Capítulo 10

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Pessoa importante

Sam entra no carro com mais três jogadores do time de hóquei, ele insiste que não precisa mas eles resolvem levá-lo pro hospital, as  pessoas na festa começam a ir embora, percebo só agora como estou trêmula, tudo aconteceu tão rápido que não tive reação alguma, agora estou sentada na ilha da cozinha enquanto Lucas pega um copo de água pra mim.

- Está mais calma? - Ele pergunta.
- Acho que sim. - Digo, dando um gole na água.

As mãos trêmulas estão cobertas com uns respingos de sangue, o sangue do Sam, Ethan bateu tanto nele, eu só via o sangue.

- Emma? - Lucas me chama uma vez e eu não respondo - Emma?! - Ele chama novamente mais alto.
- Que? - Lucas me observa com preocupação.
- Vamos, vamos pra casa, vem. - Ele me ajuda a descer da ilha.

Assim que estamos a caminho da porta, Ethan surge atrás de nós.

- Emma. - Ele me chama. - Por favor, vamos conversar.
- Esquece Ethan, vou levar ela pra casa. - Lucas afirma.
- Emma, por favor. - Ele insiste, ignorando por completo Lucas.
- Tá tudo bem Lucas. - Digo. - Te encontro lá fora.

Hesitante, ele sai, Ethan vem na minha direção, suas mãos calejadas, cobertas de sangue e hematomas agora me seguram pela mão me levando escada acima, entramos no primeiro quarto e ele fecha a porta. Eu fico imóvel, esperando ele dizer a primeira palavra, vejo quão frustrado ele está, tentando pensar o que me falar primeiro.

- Eu nunca... - Ele para. - Eu nunca tinha feito isso antes.
- Bater em alguém?- Digo.
- Eu...eu não sei o que deu em mim Emma, eu juro - ele se vira e vem em minha direção. - quando vi ele com as mãos em você, eu só...
- O que? Você o que? - Insisto.
- Não consegui me segurar. - Ele diz.
- Por que você fez isso Ethan? - Sinto lágrimas querendo escorrer sem permissão.
- Eu não sei.

Uma lágrima cai, eu permaneço firme, Ethan percebe e se aproxima mais, e me abraça.

- Desculpa Emma, desculpa. - Ele diz - Eu não queria te assustar.

Eu não retribuo seu abraço, mas me aconchego em seu calor. Ethan continua

- Eu não suportei ver ele com as mãos em você, por favor, me desculpa, izvini - Ele sussurra.

Isso me pega de surpresa, Ethan era russo mas quase não o víamos falando em sua língua materna, me recordo da última vez que eu o vi falando em russo.

"Tínhamos dez a treze anos, onde moramos tem muita neve e florestas, nesse dia específico eu estava voltando da casa da Linda, quando vi Ethan sentado em um tronco falando no telefone.

- Prosti, mama, ya obeshchayu, chto po
Prosti, mama, ya obeshchayu, chto popravlyus', budu bol'she izuchat' russkiy yazyk, poetomu, pozhaluysta, otpusti menya domoy.

Foi a primeira vez que vi ele falando em sua língua, eu achei tão legal que queria ir cumprimentá-lo e perguntar mais sobre, mas quando me aproximei Ethan jogou o telefone longe o acertando na árvore mais próxima, o som da tela quebrando ecoou na floresta. Ele então se inclinou para frente com o rosto em mãos e gritou:

- Der'mo!

Tentei me afastar, quando sem querer piso em um galho, fazendo barulho, Ethan olha para traz e me vê, nunca vou esquecer o olhar que ele tinha, estava triste, muito triste.

- O que você tá fazendo aqui Emma? - Ele pergunta.
- Desculpa, nao queria parecer enxerida.
- Tudo bem. - ele diz.
- Posso me sentar com você? - Pergunto.

Ele apenas acena com a cabeça.

- Com quem você estava falando? - Questiono.
- Minha mãe.
- Ela mora na Rússia?
- Sim.

Ele não parecia querer falar sobre então fiquei quieta.

- Minha mãe, não me quer mais como filho. - Ele desabafa. - Por isso me mandou pra ca.
- Pensei que veio por que conseguiu a mesma bolsa que o Lucas.
- Em teoria sim, mas foi mais um pretexto pra ela me tirar da sua vida.

Nos olhamos e vejo lágrimas querendo desesperadamente sair, seus olhos estavam marinados, e então Ethan diz.

- Minha própria mãe não me quer Emma, eu to sozinho.

Eu dou um leve soco em seu braço, Ethan me olha confuso, então eu digo.

- Você não está sozinho, você tem a mim! - Aquilo foi tão espontâneo que me senti corar no mesmo instante.

Ethan também fica sem reação, ficamos segundos nos olhando, eu desvio o olhar morrendo de vergonha, então sinto sua mão segurar a minha, quando olho para ele de novo, seus olhos estavam focados nos meus cheios de vida novamente, então ele diz.

- Promete?"

E essa foi a última vez que ouvi Ethan falando em Russo, até agora. Ele estava com tanto medo assim? Que eu fosse deixá-lo também? Eu obviamente não iria, mas ainda estava brava com Ethan.

- Eu nao perdoei o que você fez. - Ele me solta. - Mas eu não vou parar de falar com você. - Essa parte eu digo baixo, quase como um sussurro.
- O que? - Ele pergunta.
- Eu disse que não vou parar de falar com você ou sair da sua vida...se é isso que te preocupa. - Digo.

Ethan então abre um sorriso, não me abraça novamente, mantendo uma distância, mas o que eu falei claramente tirou um grande peso dele.

- Obrigado Emmie. -
- Ficou tão feliz assim, com algo tão besta? Você é tão mesquinho. - Digo.
- Não é besta, você pra mim, é mais importante do que qualquer outra coisa.

Sinto meu coração quase sair pela boca, Ethan não desvia o olhar e pela primeira vez, eu também não, o silêncio invade o quarto e é como se meu coração estivesse aprendendo a tocar um tambor, então Lucas abre a porta.

- Emma, vamos. - Ele diz. - E você, nos falamos depois. - Diz Lucas para Ethan.

Vou pra casa com dois pesos, um na consciência e o outro no coração.








Tradução

Izvini / Desculpa

Prosti, mama, ya obeshchayu, chto po
Prosti, mama, ya obeshchayu, chto popravlyus', budu bol'she izuchat' russkiy yazyk, poetomu, pozhaluysta, otpusti menya domoy. / Mãe, eu prometo que vou melhorar, vou estudar mais o russo, então por favor, me deixa voltar pra casa.

Der'mo! / Merda

O melhor amigo do meu irmão Onde histórias criam vida. Descubra agora