- Como ele está?
- Chegou há pouco, estou preocupada. - Respondeu Elisa.
- Com o quê? - Perguntou Cíntia, mais uma vez.
- As luzes, será que estão incomodando ele?
- Não sei, mas é natural. Não temos muito o que fazer. - Respondeu Cíntia
- É natural
- É natural. - Uma terceira voz rouca foi identificada perto das duas senhoras, era uma terceira senhora.
- Bom que veio, é estranho olhar só daqui. E está tão escuro para ele.
- Eu imagino, é complicado entender pelo que ele está passando. - Era letícia, a voz nova, reconhecível pelos anos de fumante. - Não vou ficar muito tempo aqui, preciso fumar.
- É tão difícil prestar apoio para ele agora? - retrucou Elisa
- Comparado ao meu cigarro, não. Só é menos relevante.
- Você poderia ter um pouco mais de senso, vai morrer em breve, encare como uma opção saudável para não ir para o inferno. - Cíntia apoiou Elisa em seu apelo.
- Eu não me importo para onde eu vou. E, no fim, como isso seria diferente do que ele está passando agora? Afinal, onde ele está?
- Longe, bem longe. Além dos limites do que podemos ver do alto mar. -Elisa, mais uma vez, respondeu de forma desgostosa à velha fumante.
- Não estou falando do verdadeiro morto, estou falando dele que está aqui na nossa frente, onde ele está? - Soltou um trago de um rolo podre e branco, puro a tabaco.
- E você acha que ele estaria em algum lugar que o outro não estivesse? O outro partiu ao mar, pela madrugada, nas ondas calmas, e no mesmo instante ele também estava partindo, ao seu lado.
- Então, não estou errada. Ele está morto. Assim como o outro. - Letícia bufava no ar soltando a fumaça carregada.
- Sobre o quê? - Elisa e Cíntia falaram em uníssono.
- Ele está morto. Ele não está aqui, apesar de estar aqui, desde o mar, ele nunca esteve aqui. Afinal...
- Afinal o quê, Letícia? - Elisa estava um pouco aflita, sempre foi uma velha chorona, amarrou em um punho panos úmidos, limpando um olho encharcado.
- É natural.
- É natural.
- É natural.
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AQUELA LUZ
General FictionEstava olhando mais uma vez no horizonte, um mar revolto, invadindo o céu com ondas altas mais uma vez, olhei e me lembro apenas de encarar o mesmo local, não me chamava, e como toda vez que eu procurava algo, só havia mais do mesmo, apenas silêncio.