. 𔘓 .MANUAL DE AMOR IMPERFEITO ❛ ˛ ❪ Chico Moedas ❫

002: Não aceite solicitações de fake

𖠯 ִMANUAL DE AMOR IMPERFEITO
꒰ ♡ ꒱ :Não aceite solicitações de fake !! ─── c𝗼ntαg𝗲m de palavras: 1169

O DIA NO TRABALHO tinha sido exaustivo, de tirar qualquer energia restante. Eu estava no ônibus, e, como alguém que mora no Rio de Janeiro, sabia que pegar o celular naquele momento seria um grande erro — especialmente no centro da cidade. Mas ele não parava de vibrar, e eu admito, a curiosidade me consumia. Estava ansiosa para descobrir quem era.

Respirei fundo e tentei ignorar as vibrações, focando em qualquer coisa além do meu bolso. Mas depois da terceira tentativa, não resisti. Com um movimento rápido e discreto, tirei o celular da bolsa e o segurei perto da perna, quase escondendo na jaqueta.

Desbloqueei a tela e, para minha surpresa, era uma solicitação de amizade. O perfil era estranho: sem foto, sem seguidores, e com um nome genérico que não me dizia nada. O mais bizarro? Havia curtido várias fotos minhas, inclusive as mais antigas. Fotos que eu mesma tinha esquecido.

Franzi a testa, o coração batendo mais forte. Quem faria isso? Pensei em ignorar, apagar e seguir em frente. Mas, por alguma razão, meus dedos pairaram sobre a tela, hesitantes. Será que deveria aceitar?

Contra todo o bom senso, aceitei a solicitação. Meus dedos moveram-se quase por impulso, como se uma parte de mim quisesse desvendar o mistério por trás daquele perfil estranho. O nome não me dizia nada, e a falta de informações só tornava tudo mais perturbador.

Assim que apertei "aceitar", não passou nem um minuto e a primeira mensagem chegou. O celular vibrou de novo, dessa vez com uma notificação direta. "Oi", apenas isso.

Um "oi" seco, sem emojis, sem contexto. Eu encarei a tela por uns segundos, tentando imaginar quem estaria por trás daquele perfil vazio. Sem seguidores, sem postagens, mas com aquele tipo de ousadia de quem já te conhece... ou finge que sim.

Dei uma olhada pela janela do ônibus, o caos do Rio passando rápido, enquanto meu estômago revirava em uma mistura estranha de curiosidade e nervosismo. Respirei fundo e digitei de volta:

@euhelenasonza
Quem é você?
          20:50
             

Assim que enviei a pergunta, o celular vibrou de novo. A resposta veio rápida:

@Franciscobic
Calma, garota, sou só um admirador Nada de susto não 😉
20:50

Fiquei ali, encarando a tela, tentando decidir se achava engraçado ou apenas estranho. Antes que eu pudesse pensar em algo, ele mandou outra:

@Franciscobic
Curti tuas fotos, pô. Tu manda bem nas poses. E essas legendas... cê tem jeito pra coisa.
    20:51

Soltei um riso de canto, meio sem querer. O tom desinibido dele, com aquele jeito carioca, parecia familiar, como se estivesse conversando com alguém de um bar do bairro.

Mordi o lábio, divertida com o jeito descontraído dele. Era um alívio ver alguém se destacando em meio à monotonia do dia.

@euhelenasonza
Admirador, é? E desde quando você é fã de fotos de estranhas na internet?
20:51

Pensei na possibilidade de estar falando com um doido, mas se tem uma coisa que o Rio ensina, é a nunca subestimar o humor carioca. E cá entre nós, a curiosidade só aumentava.

@Franciscobic
Pô, tá maluca? A gente curte ver a galera se divertindo! E cê tá na lista, hein! Além disso, eu curti as fotos, mas quem não gosta de ver uma gata na praia
     20:52

Era como se ele estivesse sentado do meu lado, tomando uma água de coco, com um sorriso no rosto.

@euhelenasonza
E você? O que faz da vida, além de s er admirador anônimo nas redes sociais?
      20:53.

O ônibus freou abruptamente, e eu me segurei na barra, tentando não cair em cima de um cara com cara de quem estava mais interessado na tela do celular do que no mundo à sua volta.

Ele apenas visualizou a mensagem e não respondeu. Isso, Helena, dando moral para um estranho da Internet. Melhor guardar esse celular antes que alguém me roube.

Coloquei o aparelho de volta na bolsa, enquanto esperava meu ponto chegar. O ônibus seguia seu percurso, e eu me perdi em pensamentos, tentando deixar de lado aquela interação estranha.

A noite seguiu tranquila, mas havia uma tensão no ar. Luísa, que sempre foi a estrela da casa, tinha um jeito de brilhar que deixava todos ao seu redor em segundo plano. E, bem, eu não era diferente. Não que eu me importasse tanto com isso, mas a pressão de ser a irmã de uma famosa não era fácil.

Enquanto a gente estava na sala, Luísa começou a falar sobre os próximos shows, mas eu ainda estava presa no pensamento de que a nossa conversa havia se transformado em algo mais, principalmente por causa do "Chico". Meu celular vibrou novamente, interrompendo a sequência de pensamentos.

— Desculpa, Lu, só um segundo — pedi, olhando para a tela. Era uma nova mensagem dele.

@Franciscobic
Só de boa. Me conta um pouco de você. Gosto de conhecer melhor as pessoas que admiro
     21:20

Olhei para Luísa e vi que ela estava observando com um olhar que dizia "não começa, não!". A tensão começou a aumentar entre nós.

— Olha, você precisa tomar cuidado com esse Chico Moedas — ela falou, quebrando o silêncio. — Não quero que você se envolva com ele.

Eu a encarei, confusa.

— Chico Moedas? Sério que você ainda tá nessa? — Minha voz saiu alta, carregada de indignação. — Ele te traiu, todo mundo já sabe disso! O país inteiro ficou sabendo, graças à sua "maturidade" em lidar com términos conturbados! E não, Luísa, não é o Chico quem tá mandando mensagem! Você sabia que existem outros caras no mundo além dos seus ex malucos e que, sim, eles podem gostar de mim?

Luísa franziu a testa, a frustração visível nos olhos.

— Para com isso, Helena! Você tá me dizendo que essa mensagem não é do Chico Moedas? — A voz dela subiu, carregada de incredulidade. — Você tá mentindo! Não vem com essa história.

— Eu não tô mentindo! — retruquei, sentindo o sangue ferver. — Você não faz ideia do que tá falando! Não é o Chico, é outra pessoa!

— Ah, claro, outra pessoa! É isso que você quer que eu acredite? — Luísa cruzou os braços, desafiadora. — Só mais um cara querendo te enganar!

A tensão no ar era palpável, e a sala parecia ficar menor a cada segundo. Respirei fundo, tentando manter a calma.

— Luísa, por favor, para de projetar suas frustrações em mim! Você não sabe nada do que tá acontecendo!

— E você acha que eu sou ingênua? — rebateu, com raiva. — Acha que esse "estranho" tá realmente interessado em você? Ele só quer te usar, igual ao Chico!

— Isso não tem nada a ver com o Chico! — gritei, exasperada. — Você tá errada! Não é porque você teve uma experiência ruim que todo mundo vai ser igual!

Fugi para o meu quarto, batendo os pés com força no chão. Uma vontade incontrolável de gritar com a Luísa me consumia. Por que ela não consegue entender? Eu não sou ela. Eu nunca vou querer ser ela.