Quando eu era pequena, mamãe sempre falava sobre serem invisíveis que viviam na floresta e que a protegiam e não deixavam ninguém destruí-la, que eram o coração da floresta, que cada suspiro de suas vidas era para protege-la. Hoje sou um deles.
Vivendo vagando pela floresta, sentindo ela como se fosse parte de mim, cada árvore uma extensão do ar que respiro, cada rios e lagos, a continuação de minhas lágrimas, cada vento um alívio aos meus pensamentos.
Nós, os espíritos da floresta, somos invisíveis para quem não quer ver, mas estamos aqui sempre protegendo a tudo e a todos, pois cada árvore destruída é um ano perdido, é uma respiração engasgada, é uma vida perdida.
Mas além disso sinto toda a sua dor, cada árvore derrubada um suspiro perdido, cada vez que jogam lixo em um dos seus rios é uma ferida aberta, que ecoa por mim, cada floresta queimada e destruída é um pedaço da minha alma que queima e destrói junto.
Ainda me lembro do dia em que descobri ser um deles, eu não entendia completamente o que estava acontecendo comigo, mas conforme o tempo passava, cada folha, cada suspiro do vento parecia se conectar com minha alma.
Eu comecei a enxergar os outros espíritos e vi que eles sempre estiveram ao nosso redor, sempre estiveram lá e nunca foram invisíveis, era nós que não queriam os ver. Aquela manhã senti que não era mais apenas uma observadora, que apenas ouvia histórias fantasiosas eu era agora a protetora. Eu era agora parte desse ciclo eterno de vida e morte, regeneração e destruição.
Mas minha primeira experiência real sendo um espírito foi quando senti um pedaço da minha alma aí ser morta, quando derrubaram uma árvore, máquinas e mais máquinas perfurando meu ser, cada vez mais sentia um parte de mim ir embora, junto com todos aqueles troncos.
Foi aí que entendi a real dor, não er apenas mais madeira cortada e uma parte de mim sendo retira a força, era a terra sendo mutilada junto ao meu coração.
Naquele momento tive vontade de cair no chão e chorar, mas ao mesmo tempo, ouvi uma nova voz dentro de mim gritar "você deve protege-las " e então entendi qual era minha verdadeira missão.
Mas nem todos entendem a dor que isso causa e insistem em poluir, queimar, devastar e esgotar nossos recursos, insistem em nos ignorar, achando que somos apenas lendas, não entendendo o efeito de suas ações, achando que suportaremos toda essa destruição, não ouvem nosso chamado nas tempestades, cada gota que cai uma lágrima que tenta nos avisar do que está por vir.
Eu tinha entendido minha responsabilidade de proteger tudo aquilo e com o tempo aprendi os segredos da floresta, que os ventos carregam avisos, os pássaros lembranças e lealdade, que as águas seguem seu curso mas sempre transformando quem está por perto.
Somos os guardiões dela, mas as vezes parece insuficiente, mas não desistimos por que ela nunca desistiu de nós, sempre nos protegeu, mesmo quando não nos importamos com ela, a destruímos, mesmo quando ferimos seus animais ela encontra uma forma de renascer e nos os guardiões ajudamos a fazer isso acontecer.
Mas também aprendi o que é a dor, onde houve momentos em que quis desistir, pois a força da destruição parecia invencível para tão poucas pessoas poder aguentar, mas foi com esse desafios que aprendi a ser persistente e a não quebrar.
Mas além de tudo isso, ser uma guardiã, um espírito me ensinou a ser resiliente, como um bambo mesmo sendo dobrado, eu volto mais forte, que mesmo com tantas pessoas tentando nos extinguir, podemos continuar sendo persistentes e renascer e mudar o que pode acontecer.
E foi também como uma pequena guardiã que me fez acreditar que esse trabalho e toda essa dor valeria a pena. Aprendi isso quando a encontrei sozinha olhando para as águas de um dos rios que protegemos e ele estava cheio de lixo e sujeira, ela estava apenas olhando o fluxo d'água quando pequenas lágrimas começaram a cair, então eu perguntei, por que está chorando pequena, ela me respondeu algo que mudou toda minha vida e seu propósito
- Estou chorando porque eu não consegui proteger essas águas, eu falhei em protege-las, eu falhei em ajudá-los, mas partir de hoje eu prometo que farei de tudo para isso nuca mais acontecer novamente, eu prometo.
E apenas foi embora, não sabendo que tinha acabado de criar um pequeno rastro de esperança, não só em alguém que não sabia mais o porquê de aguentar todo aquele sofrimento, mas também deixou esperança para toda uma nova geração e para toda uma nova floresta que pode ressurgiu com pessoas como essa pequena guardiã.
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Os Espíritos da Floresta
Short StoryEste é um mini conto sobre a importância de proteger a natureza e como ela é importante para nossas vidas ------------------------------------------------------- Conto produzido por meio do desafio da Dark Rose - Contos das Matas 🏅5° - ambiente �...