Proximidade Silenciosa

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Vanessa estava sentada no sofá, mexendo distraidamente em uma das almofadas enquanto observava Mike na cozinha. O som dos utensílios sendo arrumados ecoava pela sala, criando uma sensação de tranquilidade. Ela o via de costas, trabalhando em algo, provavelmente o café da manhã. O ambiente estava quieto, mas não desconfortável. Mike sempre parecia concentrado, mas ao mesmo tempo preocupado com ela, como se tentasse equilibrar a vida normal com a presença dela ali.

"Você vai me envenenar com essas panquecas?", brincou Vanessa, com um leve sorriso, tentando suavizar o silêncio.

Mike virou-se, segurando uma espátula na mão e rindo baixinho. "Eu só faço isso com quem já tentou me matar antes, então acho que você está segura... por enquanto." Ele piscou, e a leveza no comentário fez Vanessa soltar uma pequena risada.

Ela não ria muito desde que acordou, mas os momentos ao lado dele estavam começando a quebrar aquela parede que ela havia construído ao redor de si mesma. Mike notou, mas não comentou. Ele apenas voltou ao que estava fazendo, com um sorriso no rosto.

Depois de alguns minutos, Mike levou dois pratos até a mesa e chamou Vanessa. Ela se levantou e foi até lá, sentindo uma leve pontada de dor, mas estava melhor do que nos primeiros dias. Sentou-se à mesa e olhou para o prato, onde as panquecas estavam levemente douradas e cobertas com um pouco de mel.

"Até que parece bom", comentou, pegando o garfo.

Mike deu de ombros. "Eu faço o que posso."

Os dois comeram em silêncio por alguns minutos, até que Vanessa, ainda evitando contato visual, perguntou: "Você acha que algum dia isso vai passar?"

Mike parou por um segundo, pensando em como responder. Ele sabia que ela se referia ao peso que ambos sentiam - o peso do que haviam passado, do que haviam perdido. "Eu não sei... Talvez não passe completamente, mas acho que a gente aprende a lidar com isso. Pelo menos é o que eu espero."

Vanessa assentiu lentamente. Ela não queria insistir no assunto, mas as palavras de Mike tinham dado a ela uma sensação de compreensão. Ele também estava lidando com suas próprias dores, e talvez, de algum jeito, eles pudessem passar por isso juntos.

Mike terminou de comer e começou a recolher os pratos, mas antes de se levantar, ele olhou para ela. "Se precisar conversar, eu estou aqui. Não precisa segurar tudo sozinha, sabe?"

Vanessa ficou em silêncio, pensando no que ele disse. Ela não estava pronta para desabafar, mas o fato de saber que ele estava lá para ouvir, sem julgá-la, fazia com que ela se sentisse um pouco mais leve.

Depois de alguns minutos de silêncio, Abby apareceu, descalça e com o cabelo bagunçado. "Bom dia!", disse com um sorriso, sentando-se ao lado deles. Ela olhou para as panquecas com olhos famintos. "Sobraram?"

Mike riu. "Você sempre chega na hora certa."

Vanessa sorriu, observando os dois interagirem. Havia algo de reconfortante na dinâmica entre Mike e Abby. Mesmo com toda a escuridão que rondava suas vidas, a relação dos dois era algo puro, algo que Vanessa admirava. Assistindo-os, ela sentiu uma pontada de saudade de ter alguém com quem pudesse se sentir assim - livre de preocupações, mesmo que por um breve momento.

Abby olhou para Vanessa e sorriu, com aquele jeito sapeca de sempre. "Você parece melhor hoje."

"É... eu estou", respondeu Vanessa, genuinamente surpresa com sua própria resposta.

O resto da manhã passou tranquila. Mike saiu para resolver algumas coisas, deixando Vanessa e Abby sozinhas por um tempo. As duas passaram algum tempo jogando videogame e conversando sobre coisas simples, o que deixou Vanessa mais à vontade. Abby tinha uma maneira única de fazer com que as coisas pesadas parecessem menos assustadoras, algo que Vanessa apreciava, mesmo sem dizer.

Quando Mike voltou, Vanessa o encontrou na sala. Ela o observou por um momento antes de falar. "Obrigada."

Mike ergueu uma sobrancelha, surpreso com o agradecimento repentino. "Por quê?"

"Por me deixar ficar. Por... tudo." Ela hesitou, escolhendo as palavras. "Eu sei que não é fácil pra você. Eu sei o que meu pai fez, e... bem, não posso mudar isso."

Mike ficou em silêncio por um momento, processando o que ela disse. "Você não é ele, Vanessa. Eu sei disso. Só... é complicado, mas estou tentando."

Ela assentiu, entendendo a resposta. Havia muito ainda para ser dito entre eles, muitas camadas de dor, culpa e insegurança para serem trabalhadas, mas talvez, com o tempo, eles pudessem encontrar uma maneira de superar isso juntos.

O resto da tarde foi tranquilo, com os dois em um silêncio confortável. Não havia necessidade de apressar as coisas. Eles estavam começando a entender que nem tudo precisava ser resolvido de uma vez. Às vezes, apenas estar perto, sem a pressão de falar ou agir, era suficiente.

A Luz No Escuro- Mike e Vanessa Onde histórias criam vida. Descubra agora