Capítulo III

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Um mês havia se passado desde o evento beneficente. De lá até aquele momento, Sasuke fez o possível para esquecer a situação. Acordava mais cedo para pedir perdão e ficava até tarde na igreja. As confissões eram uma das poucas coisas que estavam conseguindo o distrair. Lidar com a parte administrativa da paróquia e com as reuniões não o faziam tirar a mente do mesmo assunto.

Sakura.

Ela havia sumido, completamente. Ele não tentou procurá-la, o que ele seria se o fizesse? Nem deveria se quer cogitar aquilo. No entanto não a via mais como antes, não esbarrava com ela e sequer a encontrava quando saía com os outros. Em um evento da igreja que aconteceu alguns dias depois, ele imaginou que ela poderia aparecer, mas apenas Mebuki estava lá e como se todos soubessem o que ele havia dito a ela, ninguém sequer mencionava o nome de Sakura em uma conversa com ele. Se pegou passando pela frente do Studio mais vezes do que o normal e nunca a via, o vidro escuro impedindo de enxergar qualquer coisa que tinha lá dentro.

Ele andava bastante mal-humorado, todos perceberam. Passou a escutar piadas do tipo "você está mais azedo que o normal" por parte dos amigos e irmão.

Houve uma situação, aquela em que Hinata estava comentando com Izumi sobre tatuagens e mostrou o perfil de Sakura para a cunhada do Uchiha, atraindo a atenção dele para a conversa, uma em que ele julgou ser a única que falavam abertamente de Sakura. Apenas isso, mas era o que ele tinha pedido, certo? Sequer deveria cogitar uma reação contrária. Mas por que se sentia tão frustrado?

Prova disso era o perfil "Harunoink" sempre como o primeiro sugerido em sua rede social que ele normalmente passava semanas sem usar. No último mês, entretanto, isso mudou e a frequência de uso aumentou em cem porcento.

Ele suspirou, lavando as mãos e jogando um pouco de água no rosto. Haviam algumas olheiras embaixo dos olhos. Era extremamente difícil lidar com a própria mente e mesmo estudando psicologia e sendo padre ele ainda assim não conseguia compreender. Ele sempre quis aquilo, desde que se entendeu como ser humano e filho de Deus, sabia que não era como os jovens da sua idade. Então porquê?

Mesmo que a resposta pairasse em seus pensamentos, Sasuke chacoalhou a cabeça tentando espantá-los, se sentindo cada vez mais conturbado.

Saiu do banheiro e caminhou pelo corredor até a salinha onde ficava o confessionário. Segundo o acólito haviam apenas três pessoas naquela noite e ele se sentiu agradecido, estava um pouco cansado naquele dia e temia não conseguir se doar o suficiente para os fiéis.

Ouviu a primeira senhora com atenção, ele a conhecia apenas pelo tom de voz e estava acostumado à sua visita toda semana. O rapaz que veio a seguir estava arrependido por ter tratado mal a esposa, tinha medo que ela parasse de amá-lo. Sasuke sabia que o medo muitas vezes era o que guiava as pessoas a agir, contudo, explicou que tratá-la mal causaria exatamente o que ele temia e o aconselhou da melhor forma possível o dando a penitência ao final.

Suspirou quando ele saiu, sabendo que poderia ir para casa assim que ouvisse a confissão da próxima pessoa.

Ele ficava em um pequeno quadrado com a porta fechada, a outra pessoa entrava por outra porta e entre eles tinham a grade de confissão os separando para dar privacidade ao fiel. A porta foi aberta e a pessoa entrou, se sentando.

- Que o Senhor esteja em teu coração e em teus lábios, para que confesses teus pecados com verdadeira humildade e arrependimento. Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém – ele iniciou.

Houve um breve silêncio do outros lado e Sasuke inspirou brevemente. Franziu o cenho quando sentiu o aroma cítrico de flor de laranjeira e sândalo, uma coceira em sua língua e um arrepio em sua espinha o deixaram em alerta.

Perdoe-me, Pai, pois pequeiOnde histórias criam vida. Descubra agora