Sabe quando você está atordoado e tudo em sua volta parece um borrão e é simplesmente impossível saber para onde olhar? Pois eu não sabia. Até aquele momento. Após sair do quarto eu estava tão determinada a encontrar Evelyn que não poderia haver nada que me impedisse, mas ao vê-la, eu me forcei a mudar de ideia.
Eve estava rodeada de amigos, bebendo e rindo. Eu sabia que se desse a notícia a ela estragaria a sua alegria por completo. Por mais que ela não acreditasse na minha o humor dela pioraria de uma hora para a outra e eu não queria ser a razão disso.
Ao me decidir, Harry e Astryd me acompanharam com os olhares até eu caminhar em direção à porta de saída. E foi aí que tudo virou um borrão total. Eu não sabia se era efeito do álcool ou a maquiagem que estava sendo levada junto com as lágrimas que escorriam pela minha bochecha, mas eu não conseguia enxergar muito.
Eu cheguei ao térreo pelas escadas por necessidade, já que um elevador não era o mais apropriado no momento. Havia uma sensação estranha de que se eu resolvesse parar de me movimentar eu morreria. Era ilógico, mas eu precisava continuar correndo. O problema era eu não saber para onde eu deveria ir, pois ir para meu apartamento parecia uma ideia absurda no momento.
A minha capacidade de pensar em algo útil estava me levando a loucura e o meu peito doía por conta do nervosismo e da ansiedade. Em segundo lugar, eu pensei em ir até o alojamento de Code, mas eu não estava pronta para ouvir algum sermão dele dizendo que havia me avisado sobre o meu plano bobo de sofrer. Além do mais nós já havíamos brigado por causa disso antes, e eu não pretendia brigar novamente.
Me senti mal por Eve, e confusa por Astryd. Até onde eu sabia as duas eram lésbicas. Posteriormente fiquei sabendo que Astryd na verdade era bissexual, mas naquele momento tentar entender a opção sexual dela era a menor de minhas preocupações.
O meu sofrimento não estava nem perto do que eu imaginava que seria. Era mil vezes pior. Antes tarde do que nunca. Evitar qualquer espécie de sentimento negativo durante minha vida havia feito com que eu não tivesse a mínima ideia de como agir diante deles. Como uma criança, cuja mãe proteje tanto, que acaba tendo um sistema imunológico horroroso e morre por qualquer doença. Eu não era diferente dessas crianças e pensar assim era devastador.
Os meus pensamentos estavam a mil por hora enquanto eu corria sem rumo, como uma idiota. O meu abdômen estava doendo, mas a vontade de continuar me movimento era ainda maior. Por um momento, um flash das pílulas de morfina passou por minha mente e eu desejei ter elas naquele instante comigo.
Eu também queria ver o estado do meu braço, mas ele estava latejando e eu fiquei receosa de olhá-lo e começar a chorar ainda mais. Aquilo me fez odiar Harry por não me dar escolha a não ser odiá-lo.
Talvez ele vá atrás de você para resolver tudo. A minha pequena voz de menina iludida e apaixonada insistia em dizer isso. O único motivo para me procurar, se ele me procurasse, seria para garantir que eu não espalhasse mais os segredos dele para o resto do mundo.
Eu deveria voltar para a festa. Não é como se ele fosse me machucar na frente de todo mundo. Como ele mesmo disse, a família dele tem uma reputação a zelar. Eu me virei, pronta para voltar ao apartamento. Por algum motivo, retornar a festa parecia menos absurdo que ir para o meu alojamento ou ao de Cody. O álcool realmente estava cumprindo seu trabalho.
Diminuí o ritmo e comecei a andar, ao me deparar com uma silhueta vindo na direção oposta a minha. A pessoa tinha cachos, assim como os de Harry. Senti um frio em minha barriga, mas quando me aproximei era apenas um garoto qualquer. Ele também tinha olhos, que eu imaginei serem claros, já que era incapaz de ver a cor exata deles, considerando que minha visão estava muito embaçada. Mas a medida que eu ia me aproximando dele eu enxerguei o olho dele ficando completamente negro, assim como as pupilas dilatadas de Harry.

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Tristiafobia
FanfictionEncantada com a possibilidade de ser triste, Annabella busca sofrimento nos braços do homem que quase a matou. Após ignorar os constantes avisos de seu amigo Cody, que alegava que isso era um péssima ideia, Anna descobre que na realidade, ele estava...