Capítulo único

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Depois do trabalho, Hanayama e Shiba se sentam nos degraus de uma escada suja no meio da cidade. Tudo que os cerca é brilhante ou barulhento. A cidade é brilhante e barulhenta, toda cidade é, de qualquer maneira, mas os dois lutadores são capazes de ignorar todo o caos urbano que os rodeia se estiverem com um cigarro entre os dedos.

Cada um permanece quieto, sem dizer uma única palavra, ouvindo apenas o barulho típico da cidade e o som de suas próprias respirações. Se movem apenas para levar o cigarro até a boca, apenas para um trago. Sem nada além deles e seus cigarros.

Hanayama tem um maço de cigarros vazio no bolso e está fumando seu último cigarro, que acaba rápido, como todo cigarro que ele coloca entre seus lábios. O rosto, coberto de cicatrizes, é impassível como sempre. Shiba não pode evitar pensar no quão lindo Hanayama é. Quão cheias de história são suas cicatrizes.

A chama do cigarro chega até o filtro, e Hanayama o apaga contra o degrau da escada. Ele leva a mão até o bolso, os dedos ansiando por segurar mais um cigarro, mas não encontrando nada no maço vazio, uma caixinha com a qual seus olhos já haviam se acostumado, tão pequena entre seus dedos.

Shiba está fumando o último cigarro de um maço de alguns dias atrás, mas ele é um fumante que não abre mão de sua doce amante nicotina, e tem um maço inteiro no bolso, um maço ainda embalado no plástico liso que envolve todo maldito maço de cigarros quando você o compra, antes de seus dedos o rasgarem para alcançar o conteúdo do maço.

Seu cigarro acaba tendo o mesmo destino que o de Hanayama, e logo se encontra largado no degrau da escada.

“Shiba.”

A voz de Hanayama pode ser ouvida depois de um tempo, seus dedos constantemente se mexendo enquanto ele anseia por mais um cigarro. É a primeira vez que o silêncio entre os dois homens é quebrado, e o quieto Hanayama foi, surpreendentemente, o primeiro a falar alguma coisa.

Shiba levanta o rosto ao som de seu nome na voz de Hanayama, deixando de encarar os próprios joelhos para encarar seu chefe. A voz de Hanayama sempre soava tão boa quando ele chamava pelo nome de Shiba.

 “Sim?” Shiba perguntou, os olhos castanhos agora fixados no rosto de Hanayama, coberto por cicatrizes que apenas o faziam mais bonito.

O coração de Shiba pareceu palpitar, mas ele rapidamente engoliu o sentimento. Não, não gostava de Hanayama assim. Apenas o admirava. O amava, sim, mas como amigo. Shiba não era gay.

“Você tem mais um cigarro?” A voz de Hanayama se fez presente mais uma vez, calma e monótona como sempre.

Shiba levanta uma sobrancelha, mas suas mãos rapidamente alcançam o maço de cigarros ainda lacrado em seu bolso. Ele não hesita em esticar a mão e colocar o maço, novo e intocado, ainda envolto em um plástico fino e reluzente, no colo de Hanayama. A ação pareceu quase íntima.

“Tenho, sim. Aqui.”

Shiba diz, voltando seu olhar para seus próprios joelhos. O invólucro de plástico reluz quando Hanayama segura o maço de cigarros em sua mão. Seus olhos se perdem na pequena caixa de papel envolta em plástico por alguns segundos, mas Hanayama não demora muito mais para rasgar o invólucro reluzente e abrir a embalagem, retirando de lá um cigarro. Ele deixa o plástico rasgado no degrau em que se sentava, como qualquer pessoa que vive na cidade faria.

Dividindo cigarrosOnde histórias criam vida. Descubra agora