Capítulo 1.

189 25 25
                                    

⚠️ Contém menções de morte e acidente de trânsito.

Amaury arrasta os pés pelo chão do quarto, estava cansado depois do trabalho e depois de colocar as crianças para jantar, fazer tarefas escolares, escovar os dentes e dormir ele tomou seu banho relaxante para depois finalmente dormir.

O vapor do banheiro invadia um pouco o quarto, a luz amarela havia sido ligada para ajudar o sono chegar mais rápido e Amaury exalava aquele cheiro reconfortante de sabonete, um cenário bem aconchegante e acolhedor.

Amaury se joga na cama de casal, exausto. O impacto da força que usou ao deitar fez um dos quadros na escrivaninha ao lado da cama caísse no chão, e rapidamente ele junta para ver se havia quebrado.

Aquele quadro não pode quebrar, é a foto favorita dele com o amor de sua vida.

Diego.

Para a sorte de Amaury, o quadrinho de vidro não quebrou, ainda refletia claramente os sorrisos dos dois abraçados na primeira festa que foram juntos a oito anos atrás. Ele se deita novamente, segura o quadro contra seu peito e respira fundo.

- Sabe Di, hoje apesar de caótico como sempre acabou sendo um dia bom, só um pouco cansativo. - Começou a conversar com a foto do quadro, como sempre fazia ao final dos dias com seu amado: contar as novidades, bater um papo de casal. - Dia duro no trabalho, acabou comigo.

Realmente, Amaury gravou por horas e horas a fio, andando tanto por todos os lados possíveis do ProJac que agora sentia seus pés latejando, decide pegar algumas cobertas para deixar as pernas pra cima e estimular a circulação.

Diego sempre faria uma massagem em seus pés num desses dias.

- A saudade de você é visita frequente, pequetito. Todos os dias ela vem invadir meu peito como aquela sua tia que queria saber tudo sobre nós, se intrometer na criação das crianças e adorava pentelhar a gente. - Amaury ri, até das situações irritantes ele sentia falta, daria tudo pra ter a visita frequente da Dona Maria e ver Diego lidando com ela. - Ah, saudade da gente.

- Mas falando nisso, do resto até que eu tô dando conta. - Ele pensa em como está sendo forte, por ele, pela família dele e de Diego, não era fácil levantar todos os dias com a dor do luto te espancando frequentemente. - A Julinha ficou banguela ontem, ela foi muito corajosa pedindo pra eu puxar o dente mole com o barbante, sabia? Ela puxou a mim nessa parte, desculpa meu amor mas você é muito medroso e tem medo de sentir dor.

Amaury lembra de como Diego se foi, preso nas ferragens naquele acidente de carro. A vida dele não foi fácil mas sua morte foi injusta, alguém com pouca tolerância a dor teve que senti-la até que seu corpo não aguentasse mais.

- Era, era medroso.

A idéia de não ter mais Diego ali ainda não havia atingido Amaury, era angustiante falar sobre ele no passado.

- O Pedro só apronta, viu? Seu filho mesmo, ama fazer aula de música e até já pediu maquiagens porque viu algumas fotos suas montado e achou a coisa mais linda do mundo. - Ele se lembrou de todas as vezes que Diego se maquiava para alguma performance e Amaury gostava de apenas sentar ao lado e observar a arte surgindo na frente de seus olhos.

Diego sempre vai ser o significado de arte para Amaury.

- Nosso carrinho foi quitado, aquele que nós dois escolhemos juntos com nossos pequenos, lembra? Passamos tanto trabalho aprendendo a colocar as cadeiras de segurança pros dois, quase brigamos. - Amaury ri novamente, sentindo a primeira lágrima cair pelo lado esquerdo do seu rosto. As memórias boas também vem carregadas pela dor.

- Ah, terminei o livro que cê pediu pra eu ler. - Ele pega o citado na escrivaninha e folheia as páginas até chegar a específica onde tinha uma frase que ele queria citar. - O amor é fogo que arde sem se ver, eu vi você aqui. Vi nós, o que eu sinto por você. Um amor eterno, que nunca vai se apagar e enquanto eu viver vou levar você comigo, até a gente se encontrar de novo meu amor.

Amaury suspira novamente, as lágrimas ficam mais e mais pesadas, sua respiração falha, seu peito move num desepero difícil de controlar. Ele estava sozinho, odiava pensar isso pois seus filhos precisavam dele mas ele também precisava de Diego. Sua vida estava cinza, tinha medo de esquecer da voz de Diego, dos trejeitos dele, do seu humor, do seu cheiro.

Diego salvou a vida de Amaury num de seus momentos mais sombrios, mas Amaury não foi capaz de fazer o mesmo. Perdeu pra sempre o sol de seus dias e agora vive num eterno nevoeiro.

- Como que tá ai? De você faz tempo que não ouço nada. - Em meio aos soluços, Amaury enxuga as lágrimas com sua camiseta. Se Diego estivesse ali iria brigar por estar molhando o pijama e depois o tomaria em seus braços enquanto Amaury precisasse chorar. - Aposto que deve estar impressionando os anjos com sua risada alta e escandalosa. Como eu amava sua risada.

As lágrimas voltam calando Amaury novamente, ele chora tanto que acaba caindo num sono quando menos percebe, apenas sentindo uma mão fazendo um carinho leve em seu rosto e deixando um beijo em sua testa.

- Te amo, pra sempre. Você é meu orgulho. - Amaury conseguiu ouvir a voz de seu amor bem próximo ao seu ouvido, até despertou rapidamente mas volta a dormir assumindo que era o cansaço que estava lhe fazendo isso.

Ou talvez fora uma visita que só queria tranquilizar o seu grande amor e seguir para a vida eterna em paz.

impressionando os anjosOnde histórias criam vida. Descubra agora