𓏲 ๋࣭ ࣪ ˖ PRÓLOGO 𓏲ּ

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Era final de setembro, início da primavera, quando sua mãe foi enterrada. A pequena Marjorie estava com os punhos cerrados na calça preta social de seu irmão mais velho. Seu pai, logo à frente, chorava copiosamente em cima de uma caixa de madeira onde sua mamãe dormia.

— Lelê — Sacudiu a pequena menina, seu irmão desviou o olhar da cena adiante fixando sua atenção nela, os olhos brilhantes e avermelhados fizeram com que ela franzisse o pequeno espaço entre suas sobrancelhas — Eu quero brincar. Mamãe não pode? — Perguntou apontando fracamente em direção ao caixão marrom. Os bracinhos pesavam ao serem erguidos.

Seu irmão sorriu, embora sua expressão não combinasse com aquela ação estranha dele. Ele se agachou, nivelando seu olhar com o dela. A mão grande e pesada posou com leveza no ombro esquerdo da menina. Levi balançou a cabeça para um lado e depois para o outro antes de lhe responder com a voz trêmula.

— Não, Marjo. Mamãe não vai poder brincar com você agora. Venha aqui — ele abriu os braços para ela, com passos desequilibrados a menina pulou em sua direção, com um impulsionar de suas pernas, ele a ergueu com facilidade, a garota mal pesava para ele. Seus passos não eram confiantes, mas Marjorie não notou o quão abalado seu irmão estava.

Próximo ao caixão, seu pai soluçava perdido em seus murmúrios e lamentos. Ela pouco compreendeu a situação, mas seus olhos tão castanhos observavam com carinho o repouso de sua mãe em uma cama tão estranha.

O rosto estava em paz, notou. Os pelos faciais já haviam se perdido há muito tempo, apesar disso o sorriso em seu rosto era leve, mas estava lá. Uma camiseta laranja, sua cor favorita, e uma calça jeans com lindos lírios bordados nos bolsos.

— Mamãe parece melhor — a garotinha sussurrou conspiratoriamente ao seu irmão, que por sua vez a apertou em seus braços e fungou emocionado.

— Sim, ela está em paz.

A menina sorriu, ela odiava ver o sofrimento de sua mãe. Todos os dias a via chorar. Era desesperador não poder fazer nada além de cantar uma canção de ninar que sua mãe lhe ensinara.

Agora, sua mamãe poderia ser feliz de novo.

Marjorie só não havia compreendido que "estar em paz" também significava "nunca mais voltar pra casa". Aos três anos ela perdeu sua mãe, e todo um mundo que seu irmão eventualmente iria inviabilizar por seu sofrimento e coração partido.

MARJORIE, ESCOLHAS DA VIDA [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora