A noite de ontem foi caótica, mas, sob hipótese alguma, poderia ser comparada com a de hoje. O sol acabara de se pôr, e o clima era de desespero.
Maria Eduarda vasculhava as mochilas insistentemente, todos elas, sem qualquer exceção. Procurava pelos celulares dos membros do grupo, os quais desapareceram sem deixar pistas. Um ladrão passou por ali e os roubaram? Seria de muito mal gosto.
A hipótese do ladrão foi descartada, e a da pegadinha perdia força a cada minuto. Ana Caroline não havia sido vista por ninguém desde a madrugada.
— Tem certeza que não sabe? — bufando, o homem loiro se senta recostado em um tronco de árvore, encarando Henrique.
— Já disse, não faço ideia — cochicha de volta. — A Carol estava para ser estuprada pelo… Victor — engole em seco e fala ainda mais baixo, se agachando.
— São namorados, talvez estivessem se divertindo.
— O quê? — abre as mãos. — Ela não queria e o Victor estava a obrigando.
Um pouco longe dos dois, o próprio Victor pareceu ouvir e encarou o menino de cabelos cacheados com firmeza. Praticamente era visível uma onda de ódio se formar no peito do homem negro, e isso fez Henrique desviar o olhar, hesitante, enquanto via os passos dele se aproximando.
— Foi o último a ver ela ontem, Rickzinho — o tom debochado e agressivo é evidente na fala. — E aí, parça, depois disso, ela some!
Chuta um arbusto, fervendo em ódio, assustando Henrique. Bruno apenas encara serenamente o ódio dele.
— Não — Henrique se pronuncia, hesitante, e os olhares dos dois rapazes se voltam para ele. — Já disse… ela voltou sozinha, eu fiquei na floresta. Quando entrei na cabana, ainda faltavam duas pessoas… — encontra coragem para reerguer o rosto. — Victor, você continuou com ela.
— Repete e quebro seus dentes! — fecha a mão, prestes a realizar o ato, mas o levantar de Bruno o obriga a se conter. — Está dizendo que fiz algo com Carol?!
— Tentou estuprá-la, e…
— Como eu posso estuprar minha própria namorada? Se ela é minha, então podemos fazer sexo, oh homem feminista — insulta o garoto, que revira os olhos. — E por que não seria você? — Henrique arregala os olhos, apontando para si próprio em surpresa. — É, você! Tava esse tempo todo com ciúmes de nós dois! A matou ma floresta e então…
— Que acusação convicta da sua parte — Bruno toca o peito do acusador, o encarando nos olhos. — Geralmente precisamos de provas pra afirmar isso.
— Que porra de prova! — afasta a mão dele. — Esse pau no…
— Conhecendo sua conduta, Victor, não me surpreenderia — interrompe. — Agressão física, agressão sexual. O quão longe está de um homicídio? — ele abre a boca, mas som nenhum sai dela, enquanto Henrique os observa. — Sabe do que estou falando — disse em rispidez.
Ambos observam a menina de pele parda quase se descabelando em desespero.
— Peguem suas lanternas — passa por Victor. — Com certeza não foi longe, todas as coisas dela ainda estão no acampamento.
Os outros dois, rivais de infância, se encaram com repulsa.
Deixando isso de lado, Henrique banca o maduro da história e também passa por ele, indo até a cabana. Sim, de fato, todos os pertences dos membros do grupo estavam ali, inclusive os da desaparecida, realmente com exceção dos celulares. Isso é ainda mais preocupante, afinal, para onde Carol teria ido sem os pertences? Um frio na espinha surge só em pensar que isso pode indicar que um crime realmente aconteceu. Guiados pelo instinto, e conhecimento que cada minuto é valioso, todos pegam suas lanternas, iluminando o caminho. Estavam dispostos a encontrar Carol com vida quanto antes, e os olhos atentos da melhor amiga da mesma, por mais que revelassem desespero, mostrava ao grupo tal urgência.
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Apostas Mortais
HorrorHenrique é um universitário recluso e antissocial, morador de Salvador, que decide fazer deste começo de ano algo diferente. Ele aceita acampar com mais quatro colegas no interior da Bahia, mas o que o grupo não esperava era uma série de apostas mor...