Revelação

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Naquela manhã, o sol atravessava as janelas da cozinha com uma serenidade que contrastava com o turbilhão de emoções dentro de Rafa. Ele observava seus pais preparando o café, em silêncio, enquanto o peso de sua decisão se fazia mais forte. Era o momento. Ele não podia mais esconder quem era, não diante de Deus e nem de sua própria família.

"Mãe, pai, preciso lhes contar algo." Sua voz estava trêmula, e o olhar nervoso de Rafa os fez parar.

Seus pais se sentaram à mesa, olhando-o com atenção. Ele sentia o olhar firme do pai e a curiosidade nos olhos da mãe. Respirou fundo.

"Eu sou gay."

O silêncio caiu como uma pedra. O pai de Rafa foi o primeiro a reagir. Sua face, que até então era calma, se contorceu em raiva. Ele bateu a mão na mesa com força, fazendo as xícaras tremerem.

"Eu não aceito isso!", ele gritou, a voz cheia de fúria e dor. "Meu filho gay? Jamais! Se você for gay, não quero você em minha casa!"

Rafa sentiu o sangue congelar em suas veias. Ele sempre soube que a reação seria difícil, mas ouvir aquelas palavras vindas do pai, tão severas e cruéis, era mais doloroso do que imaginava. Sua mãe permaneceu em silêncio, chocada, com lágrimas enchendo seus olhos.

"Pai, eu... eu não escolhi isso. Mas Deus me ama assim!" Rafa tentou argumentar, sentindo as lágrimas queimando seus olhos. "Eu sei que o Senhor me ama, mesmo que você não consiga entender."

O pai se levantou, com os punhos cerrados, como se a simples presença de Rafa fosse insuportável. "Não! Deus não ama isso, Rafa. Isso é pecado! Você tem que mudar, ou então..."

Ele não terminou a frase, mas as palavras não ditas pairavam no ar. Rafa sentiu seu coração se partir. Ele sabia que essa conversa seria difícil, mas a rejeição vinda de quem ele mais amava o deixou devastado.

Rafa saiu da cozinha com o coração esmagado, as palavras do pai ecoando como um trovão em sua mente. Subiu para o quarto sem olhar para trás, os olhos cheios de lágrimas. Com as mãos trêmulas, começou a colocar suas roupas em uma mala. Ele iria para a casa da tia Lena, uma mulher sábia e carinhosa, sempre aberta a discussões que seus pais evitavam.

Ao esvaziar o armário, seus dedos encontraram algo familiar: a Bíblia que ele sempre levava para os cultos. Por um momento, hesitou em abri-la. Mas, então, sentiu uma necessidade profunda de buscar respostas, de encontrar conforto nas palavras que o acompanharam por tanto tempo.

Com o coração pesado, abriu a Bíblia e, como se guiado por algo maior, caiu em versículos que falavam de amor, aceitação e de um Deus que conhecia seu coração.

Ele leu em voz baixa, como se as palavras fossem um bálsamo para sua alma ferida:

> "Porque estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa em toda a criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor."
- Romanos 8:38-39

As lágrimas caíram livres enquanto Rafa repetia aquelas palavras para si mesmo. Nada, nem o julgamento de seu pai, poderia separá-lo do amor de Deus.

> "Eu te amei com amor eterno; com amor leal a atraí para mim."
- Jeremias 31:3

Sentia que essas palavras eram para ele. Deus o amava com um amor eterno, um amor que não dependia de quem ele amava ou de como os outros o viam. Deus o havia atraído para perto d'Ele, e Rafa sabia que essa verdade era inabalável.

> "Vejam que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus! E de fato somos filhos de Deus. O mundo não nos conhece, porque não o conheceu."
- 1 João 3:1

Rafa sabia que, mesmo que o mundo não o entendesse, Deus o conhecia completamente. E, aos olhos de Deus, ele era Seu filho, amado exatamente como era.

Segurando a Bíblia junto ao peito, Rafa fechou os olhos e orou em silêncio. A dor ainda estava lá, mas junto com ela vinha uma certeza: Deus o amava. E esse amor seria o suficiente para levá-lo adiante.

Rafa e Jorge - O amor incondicional de Deus Onde histórias criam vida. Descubra agora