Salvação

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Estou toda suada aqui, nesse calor horrível e clima abafado, dormindo em um chão duro e cheio de pedras que me machucam.

Benjamin se aproxima de mim com os olhos já vermelhos. Esse homem é totalmente descontrolado, só pensa em sangue. Mas por que o meu?

– Responda, bruxinha. – Sua voz é autoritária e não parece estar brincando quando me faz esse "pedido".

– Olá. – Respondo a contragosto, não escondendo minha cara de infelicidade.

Fecho meus olhos já sabendo o que vem a seguir: ele pegará meu braço ou meu pescoço e vai morder até tirar um monte de sangue de mim, e depois vai me dar água e eu vou sentir minha visão escurecer até que se apague por completo... Já estou me acostumando com esse ritual.

– Por quê? – Pergunto, sentindo sua aproximação. – Por que precisa tirar todo o meu sangue?

– Seu sangue é uma dádiva, bruxinha. Ele me deixa cheio de energia, me revitaliza. Não leve para o pessoal, não tenho nada contra você. – Tenta brincar e eu suspiro, me dando por vencida.

A cada segundo sinto que ele está mais perto de mim, até suas mãos tocarem minha clavícula: hoje é no pescoço mesmo.

Mas ouço um barulho estranho que me faz abrir os olhos imediatamente, e faz com que Benjamin recue. Ao olhar para a pessoa em minha frente, sinto meu corpo relaxar um pouco, mesmo que inconscientemente.

– Adriel... – Rosna Benjamin. – Como me encontrou?

– É porque você não sabe trabalhar direito, Benjamin. Como pôde ser tão tolo e deixar seu lencinho cair? – Adriel dá uma risada irônica e eu olho em seus olhos, que me encaram profundamente.

– Veio atrás da garota, não foi? Sinto em lhe informar que não vai ter.

– E quem vai me impedir mesmo? Você? – O desafia, se aproximando. – Vou te contar uma coisa... Detestei ver você chamando-a de bruxinha, afinal, esse apelido foi eu que criei. Ninguém toca no que é meu.

Arrepio com sua frase e falto me socar pela milésima vez desde que conheci Adriel, não era para eu gostar disso, era?

Mas ouvir ele me chamando de sua, dessa vez, me deixou sem fôlego. Estou tão desesperada para ir embora daqui que talvez meus sentidos estejam alterados.

– Sua nada, ela está comigo.

E então se inicia uma briga, Benjamin vai em direção à Adriel e os dois começam a desferir golpes que se fossem em humanos seriam mortais, mas apenas vejo os dois correndo rapidamente e se socando.

Meus olhos mal conseguem acompanhar a cena de tamanha velocidade que ocorre, mas percebo uma coisa: Adriel está em desvantagem.

Seu ombro está sangrando enquanto Benjamin crava os dedos ali, me fazendo encarar aquilo com nojo. Benjamin já me aparenta estar melhor, já que somente o seu nariz sangra.

Arqueio a sobrancelha sem entender, pois, pelo que eu sei, Adriel sempre foi o mais forte, por isso é o líder, ou era, já que para ser um líder é necessário ter um grupo.

Adriel me olha de relance e vejo um certo pavor se formar em seu olhar, tomando conta da escuridão dos seus olhos. Meu coração acelera freneticamente ao entender o que ele está tentando me dizer com aquilo.

Ele precisa da minha ajuda, parece que Benjamin não está tão fraco agora.

– Por que está tão forte, Benjamin? – Adriel questiona, conseguindo se livrar do aperto de Benjamin. – É o sangue dela, não é?

– Não lhe interessa. – Fala com ódio e tenta desferir outro soco em Adriel, que rapidamente desvia. – Achou o que? Que era o único que queria ela? Que eu deixaria você ser egoísta o suficiente para matá-la só para quebrar a sua maldição e nos deixaria sem uma única gota do sangue dela? Sempre tão egoísta, Adriel. Talvez merecesse mais que uma maldição.

– Não ouse falar isso, seu imbecil. – Adriel rosna, parecendo afetado pelas palavras ditas por Benjamin.

Então são essas as minhas opções? Ter meu coração arrancado ou virar comida de vampiro? Só vejo vantagens e coisas boas.

– Você tem tanta sorte em ser imortal, Adriel, senão eu te mataria agora mesmo.

– Sabe quem não é imortal? – Ele finge pensar e mostra seus dentes, fazendo com que as veias em seu rosto fiquem evidentes. – Você!

E então parte para um ataque final, fincando seus dentes no pescoço de Benjamin de uma forma cruel, sem ao menos dar espaço para o homem lutar. Meus olhos se arregalam de imediato e minha boca se abre.

Sua mão rapidamente se direciona ao peito de Benjamin e entra por sua pele, puxando seu coração para fora.

O nó em meu estômago aumenta ao ver a cena, mas pelo menos não foi Adriel que morreu e me deixou aqui nesse covil.

Ele joga o coração para o lado e o corpo de Benjamin cai ao chão, fazendo um som alto.

– Vamos para casa, bruxinha.

Ele limpa as mãos em sua calça e eu inconscientemente corro até ele com minhas últimas forças, me jogando em seus braços.

Mesmo apreensivo, sinto seu corpo relaxar e ele prender meu corpo entre seus braços, retribuindo o meu abraço de maneira suave.

– Não se preocupe, bruxinha, eu irei te proteger deles.

– E quem me protege de você?

Ele engole em seco, mas não me responde. Em um lapso pequeno de tempo, Adriel me coloca em suas costas e sai comigo da cela onde eu estava.

Meu coração está em suas costas e não consegue se aquietar por um segundo depois de tantas emoções que passei. No momento não quero saber para onde eu estou indo, porque pela primeira vez na semana eu não estou com medo, e necessito aproveitar isso.

Inspiro o cheiro de Adriel e deposito um beijo suave em seu pescoço após perceber que Adriel é mais parecido comigo do que eu pensava.

Assim como ele, eu iria longe pelos meus objetivos, nem que isso fosse a coisa mais egoísta que eu fizesse.

Ele arrepia com meu toque e eu dou um sorriso, sabendo que ele não está vendo.

– Obrigada.

Entre o amor e a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora