Angry (Souya Kawata)

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Avisos: A personalidade do Angry vai estar um pouco modificada.



Era o último ano do ensino médio, e Sn Kurotsuchi não via a hora de se formar. Como representante estudantil, seu trabalho era interminável: organizar eventos, ajudar professores, resolver conflitos entre alunos. Era difícil, exaustivo, e ela sabia que ninguém mais na escola se importava tanto quanto ela. No entanto, enquanto seus amigos e colegas aproveitavam os últimos momentos da adolescência, ela se afundava em papéis e responsabilidades, lutando para encontrar alguém capaz de continuar seu legado quando ela se formasse.

Mas encontrar um sucessor era uma tarefa quase impossível. Ninguém parecia entender a seriedade do trabalho. Ninguém, exceto Souya Kawata, mais conhecido como Angry.

Angry era tudo o que seu apelido sugeria. Com uma expressão naturalmente séria e uma fama de ser o "mais quieto" da gangue que ele e seu irmão, Smiley, faziam parte, poucos ousavam se aproximar dele. Para Sn, no entanto, ele sempre foi mais do que a imagem de durão. Ela o conhecia de longe, observando como ele cuidava das pessoas ao seu redor, sempre discreto, sempre atento. Ele parecia ser o tipo de pessoa que, apesar de não querer se envolver, sabia o que era responsabilidade.

Certo dia, enquanto revisava mais um pedido de orçamento para o festival de fim de ano, Sn estava tão absorta em seu trabalho que nem notou quando Angry entrou na sala do conselho estudantil.

— Você está sempre aqui, né? — A voz baixa e calma de Souya a tirou de seus pensamentos.

Sn levantou os olhos e viu Angry encostado na porta, com as mãos nos bolsos. Seu olhar era o de sempre, tranquilo, mas com uma intensidade que ela nunca conseguiu decifrar completamente.

— Sim... — Sn suspirou, esfregando as têmporas. — Acho que alguém tem que estar, não é?

— Não deveria fazer isso sozinha — ele comentou, caminhando até a mesa cheia de papéis. Ele pegou um folheto e o examinou casualmente. — Tem muita coisa aqui pra uma pessoa só.

Ela deu uma risada cansada e se recostou na cadeira.

— Se você soubesse o quanto eu tentei encontrar alguém que se importasse com isso... Mas ninguém liga. É o último ano de todo mundo, e parece que eu sou a única que ainda leva a escola a sério.

Angry colocou o folheto de volta na mesa e a observou por um momento. Havia algo em seus olhos que a fez sentir que ele entendia. Mais do que qualquer outra pessoa, ele sabia o peso que ela carregava.

— Por que não pede ajuda? — ele perguntou simplesmente.

Sn piscou, surpresa. Pedir ajuda? Aquilo não era algo que ela fazia. Sempre foi a pessoa que resolvia as coisas por conta própria. Depender de alguém parecia... arriscado.

— Eu não quero incomodar ninguém — respondeu, sem muita convicção.

Angry se aproximou e sentou-se na cadeira ao lado dela, cruzando os braços.

— Eu posso ajudar. Se você me ensinar o que precisa ser feito.

A proposta a pegou de surpresa. Ela nunca imaginou que alguém como ele, tão envolvido com sua própria vida e problemas, ofereceria seu tempo para algo tão... chato, pelo menos aos olhos da maioria. Por que ele faria isso?

— Você realmente quer fazer isso? — Sn perguntou, sem conseguir esconder o ceticismo na voz.

— Você é a única que leva esse trabalho a sério — ele disse, sem rodeios. — E não parece certo deixar você fazer tudo sozinha.

As palavras dele atingiram algo profundo em Sn. Pela primeira vez, alguém reconhecia o esforço que ela fazia. Alguém entendia. Um pequeno sorriso, o primeiro em dias, surgiu em seu rosto.

— Certo... — ela murmurou. — Vou aceitar sua ajuda, mas não se arrependa depois. Eu posso ser uma chefe bem rígida.

Angry deu de ombros, sem perder a compostura.

— Eu aguento.

Nos dias que se seguiram, Souya começou a passar mais tempo com Sn, ajudando-a com as tarefas que ela antes assumia sozinha. O trabalho não era fácil, mas com ele ao seu lado, tudo parecia um pouco menos pesado. Enquanto ela o ensinava sobre a papelada e a logística dos eventos, ele mostrava uma atenção aos detalhes que Sn não esperava.

— Você tem uma paciência incrível — ela comentou um dia, enquanto organizavam um planejamento para o festival.

— Eu tive que aprender — respondeu ele, sua voz calma como sempre. — Cuidar do meu irmão e da gangue não é exatamente fácil.

Sn o olhou com mais atenção, tentando entender mais sobre aquele garoto silencioso, cujas ações sempre falavam mais alto que as palavras. Ele carregava seu próprio peso, assim como ela. E talvez, naquele último ano, eles pudessem dividir esse fardo juntos.

Com o passar do tempo, Sn e Angry começaram a se conhecer de verdade. Ela viu que, por trás da fachada séria e reservada, havia alguém que se importava profundamente com os outros, alguém que colocava o bem-estar das pessoas à frente de seus próprios desejos. Ele, por sua vez, passou a admirar a força silenciosa de Sn, sua capacidade de liderar e sua determinação de nunca desistir, mesmo quando parecia estar sozinha.

E assim, no caos do último ano do ensino médio, Sn encontrou em Angry algo que não esperava: um aliado, alguém que não apenas a ajudava com suas responsabilidades, mas que também a entendia de uma maneira que ninguém mais conseguia. Juntos, eles enfrentaram as pressões de suas vidas e, aos poucos, construíram uma conexão que ia além do trabalho. Talvez até algo amoroso.

Nos dias que antecediam a formatura, enquanto o festival se aproximava e o peso das expectativas começava a se dissipar, Sn olhou para Souya e sorriu, com a certeza de que, mesmo que seus caminhos seguissem rumos diferentes após a escola, o que eles construíram juntos naquele último ano permaneceria.

— Obrigada, Souya — ela disse, em um momento tranquilo entre as obrigações.

Ele a olhou, com aquele olhar calmo que sempre carregava, e respondeu de forma simples, mas sincera:

— Não precisa agradecer, Sn. Eu só fiz o que precisava ser feito.

E, por alguma razão, aquelas palavras significavam tudo.

⁍𝐈𝐦𝐚𝐠𝐢𝐧𝐞 𝐓𝐨𝐤𝐲𝐨 𝐑𝐞𝐯𝐞𝐧𝐠𝐞𝐫𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora