𝚃𝚆𝙾

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• JULIETTA HEART •

Niklaus e eu tínhamos coisas em comum. Talvez fosse nosso parentesco, ou então, nossa convivência em todos esses anos. Mas ambos éramos apaixonados por arte.

Pintar um quadro requer mais do que um pincel e uma tinta. Requer emoção, atenção, paixão e gentileza.

Seu quadro nunca ficará igual ao de Leonardo Da Vinci se você forçar o pincel na tela. Tem que ter calma, delicadeza, amor pelo o que está fazendo.

Se fazer de qualquer jeito, o resultado nunca será bom. E isso não se trata apenas de quadros.

A praça principal era o meu lugar preferido para pintar. O ar puro, o sol, as pessoas, a paisagem. Tudo me dava inspiração, mas minha mente estava tão longe do que meus olhos viam que meus movimentos com o pincel eram automáticos.

— Seu desenho é tão bonito, tia. — Tirei os olhos da tela e foquei na garotinha parada ao meu lado.

Devia ter uns quatro anos. Cabelos loiros cacheados e olhos azuis brilhantes como safiras. Sorri ao reconhecê-la. Sophie.

— Você acha? — Terminei os retoques finais e larguei o pincel, estendendo os braços para pegá-la no colo, que aceitou de bom grado.

— Tem tantas cores. — Sophie deitou a cabeça em meu ombro, observando o quadro.

Era uma paisagem de um campo de flores silvestres. Havia um lago com alguns cisnes nadando. O sol se punha, deixando o céu com a cor alaranjada. Próxima ao lago, havia minha casa dos sonhos, do jeito que descrevi para Dean a uma semana.

— Vou te dar de presente. — Anunciei e ela levantou a cabeça, sorrindo tão abertamente que foi inevitável não sorrir de volta.

— Jura? Pra mim? — Ela colocou a mãozinha no coração, fazendo um biquinho enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas de felicidade.

— Claro. É todinho seu. — Beijei sua testa, usando a mão livre para secar suas bochechas.

Depois de esperar uns minutos para a tinta secar por cima, atravessei a praça com o quadro nas mãos, seguindo os cachos loiros pulando feito molas em direção ao prédio de três andares que ficava do outro lado da praça.

A fachada era de tijolos vermelhos desbotados pelo tempo. Tinha algumas rachaduras, algumas janelas cobertas por madeira por falta de orçamento para consertar e dava para ver, mesmo de longe, a lona preta que cobria meio quadrado no telhado, onde as telhas caíram.

Era um orfanato pobre, com mais de 40 crianças. Conhecia a maioria das crianças ali, sempre dava uma quantia de dinheiro para a governanta comprar alimentos e roupas para todos, mas eu sabia que não era o suficiente.

Assim que meus pés tocaram o jardim, 15 crianças entre 7 e 11 anos correram para fora do edifício. Tive que erguer os braços com a pintura para que ela não fosse esmagada junto com minhas pernas e quadril.

— Olá, crianças. — Cumprimentei, alegre como sempre fazia. A governanta saiu, dobrando um pano de prato no ombro e sorriu docemente pra mim.

— É tão bom vê-la, Julie. — Bethel, a governanta, segurou meu rosto nas mãos e beijou minha testa. Era uma mulher de idade, na faixa dos 70. Tão doce que eu a via como uma mãe às vezes. Mesmo que sua personalidade fosse de uma mulher de 20.

Eu já havia perdido as contas de vezes que a vi trocar a cor do cabelo. Naquele mês, ela usava um tom claro de roxo, como se tivesse tentado matizar os cabelos brancos e deixou o produto por tempo demais. Havia ficado lindo, óbvio, mas era divertido brincar com isso.

O Fruto Proibido | | Dean Winchester Onde histórias criam vida. Descubra agora