✧.• Prólogo

9 2 0
                                    



Tɦɛ Gʀɛɑt Gig iɳ tɦɛ รky
●――――――――――――――――― 
0:00                          ⊲ ▶ ⊳                             -4:43




Ninguém se preocupa com a morte. Ainda que sinta um temor no âmago ao ínfimo pensamento de deixar para trás a vida que construiu — repleta de sonhos ainda não realizados e ambições despedaçadas — não é a morte que teme.

É a incerteza.

A dubiedade sobre o que está do outro lado — o que acontece no pós-morte? — e a possibilidade de que tudo se dissipe em uma névoa de insignificância, é o que realmente faz cada indivíduo esquivar-se de qualquer situação que possa lhe ceifar a vida.

Logo, não é perder a vida que receiam, mas sim se realmente existe um céu ao qual tanto é pregado, um lugar onde poderão repousar dignamente, ou então, se serão condenados a queimar no enxofre do inferno para pagar por cada pecado que cometeram em vida, por menor que fosse.

Entretanto, nada disso passou em minha mente quando encarei a morte com meus próprios olhos.

Não era um espírito maligno à espreita e esperando à hora apropriada de ceifar uma vida, como outros pensavam.

No exato momento que a morte apareceu para mim, tinha olhos vermelhos como sangue, sedentos. Dentes afiados umedecidos de saliva brilhavam aos feixes miúdos de luz que cortavam a penumbra da sala por entre a janela. O odor da respiração ofegante penetrava minhas narinas, queimando o fundo da garganta, um misto nauseante de carne pútrida e sangue fresco.

— T-taehyung... — A voz conhecida e aconchegante clamava por mim, repleta de profunda agonia, pronunciando as sílabas de maneira sôfrega.

A visão turva impedia-me de enxergar, a falta de iluminação decente fazia um trabalho precário. Mesmo tentando buscar seus olhos ali, no meio da sala ligeiramente vazia, prestava atenção à sombra da morte que crescia sobre mim, avançando a passos cautelosos.

Cada batida arrebentava vigorosamente no interior do peito, em um frenesi ritmado com as pulsações ao ouvido. O ar raso e difícil de adentrar meus pulmões, arranhando a garganta, mais áspero a cada fôlego.

Minha cabeça processava o tudo e o nada ao mesmo tempo. Queria salvá-la, custasse o que tivesse que custar. Todavia, meus instintos gritavam ensurdecedoramente dentro de mim, enviando alertas por todos os músculos, gritando: "Corra! Corra o mais rápido que puder. O mais longe possível!"

Por muito tempo apeguei-me às artimanhas e instruções que haviam sido transmitidas por minha mãe. "Imagine isso dentro de você como um pequeno círculo de luz. Segure-o com suas mãos e se visualize guardando-a dentro de um baú, como quem guarda um segredo com a vida. Amarre uma corda e dê um nó apertado."

Havia funcionado por tempo suficiente; mudanças recorrentes àquele cárcere mental foram necessárias para comportar tamanha luz que expandia sem medidas. Minha força vital se esvaía a cada novo ciclo, a cada alteração, tornando-se indispensável de atenção única, ou então tudo estaria perdido.

Então, certo dia, aconteceu.

Parecia ser apenas mais um dia, uma rotina previsível. O som dos pássaros preenchendo a manhã, suas melodias ecoando entre as vielas, perdidas no burburinho costumeiro da cidade despertando. Pessoas vivendo suas próprias histórias, cada uma delas, imersas em seus universos particulares com preocupações individuais.

Contudo, todos sabiam: era dia de lua cheia. Notícia que precedia horrores brutais. Gritos suplicantes de ômegas desprotegidos sendo caçados como animais por alfas que se julgavam seres superiores, agindo conforme seus instintos mais sombrios.

Dance of Ravens & Wolves | KTH + JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora