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OO6. | LOBISOMEM
Tudo aconteceu tão rápido que o homem recebeu um golpe forte sem sequer conseguir piscar.
No lugar que o menino ocupava anteriormente, havia agora uma criatura do tamanho de um urso. Sua mãe olhou para ele com tanto espanto que esqueceu completamente o homem gravemente ferido a seus pés.
— Ian... — ela chamou sem intenção de assustá-lo. — Pelo amor de Deus, Ian – ela observou enquanto o pelo esbranquiçado da criatura ainda brilhava com a luz da luminária, seus grandes olhos azuis analisando-a antes de emitir um rosnado na direção do sujeito que se movia no chão.
Mas um barulho vindo da escada o fez se virar. Leah, atordoada com o que seus olhos viram, afundou no degrau.
— Leah — o lobo olhou para ela esperando que algo acontecesse, mas nada aconteceu. Só notou o choque que a morena estava passando.
— Leah, não se mexa — disse a mais velha sem se mover muito do lugar, e embora a dor dos cortes fosse profunda, ela precisava que seu filho voltasse a si antes que o pior pudesse acontecer.
Mas o que ela não sabia era que Ian estava consciente o suficiente naquele momento para distinguir o certo do errado. E o único perigo que ele sentiu naquele momento foi chafurdar na dor do ataque.
— Você! — o homem parecia horrorizado com o lobo à sua frente, enquanto suas mãos manchadas com o sangue da ferida tremiam. — Você é um monstro!
Ian o atacou assim que percebeu suas intenções, enquanto uma de suas mãos batia no chão em busca de um pedaço de vidro. E quando o encontrou, um sorriso malicioso apareceu em seu rosto.
Ele, junto com o lobo, derrubou uma das paredes sem muito esforço. Batendo as costas do homem na terra molhada graças à chuva, colocando-se sobre ele e abrindo as mandíbulas a poucos centímetros de seu rosto.
Seus gritos antes de cair inconsciente foram ofuscados pelos rosnados do lobo e pelos trovões que ecoavam no céu cinzento.
Bella, por sua vez, engasgou ao assistir aquela cena. Incapaz de se mover devido ao pânico, seus olhos viajaram da grande criatura para o buraco que ela havia feito na parede da casa.
E não demorou muito para que a mãe do menino e a morena saíssem dela.
Aos poucos o medo tomou conta de seu corpo pois ele não conseguia visualizar a morena. Ignorando a promessa que ele havia feito, ela saiu da caminhonete e caminhou com medo em direção à casa.
No meio do caminho ela tropeçou nos próprios pés e caiu de joelhos na lama, chamando a atenção do lobo albino. Que olhou para ela, tendo uma grande surpresa no momento em que seus olhares se encontraram.
Naquele momento, as histórias que seu pai lhe contava quando criança sobre os lobisomens que viviam em sua tribo faziam sentido. As lendas sobre metamorfos e impressão eram verdadeiras e ele mal conseguiu perceber isso, mesmo depois de ter se transformado em um.
Sentiu como os laços que o uniam à família se dissiparam e criaram um que o unia apenas à morena.
Seus sentimentos para com as pessoas em sua vida não eram mais de extrema importância. Seu pai, sua mãe, seus amigos, Leah...
Leah.
Ele rapidamente tirou os olhos da morena e os levou para a morena que ainda olhava com expectativa o que estava acontecendo.
Ele se amaldiçoou por não ter conseguido lutar por ela, pelos sentimentos dela que talvez nunca fossem correspondidos. Mas isso não importava mais, certo?
Agora ele havia sido impresso pelo amor platônico daquele que já foi seu melhor amigo. E com medo disso, Ian enterrou as patas na lama antes de correr em direção à floresta.
— Ian! — Bella, ainda em estado de choque, olhou para a mãe do menino ao ouvir seu nome gritar e quando não obteve sucesso, olhou para a garota lobo ao seu lado. — Preciso que você conte isso ao seu pai — a mulher mais velha mancava com dificuldade.
— Mas Ian — Leah queria seguir a criatura mas a mais velha negou.
— Ele pode não nos reconhecer, pode te machucar sem nem querer. Apenas vá.
A garota se afastou relutantemente antes de mudar de ideia. Por sua vez, Raquel, mãe de Ian, aproximou-se lentamente da morena.
— Você está bem, querida? — Bella se assustou com o contato da mão da mulher em seu ombro. — Temos que chamar a polícia, você pode me ajudar a segurá-lo? — com a outra mão apontou para o homem inconsciente na lama.
A garota, ainda tentando processar o que aconteceu, assentiu, sem muita certeza.
— O que foi tudo isso? — ela questionou ao se levantar, e deixou a mulher ferida se apoiar nela. — Aquele... aquele era Ian?
— Você pode não entender nada, mas não é algo que acontece com muita frequência — ela tentou brincar ao ver os danos causados pelo filho. — Mas nunca acreditei que ele tivesse os genes, e ele culpou o pai por me deixar sozinha com um adolescente que poderia arrancar minha cabeça a qualquer momento se ficasse com raiva.
— Ele não faria isso! — ela disse contra essa ideia. — Acho que não seria capaz...
— Eu sei, eu sei — Raquel abaixou a cabeça — Eu era o má, afundando na miséria por mais de 10 anos. Ficar com um alcoólatra só para receber algum conforto nos braços de outras pessoas e deixar meu filho de lado.
Bella permaneceu em silêncio, ela não tinha a menor ideia do que responder numa situação como essa.
Ao final, ela ligou para o pai relatando, com a ajuda de Raquel, que haviam sido atacados por um urso e que havia um homem ferido e culpado de cometer violência doméstica.
Charlie e Harry Clearwater chegaram em casa, o primeiro avaliando a cena e prendendo o ferido que murmurava bobagens. Em segundo ouviu o que Raquel e a filha presenciaram.
— Temos que deixar isso para Sam? — ela disse enquanto estava sendo tratada.
— Bem, não é a primeira vez que alguém em nossas famílias desperta os genes — Harry suspirou, ficando de olho na filha morena de seu amigo um pouco longe deles o tempo todo. — Por enquanto, ele precisa ficar sozinho para clarear a cabeça e se acalmar. Sam e os outros tentarão explicar.
— Eu entendo — Raquel desviou o olhar para o ponto exato que seu filho havia levado para desaparecer no meio da floresta.
