Capítulo 8: Um Novo Mundo

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Se quer mesmo ser feliz, vai ter que aprender a ignorar muita coisa. Ignorar as vozes que sussurram dúvidas no seu ouvido, aquelas que dizem que você não é suficiente, que deveria se encaixar em um padrão. Ignorar os "não" que a vida te lança, como se fossem barreiras intransponíveis. Ignorar as redes sociais que te mostram um mundo perfeito, mas que, na verdade, é só uma tela cheia de filtros.

Na verdade, a felicidade é um ato de rebeldia contra tudo isso. É escolher olhar para dentro e encontrar a sua própria definição de sucesso. É entender que a vida não é uma competição, mas um caminho cheio de curvas e desvios. Às vezes, você vai precisar desviar do que a sociedade espera de você para encontrar seu próprio ritmo.

É sobre aprender a dizer "não" ao que não te alimenta, seja uma relação tóxica ou um trabalho que drena sua energia. É sobre se permitir ser vulnerável, mesmo em um mundo que valoriza a força. E, acima de tudo, é sobre cultivar a gratidão pelas pequenas coisas que, no fundo, são as mais importantes: um sorriso sincero, um momento de silêncio, um pôr do sol que te faz parar e respirar.

Acordei naquela manhã com a cabeça tão cheia de pensamentos que parecia que um furacão tinha passado por mim. O dia estava quente, mas o peso no meu coração deixava tudo mais insuportável. O que eu ia fazer? O que era melhor pra mim? Continuar nessa vida cheia de desafios na favela ou arriscar tudo por um amor que parecia mais uma miragem?

Depois de ajudar minha mãe na vendinha e escutar as histórias que ela sempre contava, resolvi que precisava de um tempo pra pensar. Fui até a praça, onde o sol batia forte e as crianças corriam, rindo e brincando. O barulho da vida ao meu redor era como uma música familiar, mas a melodia estava desafinada.

Sentada num banco, olhei ao redor. Ali estavam minhas raízes: as pessoas que eu amava, as risadas, as lutas. Cada canto da favela tinha uma lembrança, e eu sabia que tudo isso fazia parte de mim. Mas o Pietro? Ele também fazia parte agora, e a ideia de perdê-lo me deixava em frangalhos.

Enquanto eu pensava, vi o Léo, um moleque do morro, jogando bola com os amigos. Ele sempre tinha energia pra dar e vender, e isso me fez lembrar que, apesar de tudo, a vida também tinha seus momentos bons. Mas, cá entre nós, eu não sabia se estava pronta pra deixar tudo isso pra trás.

Pietro me mandou uma mensagem perguntando se podíamos nos encontrar. Meu coração disparou, mas a ansiedade também apertou. O que ele tinha pra me dizer?

Nos encontramos na pracinha, e o clima estava tenso. "Oi, Cidinha," ele disse, mas a animação não estava lá. "Acho que a gente precisa conversar."

"Sobre o que? Você tá me assustando," eu falei, tentando disfarçar o medo.

"É sobre minha família. Eles tão preocupados com a minha ausência e querem que eu volte. Tem um evento importante e eu não posso faltar," ele explicou, olhando pra baixo, como se estivesse tentando evitar meu olhar.

Aquelas palavras caíram como um balde de água fria. "Então você vai embora?" eu perguntei, a voz tremendo. "E o que vai ser da gente?"

"Eu não quero que isso acabe. Mas eu preciso ir, Cidinha. Não posso desrespeitar minha família," ele disse, e eu vi a dor nos olhos dele. Aquelas palavras me cortaram como faca.

"Mas e nós? E tudo que a gente construiu?" eu perguntei, sentindo o coração apertar.

"Eu quero voltar. Quero que você venha comigo, quero que você conheça a minha vida. Mas eu entendo se você não quiser," ele respondeu, e a sinceridade dele me tocou, mas a dor ainda queimava.

"Pietro, você sabe que a vida lá é muito diferente. Eu não sei se consigo me adaptar. E se você me esquecer?" As palavras saíram sem pensar, mas eram a pura verdade.

Ele segurou minha mão e, naquele momento, parecia que o mundo tinha parado. "Eu não vou te esquecer. Quero que você faça parte da minha vida. Mas eu preciso que você confie em mim. Isso não é fácil pra mim também."

Fiquei em silêncio, pensando em tudo que estava em jogo. O amor que estávamos construindo, a vida que eu conhecia, meus medos. Era tudo muito complicado, como um quebra-cabeça que não se encaixava.

"Eu não sei se estou pronta pra isso, Pietro," eu finalmente disse, com a voz falhando. "A vida aqui já é difícil. E se eu for pra lá e não me sentir em casa?"

"Sei que é um risco, mas toda relação envolve riscos. Vamos enfrentar isso juntos. Você é a pessoa que eu quero ao meu lado," ele disse, e, por um momento, eu me senti segura. Mas logo a insegurança voltava, como uma sombra.

Naquela noite, voltei pra casa com a cabeça cheia de incertezas. O que eu queria era simples: ser feliz. Mas como eu poderia ser feliz se tudo estava tão bagunçado?

Desabafei com minha mãe, que sempre tinha as palavras certas. "Mãe, tô perdida. O Pietro quer que eu vá com ele, mas eu não sei se consigo deixar tudo pra trás," eu disse, sentindo as lágrimas escorrem.

Ela me olhou com aquele olhar que só mãe tem. "Filha, a vida é feita de escolhas. Às vezes, a gente tem que arriscar. Mas nunca esqueça de onde você veio. Suas raízes são importantes, mas você também pode voar alto," ela me aconselhou, e eu percebi que tinha que encontrar o equilíbrio entre as duas coisas.

Nos dias seguintes, eu continuei a pensar na proposta do Pietro. Ele era um cara bom, me fazia sentir viva, mas a vida na favela era dura, e eu não podia simplesmente virar as costas pra tudo isso.

Decidi que precisava ver como seria a vida dele na zona Sul antes de tomar uma decisão. Então, mandei uma mensagem pra ele. "Pietro, eu quero te conhecer melhor. Quero ver sua vida. Vamos fazer isso?"

Ele respondeu rapidinho, quase pulando de alegria. "Claro! Eu vou te mostrar tudo! Você vai amar!"

E foi assim que, num sábado ensolarado, nos encontramos e pegamos um ônibus rumo à zona Sul. Eu estava nervosa, mas também animada. O que eu ia ver? Como seria a vida do Pietro?

Enquanto o ônibus avançava, eu olhava pela janela e via a mudança no cenário. A cidade estava se transformando, e, ao mesmo tempo, eu sentia que estava prestes a dar um passo importante. Um passo que poderia mudar tudo.

Quando chegamos, Pietro me levou a um parque lindo, com árvores grandes e flores coloridas. "Bem-vinda ao meu mundo," ele disse, com aquele sorriso que me derretia. E, por um momento, eu senti que tudo poderia ser possível. Mas a verdade é que a vida na zona Sul era um sonho que eu precisava entender.

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