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— E então, seu pamonha, está gostando de ser o mandachuva na Mythpool, agora? Quando trabalhei lá, me lembro de você reclamando o tempo todo sobre como faria as coisas melhores se fosse diretor e blá-blá-blá.

Hmph. Honestamente, era difícil responder a pergunta de Yuna com já algum tempo como chefe da sede japonesa da polícia mitológica. Eu sei que ela não estava mentindo em relação as minhas queixas que no passado não deixei de fazer a uma coisa ou outra na organização, mas, vivendo como leão e não mais como antílope, as coisas que eu não tinha conhecimento se tornaram algo comum, e assim, realizar qualquer uma das sugestões que um dia enchi os pulmões para clamar, de fato não era viável.

E suco de groselha nos bebedouros demanda de um gasto no orçamento muito alto, se posso usar isso em minha defesa.

Enfim.

Nós estávamos em pleno verão, dia 4 de julho de 2022, e o mundo estava retornando à sua normalidade depois de uma crise espiritual, uma pandemia, um mago maluco, entre outros eventos de níveis catastróficos. E em momentos de tranquilidade como aquele, nada melhor do que ir à praia, não é mesmo?

Lá estávamos nós, Vosso Humilde Narrador e aquela que detém o título de Assassina de Youkais, em uma das praias de Okinawa, caminhando pela areia sob o sol escaldante enquanto observávamos as ondas do mar e jogávamos conversa fora.

Um belo montante de conversa despreocupada e sem sentido, diga-se de passagem.

Até que a hanyou levantou esse questionamento.

Estava eu, agente 3k1, gostando de ser o atual diretor da Mythpool?

Aquela pergunta agarrou minha mente em um turbilhão de pensamentos. Coisas como: se Suny estivesse viva, provavelmente seria ela quem estaria no meu lugar.

— Eu... não sei dizer — respondi. — Algumas coisas são diferentes quando olhamos de baixo, e depois, quando olhamos de cima.

— Hmm. Espero não ter tocado em um assunto delicado, seu pamonha. Se quiser mudar o tópico, eu também estou curiosa sobre a escolha que fez com esse seu calção todo florido. Não tinha para homem onde você comprou, não?

— Q-Quê?! Não tem nada de errado com ele, é só o estilo tropical. Foi o que a atendente da loja de departamentos disse.

— É, sei não, hein. Isso aí está mais pra estilo de quem agasalha pa...

— Pare de falar besteiras, Yuna, você está usando um biquíni dois tamanhos menor do que deveria, não tem direito de comentar sobre a estampa da minha bermuda.

Era como ela se encontrava ali, sobre as areias costeiras da Terra do Sol Nascente. A hanyou trajava um biquíni azul curto no ponto de cobrir apenas o que a faria cometer um atentado ao pudor; isso também dependendo do ângulo que você observava.

Suas coxas fortes não paravam de chamar a atenção, tanto dos que se banhavam na água salgada quanto daqueles que só estavam relaxando em suas cadeiras de praia; assim como seus glúteos brancos que seria até engraçado dizer que estavam cobertos por alguma coisa, visto a espessura das alças de seu traje de banho. E claro que, além disso, e de seu abdômen liso como uma pista de pouso, seu par massivo de peitos mal cabia por completo sob a peça de roupa que lhes envolvia, com tanto as partes internas e externas de seus seios vazando completamente do tecido. Mas, pelo menos, em sua cabeça, seu famigerado gorro cinza permanecia intocável.

— Meu caso é diferente do seu, seu pamonha, meus motivos são altruístas.

— Tsc, e quais motivos seriam esses?

— Veja, este mundo é um amontoado de estresse e tristeza reprimida e eu sou capaz de cortar esses sentimentos das pessoas graças a minha aparência magicamente aprimorada. Sendo assim, não há porque ficar me censurando tanto, não acha? Por isso, eu sempre compro numerações menores de lingerie e trajes de banho, para deixar mais pele à mostra, entende? Talvez sejam vestígios do exibicionismo de minha mãe que foram passados para mim junto dos poderes? É, talvez. Porém, se beleza impecável faz parte do meu arsenal por natureza, eu preciso usufruir disso.

— ......

Particularmente, eu não sei se poderia discordar da lógica de Yuna. Era certo que sua aparência era algo terapêutico, com seus olhos azuis que, mesmo transmitindo o perigo iminente de seu lado demoníaco, também transmitiam uma espécie de conforto vindo de seu lado humano. Todavia, sua formosura já era bem poderosa usando roupas mais casuais. Expor sua pele daquela maneira era quase como se ela quisesse lançar um feitiço de controle mental para todos que ousassem olhá-la por muito tempo.

— Sei lá, Yuna... eu já te conheço há muito tempo, mas me sinto um pouco desconfortável em andar com você desse jeito. Digo, você é muito bonita, já o meu design é totalmente genérico...

— Você nem tem design, nunca foi ilustrado oficialmente. Mas não esquenta com isso. Se eu aceitei perder meu precioso tempo aqui com você é porque eu gosto de estar com você.

— Eu não sei dizer se isso foi fofo, mas... obrigado, eu acho.

— ......

— Hmm, Yuna? O que foi?

Ela abruptamente parou. Simplesmente seus passos foram interrompidos e sua atenção fugiu de nosso diálogo para seja lá o quer que tenha sido.

Ela olhou para um lado e para o outro. Então, por cima de um ombro e depois do outro. Depois para o céu e daí para o chão.

Logo, ela começou a farejar o ar, como um cão à procura de drogas em um aeroporto de um país de terceiro mundo. E com isso, não demorou para que seus olhinhos preciosos fisgassem em seu campo de visão aquilo que ativara seus sentidos aguçados de caçadora paranormal.

Mais à frente de Vosso Humilde Narrador e de nossa querida Assassina de Youkais, uma garrafa se encontrava atolada na areia.

Yuna Nate: UmiOnde histórias criam vida. Descubra agora