Eu nunca me permiti assistir as cenas tristes dos filmes. Eu simplesmente acelerava o filme e evitava ao máximo ir aos cinemas assistir películas deprimentes. Muitas pessoas já haviam me perguntado sobre esse fobia de momentos tristes e outras, que se auto denominavam as mais cultas, haviam denominado-a Tristiafobia. Tentei explicar inúmeras vezes que eu não sentia medo de tristeza, apenas tentava evita-lá o máximo possível, pois eu imaginava que seria a única maneira de acreditar que o mundo era perfeito e, portanto, eu poderia viver em uma bolha eterna de felicidade, mas as pessoas pareciam não dar a mínima importância para o que eu achava.
"Os filmes refletem a realidade. Por este motivo, ao ver apenas as cenas alegres, você acaba acreditando que a realidade é igualmente feliz.". Aquela fala já havia sido pronunciada tantas vezes por mim que eu soava como um gravador, falando de uma maneira completamente automática e monótona enquanto as pessoas me encaravam com pena.
Foi dessa maneira que eu vivi vinte anos de minha vida, mas ao me ver deitada em uma maca hospitalar, tive a certeza de que não poderia acelerar as cenas tristes de minha vida ou tapar os olhos e fingir que elas eram inexistentes. Ao encarar a parede branca e repleta de falsas esperanças do quarto hospitalar eu me obriguei a reavaliar completamente toda a minha existência.
"Eu ainda não entendi o por quê de você querer correr assim atrás do sofrimento. Entendo que você quer parar de viver no Mundo Colorido de Annabelle, mas você inevitavelmente irá sofrer, não precisa correr atrás disso.", ele retirou a mão de perto da minha, como se soubesse que ao fazer aquilo eu ficaria triste e perceberia que a tristeza é realmente inevitável. Por mais que aquele não fosse o verdadeiro objetivo dele, foi a impressão que me causou.
"Sabe aquela fala babaca que diz: sem tristeza não há felicidade? Acontece que não é tão babaca assim. Me diga, você já sofreu um acidente?", ele fez que 'não' com a cabeça, "Pois eu, claramente, já. Não sei se foi a batida na minha cabeça quase fatal ou o conjunto de experiências adquiridas, mas um acidente muda a maneira de se pensar. E aqui, pensando, visto que não há nada mais útil para se fazer quando o seu corpo inteiro está formigando, percebi que durante a minha vida no 'Mundo Colorido de Annabelle' eu nunca me permiti amar alguém, pois sabia que com isso eu sofreria. Mas agora eu estou me permitindo fazer essas duas coisas, e fazê-las juntas ia tornar tudo mais interessante.".
"E o que a frase sobre felicidade tem a ver com todo esse discurso?".
"Por que todo esse discurso explica a futura fonte de minha felicidade: o sofrimento.".
"Você está completamente fora de si. É o efeito do anestésico, ele pode deixar as pessoas um pouco alegrinhas demais, fazer elas falarem coisas que não significam nada na realidade.".
"A dor em todo o meu corpo me diz claramente que o analgésico não tem nada a ver com essa minha atitude.". Bastou eu dizer aquilo e Code saiu do quarto, voltando com um enfermeira loira que olhava constantemente para ele enquanto me medicava. Aquilo me irritou, fez com que eu ficasse com raiva de Cody por ser tão hipócrita e não deixar eu escolher o romance que eu considerava mais apropriado para mim e enquanto isso, estava flertando com uma enfermeira na frente de uma paciente - eu - que mal conseguia se mover. "Ela poderia ser facilmente uma atriz pornô.".
"Oi?", ele estava distraído demais olhando a mulher sair do quarto para prestar atenção em minhas palavras.
"Ouvi dizer que a vida de namorado de atriz pornô é bem sofrida. Ver vídeos da sua namorada nua na internet não deve ser muito fácil, né? Quer dizer, se uma garota manda uma foto pelada para alguém já chamam o namorado dela de corno agora, imagina ela se mostrar para milhares de pessoas. Seus pais extremamente conservadores achariam isso absurdo.".

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Tristiafobia
FanfictionEncantada com a possibilidade de ser triste, Annabella busca sofrimento nos braços do homem que quase a matou. Após ignorar os constantes avisos de seu amigo Cody, que alegava que isso era um péssima ideia, Anna descobre que na realidade, ele estava...