Estou mais um dia olhando as paredes do meu quarto tentando me desligar de mim, do mundo ao meu redor. É sempre um tentar e tentar um querer e nunca conseguir.
Sinto um calor infernal nesse setembro, um mês que todos lutam contra o suicídio. Simplesmente uma piada, pois nunca se importam de verdade se alguém está na beira de um penhasco segurando uma raiz de árvore seca. Críticas e críticas sempre são acrescentadas nas costas de quem está respirando por um fio. Fico pensando o que poderia fazer para melhorar, mas sempre que penso em dar um passo para tentar subir e me levantar sinto que a beira do penhasco está deslizando e não consigo me firmar. Poderia ser poético se não fosse trágico! Me levanto com o pouco de coragem que tenho, dou comida ao gato que não para de miar, que bichano exigente! só para quando tem a ração nova no pote. Tomo um banho e sento na frente da TV até que adormeço.
Oi, oi moça quem é você? Tento abrir meus olhos e vejo uma claridade que faz meus olhos doer, e já pergunto quem abriu minha janela ? não sabem que não gosto de claridade?! mas ao me acostumar com a luz me vejo naquela sala de chão vermelhão com os olhos vermelhos, um eu esquecido de uma garotinha que estava num cantinho quietinha a olhar para mim adulta.
Oi moça quem é você ? por que está aqui? Se meu pai te ver vai brigar! e
Escutava gritos altos vindo da cozinha, meus olhos se enchendo de lágrimas lembrando daquele dia. Minha mãe atendeu os amigos do meu pai e ela estava de bermuda, a casa estava toda fechada. Minha mãe nem abriu a porta direito, abriu apenas uma frestinha, mas meu pai não queria saber! A xingava de tudo! Voltei a olhar para o meu eu infantil, escondida atrás do sofá. Que chorava com a mão na boca, ela percebeu meu olhar e disse "vem comigo". Me levou para o quintal, embaixo de uma árvore, sentadas, eu olhava para mim com meus cabelos pretos e meus olhinhos cor de mel todo cheio de lágrimas. Chorei e chorei não entendendo como eu poderia está na frente de mim mesma com 5 anos. A adulta que sou olhou para mim e disse "não tenha medo, eu protejo você! meu pai não vai brigar com você se você estiver aqui escondida" e sorriu com seus olhos em lágrimas. Perguntei para a ela se estava bem, a garotinha ficou pensando. Olhou para cima, respirou fundo abriu um sorriso grande e disse "sim, meu nome é Claudia e o seu?" Eu pensei que não poderia dizer que sou ela. Então disse "meu nome é Ana".
Ela ficou feliz pois era o mesmo nome que o dela, os barulhos de gritos cessaram e isso tirou a um suspiro. "Já já você pode ir meu pai vai dormir, só saia quieta para ele não acorda por favor! " No momento em que a garotinha foi se levantar segurei em seu braço e ela me olhou ainda com os olhos vermelhos. "Que foi Ana ? tá com medo ?" a garotinha questionou e sorriu. "Não precisa, vou proteger você !" e foi sondar se estava tudo bem para ir. Me levantei e questionei do por que você que ela querer chorar. Ela me olhou e disse que não poderia chorar, que teria que se proteger, seu irmão e sua mãe. Eu a abracei e a disse "Você é mais forte do que imaginei, você protege todo mundo e tem um sorriso lindo! você é especial!".
Ao dizer essas palavras de consolo a garotinha não segurou as lágrimas e chorou agradecendo. Quando dei por mim voltei a minha vida atual, me levantei do sofá olhei para o lado e para o outro. Já escureceu? Já já todos chegam, meu marido que não fala comigo, a única alegria são meus filhos, vou fazer um bolo para eles! ao fazer o bolo lembrei da vizinha Bete que sempre fazia bolo de chocolate levava para mim. Bateu uma saudade e pensei " que sonho louco que eu tive!". As crianças chegaram um foi para o quarto e o outro para sala, meu marido não olhou na minha cara nem me comprimento com um beijo. Piada! ele só fez isso nos primeiros 6 meses de casamento, sou como aquela garotinha sempre sozinha querendo um pouco de atenção e sempre por todos. Me sentei novamente na frente da TV, olhei para o lado eles nem ligaram para meu bolo... as crianças estão brigando e ele está quieto novamente como se não se importasse com nada de seu papel de pai, me irrito e explodo! e escuto que estou gritando por que sou louca. Engulo o choro novamente e me pergunto " E se eu soltar a raiz da árvore?" Olho para baixo na beira do penhasco "Porra tá escuro!". Vou para o quarto novamente pego meu celular e procuro outros livros, no momento estou lendo um livro da Rina e me apaixonando pelo personagem que faz tudo por quem ama, Meu Deus devo estar louca mas eu queria ser prioridade de alguém algum dia, as crianças param de brigar, escuto ele rindo no celular, nem sei quando foi a última vez que sorriu para mim. Minha cabeça não desliga, volto a lembrar de mim pequena e rir do sonho louco que eu tive, seria bom poder voltar! Mas isso é um absurdo...
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Para a Garotinha, Com Amor
ChickLitcomo um passe de mágica você conseguisse ir de encontro com voce mesmo é a partir desse encontro te cura das dores mas profundas que você esconde, o que você diria?...