diferente nela. Não era apenas a Kook rica e mimada. Talvez houvesse mais ali. Mas antes que ele pudesse responder, Stephany balançou a cabeça, quebrando o momento.
— Agora que você está fora da delegacia, é melhor ir para casa antes que cause mais problemas. — Ela abriu a porta para ele com um gesto de desdém, como se quisesse se livrar dele o mais rápido possível.
JJ saiu da casa, mas quando estava prestes a descer os degraus da mansão, ele olhou por cima do ombro. Por um breve instante, ele sentiu uma onda de algo diferente dentro de si — algo que ele não sentia há muito tempo. Era um leve sorriso que ameaçava surgir em seus lábios. A atenção dela, por mais inesperada que fosse, tinha mexido com ele de uma forma estranha.
Mas antes que o sorriso tomasse forma, ele se repreendeu. Não. Ela ainda é Stephany Parker. E ele ainda a odiava, não importava o que ela tivesse feito.
Do lado de dentro da mansão, Stephany o observava sair, seus olhos castanhos fixos nele enquanto ele desaparecia no horizonte. Ela sabia o que estava em jogo. JJ poderia não entender, mas ela o ajudou porque sabia o que aconteceria se ele fosse parar em casa depois daquela prisão. E mesmo que nunca admitisse, ela não podia permitir que isso acontecesse.