Seus olhos azuis cintilavam pura confusão enquanto se encaravam no reflexo do pequeno espelho do banheiro, onde se refugiou ao entrar em um apartamento grande e de aparência clandestina. Sua mão ergueu-se até as pontas de seu cabelo, sedoso e escuro — mais escuro do que se lembrava, e curto... Curto como nunca fora antes.
Os dedos mergulharam na cabeleira e deslizaram até as pontas, que ficavam um pouco abaixo de sua mandíbula. Seus cabelos deveriam ser longos, já que passou dois anos inteiros dentro de um tubo. Eles cresceram, assim como seu corpo esguio, sem interferência. Era o que pensava.
Mas lá estava ela, encarando seus cabelos cortados em um estiloso Chanel. Poderia até gostar do corte, se isso não a estivesse deixando maluca.
Seus dedos pararam na gola do tecido negro que cobria todo o seu corpo, como um traje de combate. Esticou e soltou; um baque baixo ressoou no banheiro quando o tecido se chocou contra seu pescoço, fazendo sua pele arder.
A garota não gostou daquela sensação. Dor... Ela não deveria sentir algo tão medíocre quanto um peteleco. E os pequenos tremores que percorriam seu corpo, como se uma brisa gelada passasse constantemente por ela, indicavam que sentia frio.
Lembrou-se de um momento não tão distante, quando sentiu dor física pela primeira vez.
Embora seu corpo híbrido de kryptoniano e humano devesse ter uma resistência incrível, uma fadiga estranha começou a surgir. Estranhou essa sensação, mas continuou correndo, ignorando os sinais de cansaço que invadiam seus músculos. O medo ainda dificultava entender suas habilidades.
A confusão aumentava enquanto ela tentava processar a sequência de eventos desconcertantes, movendo-se apressadamente entre fileiras de plantas que desapareciam, dando passagem a um terreno irregular. O solo úmido e revolvido, marcado por um rastro esquisito, tornava sua fuga ainda mais difícil. Cada passo era uma luta, com as plantas de milho amassadas e espalhadas pelo chão, testemunhas mudas da turbulência que ocorrera momentos antes.
Uma das plantas se enroscou em sua bota, quase a levando ao chão, mas rapidamente se recompôs e continuou seu caminho.
Como se não bastasse, seu corpo colidiu com uma forma invisível, uma barreira sólida que pareceu surgir do nada. O impacto foi brusco, lançando-a contra o chão. Soltou um som esganiçado, sentindo a dor se espalhar pelo corpo, especialmente na testa, que parecia protestar.
Uma leve vibração ressoou pela estrutura oculta, pulsando como um coração invisível. A energia ao seu redor era intensa, quase como um eco sussurrante que a convidava a se conectar. Mesmo sem vê-la, sabia que algo grande e poderoso estava ali.
— Projeção holográfica de camuflagem natural... — murmurou, tocando a superfície. De repente, a camuflagem desapareceu e a nave negra se revelou diante de si, mas seu pequeno sorriso sumiu quando um clique metálico estalou no ar e uma rampa começou a se abrir bem em cima dela, desdobrando-se com um suave zumbido. — Droga!
Instintivamente, arrastou-se pelo chão, engatinhando rapidamente para trás, desesperada para se afastar da rampa pesada que descia. Confusa e aturdida, levantou-se e encarou a entrada da grande nave. Sem tempo a perder, entrou. Precisava de respostas, e sabia que sempre havia um mapa dentro das naves. Precisava descobrir onde estava e, quem sabe, usar aquele quinjet para chegar onde deveria.
Tudo poderia dar certo.
Mas tudo deu errado.
Seu nariz se franziu levemente, em algo que parecia desprezo. Foi esse sentimento que tomou conta de seu olhar antes de apoiar as mãos na pia extensa e se inclinar para baixo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Fallen
Science FictionAssim que um forte clarão rasga o véu entre as estrelas e a Terra, uma figura enigmática é lançada em um milharal qualquer de Sevilha. Ao mesmo tempo, sua mente luta com a dualidade de memórias passadas e a incerteza do presente. Quando Natasha Roma...